Quem é Rivaldo Barbosa: delegado é acusado de atrapalhar as investigações do caso Marielle
Vereadora e o motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros em março de 2018
O delegado Rivaldo Barbosa pode ser tornar réu por envolvimento na morte de Marielle Franco (Psol) e de seu motorista Anderson Gomes nesta terça-feira.
A denúncia do caso dos assassinatos será julgada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a partir das 14h30.
Segundo as investigações, ele teria sua autoridade como chefe de Polícia Civil “para oferecer a garantia necessária aos autores intelectuais do crime de que todos permaneceriam impunes”.
O delegado foi preso em março pela Polícia Federal.
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Além de Barbosa, outros quatro suspeitos também foram denunciados pelos assassinatos. São eles: o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido) e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Brazão, o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira e o assessor do conselheiro, o Robson Calixto da Fonseca, conhecido como Peixe.
Delegado teria atrapalhado investigações
Ao ser ouvido pela Polícia Federal no início deste mês, o delegado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa negou ter planejado o homicídio de Marielle Franco e de ter atuado para proteger os supostos mandantes do crime. O delegado foi chefe de Polícia Civil durante as investigações do assassinato, de março a dezembro de 2018.
Segundo a delação de Ronnie Lessa, Barbosa deu o aval aos irmãos Brazão de que o crime ficaria impune. O ex-PM chegou a detalhar como o crime teria sido acertado com o delegado, o que evitaria posteriores tentativas de extorsão por parte dos investigadores.
"Lessa justifica que a carta-branca outorgada por Rivaldo aos irmãos Brazão é uma forma mais segura de se cometer homicídios na capital fluminense, tendo em vista que o ajuste prévio tem o condão de evitar um 'bote', ou seja, extorsão decorrente de investigadores em face dos homicidas para que seus crimes não sejam devidamente investigados", escreveu a PF no relatório da investigação.
Segundo Lessa, a única exigência imposta por Barbosa aos irmãos Brazão era de que nem o monitoramento de Marielle, nem a execução do homicídio poderiam partir da Câmara de Vereadores. "Não pode porque Rivaldo não quer", teria dito Domingos a Lessa.
Obstrução da investigação
À época, o advogado Marcelo Ferreira, que representa Barbosa, disse que o delegado "nunca esteve com essas pessoas, não conhece essas pessoas. Ele entregou o celular dele para a Polícia Federal com todas as senhas e isso nunca foi levado em consideração. Cadê as conversas que teria tido com ele?".
Foi Rivaldo também quem levou ao titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Giniton Lages, encarregado do caso e escolhido por ele, a informação de que três delegados da Polícia Federal teriam conseguido achar uma suposta testemunha do crime, mas se tratava de uma farsa, o que foi comprovado pela PF numa apuração paralela, conhecida como "investigação da investigação'".
Na primeira fase do caso Marielle, Rivaldo ligou para Giniton e mandou que ele interrogasse o então policial militar Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha, apresentado como testemunha de uma conversa entre Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, e o vereador Marcello Siciliano, em que teriam planejado matar a vereadora.
Mas a versão era falsa, como foi confirmado, dez meses depois, numa apuração paralela da Polícia federal, que ficou conhecida como "investigação da investigação".
Reuniões com políticos
Dias depois da morte de Marielle, Rivaldo se reuniu com parlamentares da bancada do PSOL para garantir que o crime seria esclarecido o mais rápido possível. Em entrevista, o delegado chegou a dizer: "Nós estamos no caminho certo. A complexidade está na forma de atuação dos assassinos. Mas, a gente está fazendo de tudo para esclarecer essa atividade criminosa".
Antes de ser chefe de Polícia Civil, Rivaldo foi subsecretário da Subsecretaria de Inteligência da Segurança, durante um período quando o secretário de Segurança era o delegado da Polícia Federal José Mariano Beltrame, na gestão do ex-governador Sérgio Cabral. Em seguida, Rivaldo ocupou os cargos de titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e diretor da Divisão de Homicídios, responsável pelas três delegacias que elucidam assassinatos no estado.
Miliciano denunciou atuação de delegado na Polícia Civil
Em 2018, ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando de Curicica, — então confinado numa cela de seis metros quadrados na Penitenciária Federal de Mossoró (RN)— acusou a cúpula da Polícia Civil de acobertar assassinatos por contraventores do Rio. Na época, ele era investigado pelo homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes.
— Existe um batalhão de assassinos agindo por dinheiro, a maioria oriunda da contravenção. A DH e o chefe de Polícia, Rivaldo Barbosa, sabem quem são, mas recebem dinheiro de contraventores para não tocar ou direcionar as investigações — disse Orlando à época.