Rússia e Cazaquistão tentam conter especulações sobre causa da queda do avião da Embraer
Especialistas apontam que danos na aeronave são semelhantes aos que poderiam ser causados por "um sistema de mísseis antiaéreos"
A Rússia e o Cazaquistão tentam conter as especulações sobre a causa da queda do avião da Azerbaijan Airlines, com autoridades de ambos os países pedindo que as pessoas aguardem os resultados das investigações.
A aeronave, que transportava 67 pessoas e voava da capital do Azerbaijão, Baku, para a cidade russa de Grozny, na Chechênia, caiu no Cazaquistão após desviar centenas de quilômetros de sua rota planejada. Ao todo, 38 pessoas morreram.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou nesta quinta-feira que seria errado especular sobre as causas do incidente antes da conclusão do inquérito. E o presidente do Senado do Cazaquistão, Mäulen Äşimbaev, também enfatizou que a causa do ocorrido ainda é desconhecida, indicando que nenhum dos países envolvidos (Azerbaijão, Rússia ou o próprio Cazaquistão) têm “interesse em ocultar informações”.
— Os verdadeiros especialistas estão investigando e chegarão às suas conclusões. Todos os dados serão divulgados ao público — disse ele, citado pela agência TASS.
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Os comentários foram feitos depois que Andriy Kovalenko, membro da segurança nacional ucraniana, afirmou nas redes sociais que a aeronave foi “abatida por um sistema de defesa antiaérea russo”. Ele citou imagens de dentro do avião que mostravam “coletes salva-vidas perfurados”.
A avaliação é a mesma de outros especialistas militares e de aviação — e foi reproduzida até na mídia russa, onde foi citado que o avião pode ter sido confundido com um drone ucraniano.
O canal Fighterbomber no Telegram, supostamente administrado por Ilya Tumanov, um capitão do Exército russo, divulgou um vídeo que mostrava buracos nos destroços do avião, que alguns sugeriram se assemelharem a danos causados por bombardeios. O Fighterbomber afirmou que era improvável que os buracos tivessem sido causados por um impacto com aves, como a companhia aérea havia alegado inicialmente, publicou o jornal britânico The Guardian.
O especialista em aviação cazaque Serik Mukhtybayev disse ao portal Orda que a queda do avião devido ao impacto com aves era “quase impossível”, dado a altitude em que a aeronave voava quando encontrou problemas.
À AFP, um piloto militar francês afirmou, sob condição de anonimato, que as perfurações na cauda do avião “se parecem muito com o impacto de estilhaços” causados pela explosão de um míssil.
Popular blogueiro russo pró-guerra, Yuri Podolyaka disse que os buracos vistos nos destroços do avião eram semelhantes aos danos causados por “sistemas de mísseis antiaéreos”, acrescentando: “Tudo aponta para isso”.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, por sua vez, afirmou que ainda era cedo para especular sobre as razões do acidente, mas que o mau tempo havia forçado a mudança de rota do avião.
Dados de rastreamento de voo do Flightradar24.com mostraram a aeronave realizando um movimento em forma de oito enquanto se aproximava do aeroporto.
O site informou que o avião enfrentou “fortes interferências de GPS” que “fizeram a aeronave transmitir dados ADS-B incorretos”, referindo-se às informações que permitem que sites de rastreamento sigam os voos em tempo real. A Rússia já foi acusada no passado de interferir em transmissões de GPS na região.
Moscou emprega frequentemente tecnologia de interferência para se defender de ataques de drones, e alguns relatos sugerem que a Chechênia foi alvo de um ataque desse tipo pouco antes do acidente. Na manhã de quarta-feira, Khamzat Kadyrov, um oficial de segurança local e sobrinho do líder checheno Ramzan Kadyrov, escreveu no Instagram que “todos os drones foram abatidos com sucesso”.
O Cazaquistão afirmou que a caixa-preta do avião, que contém dados do voo para ajudar a determinar a causa do acidente, foi encontrada. Agora, as autoridades trabalham para identificar os corpos das vítimas do acidente. Dos 29 sobreviventes, 11 permanecem em terapia intensiva. (Com AFP)