Rússia considera novas sanções ocidentais 'inaceitáveis'
Sanções, adotadas na segunda-feira por Bruxelas e na terça-feira por Washington, afetam vários altos funcionários russos
Moscou denunciou nesta quarta-feira (3) como "inaceitáveis" as novas sanções da União Europeia (UE) e Estados Unidos pelo envenenamento e detenção do opositor Alexei Navalny e advertiu que os ocidentais "não devem brincar com fogo".
As sanções, adotadas na segunda-feira por Bruxelas e na terça-feira por Washington, afetam vários altos funcionários russos, entre eles Alexander Bortnikov, diretor do poderoso serviço de segurança FSB.
Os dois únicos que são alvos de sanções das duas potências são o diretor do serviço penitenciário, Alexander Kalashnikov, e o procurador-geral do país, Igor Krasnov.
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Os funcionários afetados, nove no total entre UE e Estados Unidos, estão proibidos de viajar ao território que anunciou as sanções, onde também têm seus ativos bloqueados.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, classificou nesta quarta-feira de "absolutamente inaceitáveis" as novas sanções, que "prejudicam de maneira considerável relações já lamentáveis" entre a Rússia e os países ocidentais.
A Rússia e os países ocidentais enfrentam importantes divergências em temas da atualidade internacional e sua relação é marcada por acusações de interferência eleitoral, espionagem e ciberataques.
"Perplexo com decisões tão absurdas e injustificáveis", Peskov também denunciou uma interferência a mais nos assuntos internos russos".
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, prometeu uma reposta adequada.
Peskov considerou "escandalosas" as acusações contra os Serviços de Segurança da Rússia (FSB) que, segundo os Estados Unidos, seriam responsáveis pelo envenenamento de Navalny.
O ministério russo das Relações Exteriores denunciou em um comunicado um "ataque hostil contra a Rússia" como parte de uma "política americana insensata e ilógica".
"Seguiremos defendendo nossos interesses nacionais de forma sistemática e decidida, rejeitando qualquer agressão. Pedimos a nossos colegas para não brincar com com fogo", afirmou o ministério russo.
Navalny em uma colônia penal
As sanções anunciadas na terça-feira foram as primeiras dos Estados Unidos desde a chegada ao poder de Joe Biden, em 20 de janeiro, que adotou um tom mais duro com Moscou que o de seu antecessor Donald Trump.
Washington afirmou não ter dúvidas de que as autoridades russas estavam por trás da "tentativa de assassinato" de Navalny, ativista anticorrupção de 44 anos e principal opositor do Kremlin.
Os aliados de Navalny, no entanto, desejavam medidas mais fortes, como sanções contra os principais oligarcas russos, que consideram apoios de Putin e que possuem ativos no Ocidente.
Navalny entrou em coma em agosto durante uma viagem à Sibéria. Após a transferência de emergência para a Alemanha, três laboratórios europeus afirmaram que ele foi envenenado com um agente neurotóxico do tipo Novichok, desenvolvido na época soviética.
O opositor e seus assessores acusam uma equipe do FSB de ter aplicado o envenenamento por ordem de Putin. As autoridades russas negam e apresentaram diferentes versões sobre a repentina doença de Navalny.
Ao retornar para a Rússia depois de sua recuperação na Alemanha, Alexei Navalny foi detido imediatamente e condenado a dois anos e meio de prisão por um caso de fraude de 2014.
O ativista, ONGs e vários países ocidentais consideram que a condenação tem motivações políticas.
O opositor foi transferido no fim de semana para uma colônia penal a 100 km de Moscou, considerada uma das piores da Rússia e descrita como uma máquina para "quebrar" os detentos.
A detenção de Navalny provocou grandes manifestações, que resultaram em mais de 11.000 detenções. UE e Estados Unidos exigiram a "libertação imediata" do ativista.
Especialistas da ONU pediram na segunda-feira uma investigação internacional sobre o envenenamento.