Logo Folha de Pernambuco

Mundo

Rivalidade entre China e Estados Unidos deve continuar, mas com menos pressão sobre Brasil

Governo Joe Biden deve restaurar alianças e estabelecer uma nova relação com a China

Jornais chineses noticiam vitória de BidenJornais chineses noticiam vitória de Biden - Foto: Noel Celis/AFP

A disputa entre China e EUA deve continuar, mas com menos pressão sobre Brasil, segundo especialistas em relações internacionais que participaram nesta terça-feira (17) do debate "Trump vs. Biden: o cenário pós-eleições nos EUA", organizado pela Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio).

O ex-ministro e ex-embaixador do Brasil nos EUA Sérgio Amaral afirma que o governo Joe Biden deve ser marcado por uma restauração de alianças com outros países e por uma nova fase da relação com a China, com mais mudança no estilo do que no conteúdo.

Ele afirma que a guerra comercial com a China não contribuiu para a redução do deficit comercial dos EUA com o país asiático e que a tentativa de segregar conteúdo chinês foi uma política que prejudicou também as empresas e dos consumidores norte-americanos.

Segundo Amaral, essa é uma situação que reduz a pressão para que o Brasil se coloque de maneira automática ao lado de qualquer uma das potências. "Essa mudança, para o Brasil, reduz uma tensão sobre optar por um país em detrimento do outro, o que não podemos fazer. Temos de decidir não em relação às nossas fidelidades, mas em função dos interesses nacionais", afirmou.

Na questão Amazônica, por outro lado, Amaral disse que o Brasil terá de mudar de posição não por uma imposição de uma potência, mas para se adequar a uma questão que se impõe por parte de toda a sociedade.

"A questão da Amazônia, do meio ambiente e do clima são dominantes, são as utopias do século 21. Isso não é uma determinação de nenhum país, é uma força da sociedade que se impõe. É hora de o Brasil mudar sua atitude, ver a Amazônia como um patrimônio valioso do país, ver as comunidades indígenas como uma riqueza histórica e antropológica que o Brasil tem a obrigação de respeitar."

Tatiana Prazeres, senior fellow na Universidade de Negócios Internacionais e Economia em Pequim, afirmou que o governo Chinês não tem nenhuma ilusão a respeito do novo presidente e que não haverá um retorno ao período anterior à administração Donald Trump.


Segundo a ex-secretária de comércio exterior e ex-conselheira sênior na direção-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), a rivalidade entre os dois países vai continuar, mas há espaço para cooperação em alguns temas, como mudanças climáticas e o combate à pandemia.

"A administração Biden será diferente em política externa tanto em termos de substância como de estilo. Em substância, alguns assuntos devem ganhar proeminência, como mudanças climáticas, enfrentamento à pandemia e direitos humanos", afirmou.

"O Brasil deve ser pragmático, olhar para seus próprios interesses, decidir por si mesmo. É possível para um país como o Brasil adotar uma posição neutra. O Brasil não pode abrir mão de manter sua autonomia."

Michael Camilleri, diretor na organização Inter-American Dialogue e ex-membro do governo Barack Obama, também afirmou que não haverá uma volta ao período pré-Trump.

"A equipe de Biden reconhece que o mundo hoje é muito diferente do que era no início de 2017, quando Obama deixou o cargo. Em alguns aspectos, acho que teremos uma restauração, mas não será uma volta aos anos Obama", afirmou.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter