Guerra

Rússia: conselheiro de Putin defende recrutamento universal para o Exército russo

Valery Fadeev, chefe do Conselho Presidencial de Direitos Humanos (CDH), disse que todos os jovens devem servir, mesmo que seja na cozinha dos quartéis

Tropas russas enfileiradas na Praça Vermelha, em MoscouTropas russas enfileiradas na Praça Vermelha, em Moscou - Foto: Alexander Nemenov/AFP

Um dos assessores do presidente da Rússia, Vladimir Putin, defendeu o retorno do serviço militar universal no país, citando que o “mundo está em um estado de guerra prolongada”.

As declarações vieram no momento em que rumores sobre uma nova rodada de mobilização nacional ganham força, apesar dos novos recrutas serem proibidos, ao menos em tese, de combater em solo ucraniano.

Em uma conferência na Universidade de Belgorod, cidade que é alvo frequente de ataques ucranianos, chefe do Conselho Presidencial de Direitos Humanos (CDH), Valery Fadeev disse que o Ocidente vê a Rússia cada vez mais como um inimigo, e que isso deveria acelerar a militarização da própria sociedade russa. A começar pelos jovens.

— Acho que precisamos voltar a um recrutamento verdadeiramente universal. Temos agora um terço ou mesmo um quarto dos jovens que passam pelo Exército — disse Fadeev.

— Acredito que todo jovem, independentemente do estado de saúde, se não estiver bem, deixe-o servir na cozinha, todos os jovens devem passar pelo Exército, porque o mundo está em estado de longa guerra.

Pelas normas atuais, todos os homens russos precisam se apresentar a um representante das Forças Armadas aos 17 anos para uma avaliação prévia, que determinará se eles têm condições de saúde para servir.

No ano seguinte, caso passem por essa avaliação inicial, são chamados novamente, mas podem alegar uma série de fatores para a dispensa, incluindo matrículas em universidades e razões ligadas ao trabalho. Em tempos anteriores, como durante a União Soviética, o número de isenções era consideravelmente menor.

Desde o início da guerra, Putin tem buscado ampliar o número de recrutas, que passaram a ser empregados em funções internas — as leis russas impedem que sejam mandados para as linhas de frente, muito embora os casos de jovens em período de serviço militar obrigatório que se viram em meio a combates não sejam raros.

Analistas apontam ainda que alguns recrutas atuam na contenção da ofensiva ucraniana na região de Kursk, mesmo sem o treinamento adequado para um campo de batalha.

Mas no discurso, Fadeev reiterou que não está fazendo um apelo pela mobilização, termo usado pelos russos para a convocação de homens em idade militar — 18 a 30 anos para os recrutas de primeira jornada, e até 70 anos para alguns oficiais —, mas sim apresentando um argumento para o que vê como o futuro da Rússia.

— Alguns dirão: “vocês querem armas em vez de manteiga”. Não, se não houver armas, não haverá petróleo. Minha posição é muito simples, você precisa gastar em defesa tanto quanto for necessário para sua segurança — disse o chefe do CDH. Segundo ele, hoje o orçamento militar russo representa 8% do PIB, mas o assessor lembrou que, nos tempos da União Soviética, a fatia chegou a 13%.

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O assessor de Putin atacou os russos que deixaram o país desde o início da guerra, muitos deles para evitar uma convocação para o front, dizendo que, apesar de terem se formado em boas universidades, “não receberam uma educação decente, porque não entendem como funciona o mundo e a vida neste mundo”.

No diálogo, ele defendeu ainda a ampliação dos campos militares-patrióticos para crianças, e disse que essa abordagem, crucial na agenda conservadora e nacionalista de Putin, é “muito correta”.

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