Rússia mostra sinais de redução de objetivos na Ucrânia e concentra ataques no leste
Ministério da defesa russo afirma ter destruído o maior depósito de combustível do exército ucraniano perto de Kiev
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se aproximou, nesta sexta-feira (25), da fronteira da Polônia com a Ucrânia, onde a ofensiva do exército russo, que inicialmente parecia orientada para a conquista das grandes cidades, se concentrará na "libertação" da região oriental.
Biden chegou à Polônia após anunciar em Bruxelas uma série de medidas para que a União Europeia (UE) consiga reduzir sua dependência de petróleo e gás da Rússia.
A visita à fronteira coincidiu com a divulgação de dados mais precisos sobre a magnitude da destruição da cidade portuária de Mariupol (sul da Ucrânia), sitiada e bombardeada há semanas pelas tropas russas.
As autoridades temem que o bombardeio na semana passada de um teatro em Mariupol que servia de abrigo antiaéreo tenho causado cerca de 300 mortes.
"Eu fugi, mas perdi toda a minha família, perdi minha casa, estou desesperada", declarou à AFP Oksana Vynokurova, uma mulher de 33 anos, que conseguiu sair de Mariupol e chegar por trem a Lviv, no oeste.
Svetlana Kuznetsova, outra refugiada que fugiu no mesmo trem, contou que "não há mais água nem eletricidade em Mariupol. Vivemos nos porões e acendemos fogueiras para cozinhar".
Na cidade polonesa de Rzeszow, a 80 km da fronteira com a Ucrânia, Biden elogiou a coragem do povo ucraniano, comparando-a à revolta popular na Praça Tiananmen de Pequim, esmagada pelo exército chinês em junho de 1989.
Biden voltou a chamar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de "criminoso de guerra".
"O mais importante que podemos fazer é manter a união das democracias em nossa determinação e nossos esforços para reduzir a devastação provocada por um homem que acredito ser um criminoso de guerra", declarou Biden durante uma reunião com o presidente polonês, Andrzej Duda.
Ofensiva concentrada no leste
Os bombardeios na Ucrânia continuaram nesta sexta-feira (25).
O comando da força aérea ucraniana em Vinnitsa (centro) foi atingida por uma salva de mísseis de cruzeiro, que causaram "danos importantes", informaram as Forças Armadas ucranianas.
Em Kharkov (leste), o prefeito denunciou bombardeios "indiscriminados" que deixaram pelo menos quatro mortos.
O Ministério russo da Defesa garantiu ter destruído o maior depósito de combustível do exército ucraniano perto de Kiev, que segundo Moscou "servia para abastecer as unidades na parte central do país".
Apesar dos ataques, as tropas russas sofreram importantes baixas e, há algumas semanas, não têm conseguido qualquer avanço significativo.
O exército russo reconheceu na sexta-feira que 1.351 de seus soldados morreram e 3.825 ficaram feridos desde o início da ofensiva militar, em 24 de fevereiro, e acusou os países ocidentais de cometer um "erro" ao entregar armas a Kiev.
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No que poderia ser uma mudança importante de orientações, o exército russo anunciou que, de agora em diante, seu objetivo será a "libertação" da região de Donbass, no leste da Ucrânia, de língua majoritariamente russa.
O vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, Sergei Rudskoy, alegou que a ordem foi dada considerando que "os principais objetivos da primeira fase da operação foram alcançados" e que "a capacidade de combate das forças ucranianas foi significativamente reduzida".
Uma parte de Donbass está sob controle de separatistas pró-Rússia desde 2014.
O envio à Ucrânia de mísseis antitanques portáteis e de outros armamentos ocidentais ajudaram as forças ucranianas a segurar o avanço russo e até a permitir que as forças ucranianas passem ao ataque em algumas regiões.
As tropas russas tentaram por vários dias cercar Kiev, mas os contra-ataques "permitiriam à Ucrânia recuperar vilarejos e posições defensivas em um raio de 35 km" da capital, detalhou um relatório do ministério britânico da Defesa.
Após mais de um mês de guerra, milhares de ucranianos morreram, entre eles 121 crianças, e mais de 4.300 casas foram destruídas segundo um último balanço comunicado pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
Dez milhões de pessoas tiveram que abandonar suas residências, das quais mais de 3,5 milhões fugiram para o exterior, de acordo com dados da ONU.
Diálogo de surdos
A Rússia garantiu que as negociações com a Ucrânia não avançam sobre os principais temas e afirmou que o governo de Kiev está preocupado sobretudo em "obter garantias de segurança de potências terceiras" caso "não consiga aderir à Otan".
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, classificou as negociações com a Rússia como "muito difíceis" e afirmou que a Ucrânia não cederá em questões essenciais.
"Insistimos, antes de mais nada, em obter um cessar-fogo e garantias de segurança e da integridade territorial da Ucrânia", declarou.
Alerta sobre armas químicas
Biden alertou na quinta-feira, após participar de uma cúpula da Otan em Bruxelas, que a Aliança transatlântica "responderia" caso Putin ordenasse o uso de armas químicas na Ucrânia.
O assessor de Biden em questões de segurança nacional, Jake Sullivan, afirmou nesta sexta-feira que a Rússia pagaria "um preço muito alto" se recorrer a este tipo de arsenal, mas esclareceu que os Estados Unidos "não têm a intenção de usar armas químicas em qualquer circunstância".
O Kremlin acusou os Estados Unidos de desenvolver um programa de armamento químico e biológico na Ucrânia e, nesta sexta-feira, afirmou que as declarações de Biden tem o intuito de "desviar o foco" desse assunto.
A Rússia também negou recorrer a bombas incendiárias, cujo uso contra a população civil é proibido internacionalmente.
Em Bruxelas, Biden e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciaram a criação de um grupo de trabalho destinado a reduzir a dependência europeia de combustíveis fósseis russos.
A Ucrânia insiste na necessidade de "aumentar a pressão econômica" contra a Rússia e Belarus, aliado de Moscou.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, acusou o Ocidente de querer "destruir, romper, destroçar, asfixiar a economia e a Rússia em sua totalidade".
Putin comparou as sanções contra a cultura russa com a queima de livros promovida pelos nazistas nos anos 1930.
"Estão tentando anular um país que tem mil anos e estou me referindo à progressiva descriminação contra tudo que for relacionado à Rússia", declarou Putin.