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conflito internacional

Rússia justifica guerra na Ucrânia durante celebração da vitória de 1945 contra os nazistas

O presidente russo voltou a dizer que, antes da ofensiva, Kiev preparava um ataque contra os separatistas pró-Rússia

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante o desfile militar que celebrou a vitória de 1945 sobre a Alemanha nazista Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante o desfile militar que celebrou a vitória de 1945 sobre a Alemanha nazista  - Foto: ANTON NOVODEREZHKIN / SPUTNIK / AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, defendeu nesta segunda-feira (9) a ofensiva na Ucrânia durante o desfile militar que celebrou a vitória de 1945 sobre a Alemanha nazista, enquanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, expressou confiança em vencer a guerra.

Ao falar diretamente para as Forças Armadas, Putin declarou: "Vocês lutam pela pátria, por seu futuro". O discurso aconteceu antes do desfile militar na Praça Vermelha de Moscou, que celebra a vitória contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Diante de milhares de soldados, Putin voltou a justificar a decisão de iniciar em 24 de fevereiro uma ofensiva contra a Ucrânia, alegando que Kiev preparava um ataque contra os separatistas pró-Rússia no leste do país, queria desenvolver a bomba atômica e recebia apoio da Otan.

"Estava sendo formada uma ameaça totalmente inaceitável, diretamente, em nossas fronteiras", declarou, antes de voltar a acusar o país vizinho de neonazismo e classificar a ofensiva de "resposta preventiva".

"Foi a única decisão correta possível", acrescentou.

As forças de segurança, mobilizadas ao longo do percurso da marcha no centro da cidade, exibiam no ombro direito a letra "Z", que virou símbolo dos partidários da ofensiva na Ucrânia, pois está pintada nos veículos das unidades russas na frente de combate.

"20.000 caixões"
Depois do discurso, 11.000 soldados, dezenas de veículos - incluindo lança-mísseis estratégicos - desfilaram pela Praça Vermelha. Também participaram unidades que retornaram da frente de batalha na Ucrânia.

A parte aérea do desfile foi cancelada devido às condições meteorológicas.

"Ninguém poderia imaginar que 77 anos depois as forças fascistas seriam ressuscitadas, que as forças nazistas exterminariam civis, cortariam os corpos de russos em pedaços", disse à AFP Anastasia Rybina, uma economista de 37 anos que participou de uma marcha em Moscou.

Desde a chegada ao poder de Vladimir Putin em 2000, o tradicional desfile de 9 de maio celebra tanto a vitória soviética sobre a Alemanha nazista como a força da Rússia após a humilhação da queda da URSS. 

Pouco antes do discurso de Putin, Zelensky publicou um vídeo no qual afirmou que a Ucrânia não permitirá que a Rússia "se aproprie da vitória sobre o nazismo".

"No dia da vitória sobre os nazistas, nós estamos lutando por outra vitória. O caminho para esta vitória é longo, mas não temos dúvidas sobre nossa vitória", declarou, em tom decidido.

"Nós vencemos na época. Vamos vencer agora", acrescentou o presidente ucraniano no vídeo em que aparece caminhando por uma avenida do centro de Kiev.

Mais de dois meses depois da entrada das tropas russas na Ucrânia, os combates se concentram agora no leste do país. Moscou não conseguiu tomar a capital, Kiev, após a intensa resistência dos ucranianos, armados pelos países ocidentais.

"Putin deveria ter feito desfilar as dezenas de soldados russos feridos", disse Ievguen Ienine, primeiro vice-ministro ucraniano do Interior.

"Ou levar 20.000 caixões para a Praça Vermelha para que as mães russas possam ver como seus filhos morreram ou ficaram aleijados na Ucrânia", acrescentou.

Kiev praticamente não celebrou a data.

"Fascismo e tirania"
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que ficou "horrorizado" com o bombardeio de sábado contra uma escola de Lugansk, que matou 60 civis que estavam refugiados no local.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU realizará na quinta-feira, a pedido de Kiev com o apoio de dezenas de países, uma sessão extraordinária sobre "a deterioração da situação dos direitos humanos na Ucrânia" devido à invasão russa. 

O ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, considerou que o governo de Vladimir Putin "reflete o fascismo e a tirania" da Segunda Guerra Mundial e que os generais russos deveriam ser levados a um conselho de guerra por suas ações na Ucrânia. 

Em Odessa, sul da Ucrânia, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, foi obrigado a buscar proteção durante uma visita surpresa, por ataques com mísseis, informou um funcionário da União Europeia.

"O Kremlin quer suprimir o espírito de liberdade e democracia", declarou Charles Michel em vídeo publicado no Twitter, garantindo estar "totalmente convencido de que nunca terá sucesso".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse nesta segunda-feira que a instituição apresentará em junho uma resposta ao pedido de adesão urgente à União Europeia apresentado pela Ucrânia.

Mas o presidente francês, Emmanuel Macron, jogou um balde de água fria no desejo da Ucrânia de aderir à União Europeia pela via rápida, afirmando que sua eventual entrada levaria "décadas".

"Batalhas intensas"
Na frente de batalha, confrontos intensos aconteciam nesta segunda-feira nas imediações de Rubizhne e Bilogorivka, na região de Luhansk.

Até o momento, a Rússia conseguiu controlar por completo apenas uma cidade importante, Kherson, e a ofensiva militar que muitos analistas acreditavam que seria rápida foi marcada por muitos contratempos, sobretudo logísticos.

Depois de ser contido nas imediações de Kiev, o Estado-Maior russo teve que reduzir suas ambições e passou a concentrar a ofensiva no leste e sul do país.

Em Mariupol, porto do sudeste sob controle quase total dos russos, os militares ucranianos entrincheirados na grande siderúrgica de Azovstal afirmaram que não pensam em uma rendição.

Os separatistas pró-Rússia marcharam nesta segunda-feira levando uma gigantesca fita de São Jorge, símbolo patriótico russo, pela cidade portuária quase inteiramente conquistada pelo Exército russo. 

Em Varsóvia, manifestantes pró-Ucrânia jogaram um líquido vermelho no embaixador russa na Polônia que seguia para uma homenagem no cemitério da capital polonesa, onde estão sepultados os soldados soviéticos mortos durante a Segunda Guerra Mundial.

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