Ruído branco: método de indução de sono que usa o som se populariza entre as mães de bebês; entenda
Som ajuda crianças a pegarem no sono mais rapidamente, mas uso precisa ter cautela para não prejudicar audição
O uso de ruído branco para ajudar os bebês a pegarem no sono está se tornando cada vez mais comum nos lares brasileiros. A prática é disseminada nas redes sociais por influenciadores digitais, como a ex-BBB Viih Tube, mãe da pequena Lua de 4 meses. “Os cinco passos você deve fazer com ruído branco e no escuro”, diz ela m um vídeo recente no qual mostra sua estratégia para botar a filha para dormir.
Mas o ruído branco pode ajudar os bebês a dormirem mais rápido e melhor? Sim. É o que aponta um estudo publicado na conceituada revista científica British Medical Journal (BMJ). O trabalho, feito por pesquisadores do Royal Postgraduate Medical School, do Reino Unido, testou o uso do ruído branco em 40 bebês que foram separados em dois grupos iguais. A pesquisa apontou que 80% das crianças expostas ao barulhinho pegaram no sono em cinco minutos, enquanto apenas 5 bebês (25%) do grupo que ficou no silêncio adormeceram dentro deste período de tempo.
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“Este estudo randomizado mostrou que, quando exposto ao ruído branco, a probabilidade de um bebê adormecer aumenta mais de três vezes”, escreveram os autores no estudo, que complementaram. “Descobrimos que o ruído branco promoveu o sono apenas em bebês que não estavam com fome. [...] Nosso estudo do efeito do ruído branco em promover o sono em neonatos normais sugere que pode ser benéfico para as mães que têm dificuldade em acomodar o bebê depois uma alimentação”.
O ruído branco é uma mistura de todas as frequências que os serem humanos são capazes de ouvir, tocadas na mesma intensidade e ao mesmo tempo. O som lembra o de uma televisão ou rádio fora de sintonia. O barulho de um secador de cabelo ou de um aspirador de pó doméstico, por exemplo, podem fazer as vezes do ruído branco.
Cientistas ainda não sabem exatamente o que faz o ruído branco favorecer a indução de sono. A principal teoria é que ele provavelmente atua mascarando outros ruídos externos — como barulhos de trânsito na rua ou conversas altas de outras pessoas na casa. Isso ajuda a reduzir estímulos que podem deixar o bebê ainda mais agitado. Acredita-se que o som seja parecido com o ouvido pelos pequenos enquanto estavam dentro do útero.
O pediatra Daniel Becker, colunista do jornal O Globo, aconselha que o ruído branco não seja usado em bebês muito pequenos.
— O recém-nascido tem um sono polifásico naturalmente. Ele acorda e dorme sem nenhuma regularidade. Por isso, temos a impressão de que ele troca a noite pelo dia, mas, na verdade, ele dorme tanto de dia quanto de noite, de forma irregular — explica o pediatra.
Segundo o médico, a luz do dia atua regulando o sono do bebê, fazendo com que fique mais longo durante a noite, intercalando com sonecas durante o dia. Isso ocorre por volta dos 3 a 4 meses de vida da criança.
— A partir do momento em que a criança dorme mais durante a noite, mas esteja com dificuldade de pegar no sono, seja de noite ou nas sonecas, aí podemos usar o ruído branco.
Mamães e papais encontram facilmente o ruído branco em playlists de aplicativos de música e no Youtube, e já há aparelhos, como babá eletrônica, equipados para tocar o barulhinho que pode ajudar o bebê a dormir.
— Você pode usar o ruído branco associado a outro método de indução de sono, como ninar ou dar o peito, por exemplo — orienta Ana Jannuzzi, médica pós-graduada em pediatria e mãe de três meninas pequenas.
Cuidados com o ruído branco
O ruído branco deve ser usado com cautela, orientam os especialistas. É importante se atentar ao volume, distância do som e tempo de exposição da criança. Becker recomenda a pausa do barulhinho de 15 a 20 minutos após o adormecimento do bebê.
— Há uma hipótese de que o excesso de ruído branco possa prejudicar o processamento auditivo da criança. É uma hipótese porque ainda não foi amplamente testada, mas é possível que isso aconteça. O processamento auditivo é a capacidade de o cérebro interpretar os sons que escutamos e processar em linguagem. Mas isso só acontece, provavelmente, se o ruído branco for muito intenso — detalha.
A recomendação da Academia Americana de Pediatria para o ruído branco é que a fonte que emite o som não ultrapasse o volume de 50 decibéis e seja mantida de 1,5 a 2 metros de distância do berço do bebê.
Um estudo publicado na revista científica Pediatrics analisou equipamentos que tocam ruído branco. Eles foram colocados a três distâncias diferentes: 30 cm (simulando a colocação em uma grade de berço); 1 metro (simulando a colocação sobre uma mesa próxima a um berço); e 2 metros (simulando a colocação do outro lado do quarto em relação ao berço). Os pesquisadores do Hospital for Sick Children de Toronto apontaram que, quando tocavam o ruído branco no volume máximo em distâncias de 30 cm e 1 metro, todos os 14 aparelhos analisados extrapolaram 50 decibéis.
Qualquer tipo de ruído pode atrapalhar o sono, inclusive o branco, pondera Jannuzzi.
— Ele também é capaz de atrapalhar o sono de crianças que tem maior sensibilidade e não toleram barulho. Para elas, não vai funcionar.
A médica recomenda fazer outros ajustes na rotina de sono do bebê — observando os horários e os estímulos dados à criança — antes de introduzir o ruído branco.
— Não podemos achar que o ruído branco como será um grande salvador, porque não será — pontua.
Como criar uma boa rotina de sono para o bebê
Não existe uma fórmula do sono que vai servir para todas as crianças. Por isso, não existe uma rotina rígida que deve ser implementada em todas as casas. É preciso testar métodos e observar aquilo que funciona para o seu bebê. Alguns, por exemplo, relaxam quando tomam um banho à noite, enquanto outros ficam mais agitados (para esses, o ideal é dar banho mais cedo).
Jannuzzi, no entanto, garante que uma estratégia funciona para todos: seguir o ciclo circadiano — ritmo em que o organismo realiza suas funções se baseando se é dia ou noite.
— Veja como está o tempo lá fora e tenta replicar dentro da sua casa. Se o sol já está se pondo, não é o ideal que dentro de casa estejamos em um ambiente cheio de iluminação, de barulho e de estímulo — recomenda.
Deixar os cômodos mais escurinhos, à meia luz, e não usar aparelhos eletrônicos são duas estratégias que reduzem os estímulos ao bebê e funcionam praticamente para todos os pequenos.