Rússia avança no leste da Ucrânia e Putin alerta que o mais 'sério' está por vir
País realiza ataques aéreos sobre diversas localidades da bacia do Donbass
As forças russas continuaram, nesta quinta-feira (7), sua ofensiva para conquistar o leste da Ucrânia com ataques aéreos sobre diversas localidades da bacia do Donbass, embora o presidente russo, Vladimir Putin, tenha alertado que a campanha militar "séria" ainda não começou.
Os bombardeios deixaram um morto e muitos feridos em Kramatorsk, a capital da província de Donetsk, que forma o Donbass junto com a região vizinha de Luhansk.
Uma explosão deixou uma enorme cratera em um terreno situado entre um hotel e edifícios residenciais, conforme constataram os correspondentes da AFP.
Contudo, a ofensiva russa, que começou há mais de quatro meses e deixou milhares de mortos e milhões de deslocados, ainda não "começou a sério", disse Putin em uma reunião com parlamentares em Moscou.
Putin também desafiou os países do Ocidente que dão apoio militar à Ucrânia.
"Ouvimos atualmente que [os ocidentais] querem nos derrotar em um campo de batalha. O que dizer a eles? Que tentem a sorte!", declarou.
Mesmo assim, o líder russo deixou as portas abertas para uma negociação. "Não rejeitamos manter negociações de paz, mas aqueles que as rejeitam devem saber que será mais difícil chegar a um acordo" com a Rússia mais adiante, afirmou.
A batalha do Donbass
As forças russas afirmam controlar toda a província de Luhansk e agora querem conquistar Donetsk, para assumir o controle absoluto da bacia mineira, que já estava parcialmente nas mãos de separatistas pró-Rússia desde 2014.
Sloviansk e sua cidade-gêmea Kramatorsk se anunciam como os próximos objetivos das forças russas.
"O inimigo tenta lançar ataques em direção a Sloviansk", bombardeando as localidades vizinhas, assinalou o exército ucraniano.
O prefeito da cidade, Vadim Liakh, informou ontem que a retirada de civis seguia em curso.
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Segundo Liakh, até a quarta-feira, restavam cerca de 23.000 habitantes na cidade, de um total de 110.000 que viviam ali antes da guerra.
"O que vamos fazer? Não temos nenhum lugar para onde ir, ninguém precisa de nós", lamentou Galyna Vasylivna, uma moradora de Sloviansk, de 72 anos.
Em Moscou, um promotor pediu hoje sete anos de prisão contra um político local, acusado de difundir "informações falsas" sobre os militares no contexto da ofensiva.
Na quarta-feira, a Rússia adotou um texto que introduz duras penas de prisão para quem incitar a agir contra a segurança nacional.
Zelensky agradece a Johnson
A renúncia do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, como líder do Partido Conservador, um passo prévio à sua saída do poder, sacudiu o cenário internacional.
Pressionado por escândalos e por seu próprio partido, Johnson se notabilizou como um dos líderes ocidentais que mais ofereceu apoio à Ucrânia.
Nesse sentido, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, telefonou para Johnson para manifestar "tristeza" por sua saída.
"Não há dúvidas de que o apoio do Reino Unido vai continuar, mas sua liderança pessoal e seu carisma o tornaram especial", disse Zelensky.
Momentos antes do telefonema, a presidência ucraniana agradeceu o apoio de Johnson nos "momentos mais difíceis" da guerra. O Kremlin, por outro lado, expressou seu desejo de que "gente mais profissional" chegue ao poder no Reino Unido.
A crise política britânica teve o seu desenlace na véspera de um encontro ministerial na Indonésia dos países do G20, no qual participarão a Rússia e os aliados ocidentais da Ucrânia.
É provável que nesse encontro aconteça "uma confrontação bastante dura", segundo uma fonte diplomática francesa.
A tensão também aumentou entre Ucrânia e Turquia depois que um navio-cargueiro russo com grãos zarpou de águas turcas e retornou à Rússia.
A Ucrânia, que acusa Moscou de roubar sua safra de trigo, garante que a embarcação Zhibek Zholy, que zarpou na semana passada do porto ucraniano de Berdiansk (controlado pela Rússia), transportava 7.000 toneladas de grãos obtidos ilegalmente.
Em sua mensagem de vídeo noturna, Zelensky insistiu em pedir mais armas a seus aliados internacionais. "Quanto maior o apoio militar à Ucrânia agora, mais rapidamente a guerra irá terminar, com uma vitória nossa, e menores serão os prejuízos para todos os países do mundo."
Segundo afirmou a agência espacial dos Estados Unidos (Nasa), com base em dados de satélites, a Rússia controla 22% das terras cultiváveis da Ucrânia.
A guerra na ex-república soviética e as sanções contra a Rússia provocaram a interrupção das exportações dos dois países, com consequências no aumento dos preços de grãos e fertilizantes em todo o mundo, e no abastecimento de energia na Europa.