Rússia admite que apoio ocidental à Ucrânia freia ofensiva, mas insiste que cumprirá seus objetivos
As ações ocidentais "não têm capacidade para impedir", afirma porta-voz do Kremlin
A Rússia admitiu nesta quinta-feira (5) que o apoio ocidental a Kiev prolonga sua ofensiva na Ucrânia, mas insistiu que isto não impedirá o país de cumprir seus objetivos, no momento em que circulam informações contraditórias sobre a retirada dos civis refugiados no último reduto da resistência ucraniana em Mariupol (sudeste).
"Estados Unidos, Reino Unido, Otan em seu conjunto compartilham permanentemente informações com as Forças Armadas ucranianas. Combinado com as entregas de armas (...) estas ações não permitem acabar rapidamente a operação", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmirti Peskov, em reação a uma informação publicada na quarta-feira pelo jornal New York Times.
De acordo com o NYT, que cita fontes anônimas dos serviços de inteligência americanos, as informações fornecidas pelos Estados Unidos ao exército ucraniano permitiram localizar vários generais russos perto da linha de frente.
As ações ocidentais "não têm capacidade para impedir" o cumprimento dos objetivos da ofensiva russa na Ucrânia, insistiu o porta-voz do Kremlin, após 10 semanas de uma guerra que já deixou milhares de mortos e provocou a fuga de mais de cinco milhões de ucranianos do país.
No momento, Moscou só consegue reivindicar o controle total de uma grande cidade ucraniana, Kherson, no sul. Mas espera que, após dois meses de cerco e bombardeios, consiga tomar o porto estratégico de Mariupol.
Nesta cidade, cercada e devastada pelos bombardeios há várias semanas e praticamente sob controle da Rússia, combatentes ucranianos e civis estão entrincheirados nas passagens subterrâneas do imenso complexo siderúrgico de Azovstal.
Peskov afirmou que os corredores humanitários "estão funcionando" para retirar os civis que permanecem nas instalações - quase 200, segundo o prefeito da cidade, Vadim Boishenko.
Ele também afirmou que o exército russo respeita o cessar-fogo anunciado na quarta-feira e que deve durar três dias consecutivos.
Do lado ucraniano, as informações são diferentes, com denúncias de violações das promessas de trégua por parte da Rússia.
"Os russos violaram sua promessa de trégua e não permitem a retirada dos civis que continuam refugiados com os combatentes na parte subterrânea do complexo industrial", disse Sviatoslav Palamar, subcomandante do batalhão Azov, em um vídeo publicado no Telegram.
"Os ocupantes russos atuam para bloquear e tentar aniquilar as unidades ucranianas na área de Azovstal", afirmou um comunicado divulgado poucas horas antes pelo exército ucraniano.
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De acordo com as Forças Armadas de Kiev, as tropas de Moscou "retomaram a ofensiva com o apoio de aviões para assumir o controle da fábrica".
Denis Prokopenko, comandante do batalhão Azov, que comanda a defesa do local, afirmou em um vídeo que as forças russas conseguiram entrar no complexo industrial e citou "combates violentos e sangrentos".
Zelensky lança campanha mundial de financiamento
Um total de 344 pessoas foram retiradas na quarta-feira de Mariupol e seguiram para Zaporizhzhia, uma cidade sob controle ucraniano a 230 km de distância, afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
Pouco mais de 100 civis deixaram Azovstal durante o fim de semana, em uma operação organizada pela ONU e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
"Mas ainda há civis. Mulheres e crianças", afirmou o presidente ucraniano, que pediu ajuda ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em uma conversa telefônica.
Controlar totalmente Mariupol significaria uma vitória importante para Moscou, ainda mais na véspera de 9 de maio, dia em que a Rússia celebra a vitória contra a Alemanha nazista com um grande desfile militar.
Os ucranianos temem que os russos tentem organizar uma marcha da vitória em Mariupol.
Zelensky, que pede mais sanções contra Moscou e mais envios de armas a Kiev por parte dos países ocidentais, lançou nesta quinta-feira uma campanha mundial de financiamento para ajudar seu país, por meio de uma plataforma criada para este objetivo, a United24.
"Em apenas um clique, você pode doar fundos para ajudar nossos defensores, salvar nossos civis e reconstruir a Ucrânia", declarou Zelensky, em inglês, em um vídeo publicado em sua conta no Twitter.
Ataques mortais
As forças russas prosseguem com a ofensiva, especialmente no leste da Ucrânia.
O governador da região de Donetsk afirmou que 25 civis ficaram feridos em um bombardeio no bairro residencial de Kramatorsk. O exército russo anunciou um ataque contra uma unidade de comando ucraniana e dois depósitos militares da cidade.
Moscou também informou ataques com mísseis "de alta precisão" no sul, em particular contra um aeroporto militar perto de Kirovogrado, um depósito de munições e outro de combustíveis na região de Mykolaiv.
"Graças ao triunfo das ações dos defensores ucranianos, o inimigo perdeu o controle de várias localidades perto das regiões de Mykolaiv e Kherson", afirmou, no entanto, o Estado-Maior ucraniano.
Moscou anunciou durante a noite que seu exército organizou simulações de lançamento de mísseis com capacidade nuclear em Kaliningrado, que fica entre a Polônia e a Lituânia, dois países membros da UE.
A União Europeia prometeu aumentar o apoio à Moldávia com equipamentos militares adicionais para as Forças Armadas do país, depois que os recentes ataques ao território separatista moldávio pró-Rússia da Transnístria provocaram o temor que o conflito se propague para a ex-república soviética de 2,6 milhões de habitantes.