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EUA

Rivais republicanos de Trump têm tarefa ingrata de defender maior concorrente nas primárias de 2024

Pré-candidatos foram pressionados para demonstrar apoio rapidamente, caso contrário corriam risco de serem vistos como párias dentro do partido

Donald Trump Donald Trump  - Foto: Bryan R. Smith / AFP

No confuso universo republicano para a eleição presidencial de 2024, o temor há semanas se sobressaía a qualquer sensação de oportunidade frente à expectativa de novas acusações criminais contra o ex-presidente Donald Trump. O antigo mandatário, líder nas intenções de voto para abocanhar a nomeação do partido, disse que elas vieram na quinta-feira (8), referentes ao caso dos documentos sigilosos retirados da Casa Branca quando seu governo chegou ao fim.

Após anos de escândalos sucessivos, os instintos imediatos de muitos eleitores republicanos já estão completamente enraizados. Eles correm para defender Trump, independentemente do quão absurdas são as acusações ou de quem as realizada — a oposição democrata, a imprensa tradicional, a Justiça estadual ou, agora, procuradores federais. As doações para a campanha trumpista dispararam após o ex-presidente se tornar réu em Manhattan há dois meses em um caso paralelo.

Depois de sentar-se no banco dos réus para ser imputado pela Justiça nova-iorquina de 34 imputações referentes a três casos relacionados à falsificação de registros comerciais antes das eleições presidenciais de 2016 — incluindo o suposto suborno de US$ 130 mil da atriz pornô Stormy Daniels —, sua liderança nas pesquisas consolidou-se ainda mais. Hoje, segundo o compilado do site RealClearPolitics, tem 53,2% das intenções de voto para abocanhar a nomeação republicana, contra 22,4% do vice-líder, o governador da Flórida, Ron DeSantis.

Até mesmo republicanos proeminentes que estão ávidos para desvincular o partido da figura do ex-presidente estavam preocupados antes do anúncio das acusações. Há muito meses estão exasperados com a imunidade que a base trumpista apresenta a quase qualquer ataque ou argumento, correndo para neutralizar qualquer percepção de ameaça política quase que por hábito.

— Há muitas pessoas que simplesmente não engolem nada disso — disse em uma entrevista recente Chris Sununu, governador republicano de Nova Hampshire, que anunciou nesta semana que não irá concorrer nas primárias do partido. — Os democratas ficam fazendo drama: "ah, não, não. Mas agora isso é real" (...). Criou uma situação em que muitos eleitores republicanos intuitivamente ignoram quaisquer críticas ao ex-presidente.

Na noite de quinta-feira, os rivais de Trump imediatamente se depararam com a escolha desconfortável de se juntar ao coro de conservadores que rapidamente se alinharam ao ex-presidente ou possivelmente passar a percepção de que não estavam no lado republicano em um momento de polarização acentuada. Quem se pronunciou, o fez a favor de seu maior rival nas pesquisas.

Sem defender explicitamente Trump, o vice-líder nas intenções de voto nas primárias, DeSantis, disse que "o uso da aplicação da lei como arma representa uma ameaça mortal a uma sociedade livre". Já o senador Tim Scott, da Carolina do Sul, falou sobre a "utilização do Departamento de Justiça como arma" em uma entrevista ao canal conservador Fox News que já estava marcada antes das acusações:

— Você não precisa ser republicano para ver injustiça — afirmou.

Já Vivek Ramaswamy, empresário que faz uma campanha linha-dura, mas com chances remotas de sucesso, foi além, prometendo imediatamente perdoar Trump caso seja eleito presidente no ano que vem. A exceção foi o ex-governador de Arkansas, Asa Hutchinson, que está nas margens da disputa apostando nos valores partidários que foram eclipsados pela ascensão de Trump. Ele pediu para que o concorrente abandone a disputa.

A maior parte dos republicanos, comentaristas conservadores e aliados de Trump aumentaram imediatamente a pressão para uma frente unida após as acusações, que emanaram de um conselho especial nomeado por um Departamento de Justiça que responde diretamente ao presidente Joe Biden. No Breitbart, um site conservador, a manchete dizia: "O ápice da caça às bruxas".

Uma comissão de arrecadação de fundos partidários pró-Trump divulgou declarações de mais de 50 ocupantes de cargos públicos pelo país e figuras conservadores. Tudo isso apenas quatro horas após o ex-presidente anunciar por conta própria que seria alvo de novas acusações, algo que a Casa Branca e o Departamento de Justiça ainda não confirmaram.

"Isso só vai causar uma tempestade de apoio", disse o ex-estrategista trumpista Steve Bannon, que hoje é âncora de um programa de streaming popular com a extrema direita americana. "Seria certo para os rivais se juntarem [ao movimento]."

Trump arrecadou US$ 4 milhões nas primeiras 24 horas após se tornar réu no caso nova-iorquino. Sua campanha enviou o primeiro apelo por doações menos de 30 minutos após o anúncio das acusações mais recentes.

Há dúvidas de longo prazo mais amplas sobre as consequências políticas das acusações, mais uma bagagem para um ex-presidente que foi alvo de dois processos de impeachment e, agora, é réu em dois processos criminais diferentes.

E então há o risco judicial em si: os pormenores das acusações ainda são desconhecidos, mas fontes afirmaram ao New York Times que incluem a retenção proposital de documentos com segredos de defesa, em violação da Lei de Espionagem, fazer declarações falsas e conspiração para obstrução de Justiça.

Ainda assim, no canal conservador Fox News, líder de audiência da televisão paga americana e extremamente popular entre os eleitores republicanos, a cobertura foi quase universalmente em tom de incredulidade diante das sete acusações no âmbito federal contra Trump.

Um apresentador, Mark Levin, disse que "8 de junho é o dia da insurreição, não 6 de janeiro", referindo-se à invasão do Capitólio por turbas trumpistas em 6 de janeiro de 2021, durante uma sessão conjunta que confirmaria a vitória de Biden na eleição do ano anterior.

A emissora repetia também segmentos sobre transgressões e escândalos democratas que não terminaram em acusações judiciais, como os e-mails de Hillary Clinton e os documentos sigilosos que Biden levou irregularmente consigo ao deixar à Vice-Presidência em 2017 — ao contrário de Trump, contudo, aparenta tê-los devolvido assim que o erro foi identificado.

Outro apresentador, Pete Hegseth, instou os rivais do ex-presidente nas primárias republicanas a viajarem para a Flórida em apoio ao correligionário em uma audiência supostamente marcada para a semana que vem:

— Todos os pré-candidatos republicanos devem estar em Miami na noite de terça, apoiando [Trump], apoiando a Justiça no nosso país. Dizendo "eu posso estar concorrendo à Presidência", seja Mike Pence, Tim Scott, Nikki Haley, quem quer que seja, Ron DeSantis, "mas isso é injustiça" — disse ele. — Eu não acho que eles agora tenham qualquer chance, considerando o que Trump enfrenta.

A deputada Nancy Mace, da Carolina do Sul, republicana que por vezes foi crítica vocal de Trump, deu declarações similares à emissora:

— Eu hoje acredito que, nesta noite, Joe Biden acabou de garantir a nomeação de Trump para [representar] o Partido Republicano em 2024 — afirmou ela.

O presidente da Câmara, Kevin McCarthy, deputado que é o principal republicano no Congresso, também se juntou à frente unida, afirmando que apoio ao ex-presidente deve superar desavenças políticas.

"Eu e todos os americanos que acreditam no Estado de Direito estamos ao lado do presidente Trump", tuitou o deputado californiano.

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