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Rússia diz que entrada de Suécia na Otan ameaça sua segurança; entenda por quê

Com adesão do país escandinavo destravada pela Turquia, aliança militar ocidental passa a dominar o Báltico, um dos mares mais movimentados do mundo

Presidente da Turquia e premier da Suécia se cumprimentam às vésperas de cúpula da Otan, em Vilna, Lituânia Presidente da Turquia e premier da Suécia se cumprimentam às vésperas de cúpula da Otan, em Vilna, Lituânia  - Foto: Yves Herman / Pool / AFP

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A entrada da Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) terá “consequências negativas” para a segurança da Rússia, disse o Kremlin nesta terça-feira, um dia após a Turquia dar luz verde à entrada do país escandinavo na aliança militar liderada pelos Estados Unidos e criada no fim da Segunda Guerra Mundial para conter o avanço da influência soviética em direção ao Ocidente.

— [Essa decisão terá] consequências negativas, certamente — declarou o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, acrescentando, sem dar maiores detalhes, que Moscou responderá com medidas “antecipadas e planejadas”.

Ao se candidatarem à aliança, no ano passado, Suécia e Finlândia encerraram décadas de não-alinhamento militar, uma decisão tomada após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. Agora, a nova adesão, quando confirmada oficialmente, representará o ápice de uma virada histórica, mas também uma derrota estratégica para o Kremlin.

A entrada da Finlândia, em abril, já representava um desafio para a Rússia, que ao invadir a Ucrânia não esperava aumentar sua fronteira comum com o bloco ocidental em 1.300 km. Além disso, com a adesão de Helsinque, a Otan passou a contar com um contingente de 280 mil soldados e um dos maiores arsenais de artilharia da Europa.

Controle do Báltico
Agora, a adesão de Estocolmo completará a transformação do Mar Báltico em uma via navegável dominada pela Otan, fortalecendo assim a segurança e a estabilidade militar do Norte da Europa Central e aumentando a capacidade do bloco de proteger seus membros mais vulneráveis: as nações bálticas. Isso inclui a Lituânia, que faz fronteira com a Rússia e a Bielorrússia e onde está sendo realizada uma cúpula da aliança militar esta semana, segundo Ian Brzezinski, membro sênior do Atlantic Council e ex-vice-secretário adjunto de defesa dos EUA para a política da Europa e da Otan.

A Suécia também contribuirá com uma nova geração de submarinos para a aliança, elevando o total da Otan nos países bálticos de oito para 12 até 2028, de acordo com Fredrik Linden, comandante da Primeira Flotilha de Submarinos da Suécia, citado pela Reuters. Segundo o especialista, isso terá um impacto direto na proteção de infraestruturas como os gasodutos Nord Stream 1 e 2, bombardeados em setembro do ano passado, e também na manutenção do acesso ao Mar Báltico.

Em comparação, espera-se que a Rússia adicione de um a três submarinos nos próximos anos, elevando seu total de submarinos bálticos para quatro, juntamente com sua frota de cerca de seis navios de guerra modernos, de acordo com o Instituto Kiel, um centro de pesquisa econômica independente e sem fins lucrativos com base na Alemanha. As capacidades russas no enclave de Kaliningrado, localizado entre a Lituânia e a Polônia, também incluem mísseis balísticos de médio alcance.

O Báltico é um dos mares mais movimentados do mundo, com uma média de 1.500 embarcações trafegando por dia em suas águas, de acordo com a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce), e só há uma saída: o Mar Kateggat entre a Dinamarca e a Suécia.

Raso e lotado, o mar só pode ser acessado através de três estreitos, o que significa que se algum deles fosse fechado, o tráfego marítimo de carga para a Suécia e a Finlândia seria duramente atingido e para os Estados bálticos completamente cortados. Mas com a Suécia na aliança na aliança, isso se torna mais evitável, afirmam especialistas.

— [A adesão de Finlândia e Suécia à Otan] mudaram o equilíbrio no Mar Báltico de forma bastante significativa — disse à Reuters Nick Childs, membro sênior das Forças Navais e Segurança Marítima do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, baseado em Londres no Reino Unido. — Isso tornaria muito difícil para a frota russa do Mar Báltico operar de maneira livre.

Vitória simbólica
A entrada da Suécia contribui ainda para a resolução de outro imbróglio. Há décadas, a Otan busca meios de conter as pretensões russas em um corredor estratégico, entre a Polônia e a Lituânia, chamado de “corredor Suwalki”. Essa faixa de 65 km liga o enclave russo de Kaliningrado, que fica entre os dois países, e a Bielorrússia, país aliado de Moscou, e provavelmente seria o primeiro ponto de contato em um confronto entre Moscou e a aliança militar ocidental.

Sanções da União Europeia em resposta à invasão da Ucrânia impedem Moscou de transportar alguns produtos para Kaliningrado usando o corredor, mas o presidente Vladimir Putin não esconde sua vontade de estabelecer o controle da região — assim como tenta criar uma ponte terrestre entre a Rússia e a Crimeia, anexada unilateralmente em 2014. A adição dos dois países escandinavos, porém, pode dificultar para os russos separar o Báltico do resto do bloco.

A entrada dos dois países também representa uma vitória política para os Estados Unidos, ao fortalecer a aliança atlântica e aproximar os países da esfera de influência americana.

Segundo Mike Mazarr, analista de defesa da RAND Corporation, “esses passos ajudam a alcançar um objetivo menos imediato, mas fundamental da estratégia dos EUA: deixar 100% claro que a posição estratégica geral da Rússia é mensuravelmente pior após a invasão” à Ucrânia.

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