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Economia

Rublo em queda é a estratégia do Ocidente para isolar Putin

País tenta compensar desvalorização da divisa com alta de juros e ordem para que empresas vendam 80% de suas reservas em moeda estrangeira

Rublo, moeda russaRublo, moeda russa - Foto: Anna Tis/Pexels

Ao atingir o banco central russo com sanções, segundo especialistas, líderes europeus e americanos miraram no que pode ser a maior fraqueza do presidente Vladimir Putin: a moeda do país.

Nas cidades russas, clientes ansiosos começaram a fazer fila no domingo em frente aos caixas automáticos, esperando para sacar o dinheiro que depositaram nos bancos, com medo de que ele acabasse.

O pânico se estendeu na segunda. Para tentar restaurar a calma, o Banco da Rússia publicou em sua página na internet: "O volume de cédulas para carregar os caixas automáticos é mais do que suficiente. Todos os recursos de clientes nas contas correntes estão integralmente preservados e disponíveis para quaisquer transações".
 

Mesmo antes do anúncio das sanções no fim de semana, o rublo há havia se depreciado. Na segunda, a queda se aprofundou. Enquanto o valor da moeda cai, mais pessoas querem se ver livre dela por outra divisa que não esteja perdendo valor — e isso, por sua vez, faz com que a moeda se desvalorize ainda mais.

Na Rússia hoje, enquanto o poder de compra do rublo tem forte queda, os consumidores estão descobrindo que podem comprar menos com o dinheiro. Em termos reais, eles ficaram mais pobres. Tal instabilidade econômica pode provocar descontentamento popular e até inquietação.

"Se o povo confia na moeda, o país existe", disse Michael S. Bernstam, pesquisador da Hoover Institution na Universidade de Stanford. "Se ele não confia, então ela vira fumaça".

As sanções voltadas ao sistema bancário foram anunciadas durante um tenso fim de semana no qual Putin colocou suas forças nucleares em alto nível de alerta. Os EUA, a Comissão Europeia, o Reino Unido e o Canadá concordaram em remover alguns bancos russos do sistema internacional de pagamentos conhecido como Swift e a restringir o banco central russo de usar seu depósito de centenas de bilhões de dólares em reservas internacionais para minar as sanções.

Retirar bancos do sistema Swift atraiu a atenção pública, mas as medidas contra o banco central tem potencial mais devastador. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que iria "congelar suas transações" e "tornar impossível ao banco central a liquidação de ativos".

Nesta segunda, o Departamento do Tesouro dos EUA ofereceu mais detalhes sobre como as sanções funcionariam, dizendo que elas iriam paralisar os ativos do Banco da Rússia nos EUA e impedir que americanos se engagem em transações envolvendo o banco central, o Fundo Nacional de Riqueza Econômica ou o Ministério das Finanças da Rússia. Como esperado, existem exceções em transações relacionadas à exportação de energia, da qual a Europa depende.

"O movimento em relação ao banco central é absolutamente chocante por seu caráter arrebatador", disse Adam Tooze, diretor do Instituto Europeu na Universidade de Columbia.

O governo britânico baniu transações com o banco central russo, o ministério das Relações Exteriores e o fundo soberano. Porém, se os aliados impusessem um congelamento total da vasta quantidade de dólares, euros, libras e ienes nas mãos de russos, mas guardados em bancos ocidentais, isso poderia devastar a economia russa, causando uma espiral de inflação e uma severa recessão.

No centro do movimento de sanções contra o Banco da Rússia estão suas reservas cambiais. Elas são uma quantidade gigantesca de ativos conversíveis — moeda e ouro de outras nações — que a Rússia construiu, financiada em grande parte por meio de recursos da venda de petróleo e gás para a Europa e outros importadores de energia.

O cerne do motivo pelo qual os aliados têm tal vantagem se resume a uma realidade do sistema financeiro moderno: embora o banco central da Rússia tenha os ativos, ele não os controla.

Como Bernstam explicou, o Banco da Rússia tem cerca de US$ 640 bilhões em reservas cambiais no papel — ou melhor, como registros eletrônicos. Mas uma grande parte deste dinheiro não está localizada em cofres ou instituições financeiras russas. Está detido em bancos comerciais ou centrais em Nova York, Londres, Berlim, Paris, Tóquio e em qualquer outro lugar no mundo.

O Banco da Rússia adotou medidas nesta segunda para restaurar a confiança e mais do que dobrou os juros, passando de 9,5% para 20%, para compensar a rápida depreciação do rublo. O banco também liberou mais US$ 7 bilhões em reservas que haviam sido separadas como garantia para empréstimos e fechou a bolsa de valores de Moscou para o dia. Enquanto isso, o Ministério de Relações Exteriores ordenou que as empresas vendam 80% de suas moedas estrangeiras, em uma tentativa de aumentar a demanda por rublos e impedir estoques de dólares e euros.

Bernstam alertou para o fato de que o ataque do Ocidente ao rublo precisa ser administrado com cuidado. "Nós não queremos destruí-los", disse. "Não queremos que o sistema político entre em colapso".

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