Guerra na Ucrânia

Rússia ordena retirada de tropas da cidade de Kherson, um novo revés na Ucrânia

Esta é a segunda região que a Rússia perde; Antes de Kherson, as tropas russas já haviam sido forçadas a deixar a região de Kharkiv em setembro

Exército russoExército russo - Foto: Natalia Kolesnikova / AFP

A Rússia ordenou, nesta quarta-feira (9), que suas tropas se retirem de Kherson, ante o avanço da contraofensiva ucraniana, em um novo revés que a obriga a abandonar a única capital regional conquistada em quase nove meses de operação militar.

Esse recuo foi anunciado após a retirada, nas últimas semanas, de mais de 100.000 civis da região, uma operação denunciada pelas autoridades ucranianas como "deportação".

Antes de Kherson (sul), as tropas russas já haviam sido forçadas a deixar a região de Kharkiv (noroeste) em setembro, em meio à avassaladora reação ucraniana.

À época, o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a mobilização de 300.000 reservistas para consolidar as linhas e recuperar a iniciativa no terreno. Dezenas de milhares de membros desse contingente já se encontram em zonas de combate.

"Comece a retirar os soldados", disse hoje na televisão o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, ao general Serguei Surovikin, comandante das operações russas na Ucrânia, admitindo que a decisão de se retirar para a margem direita do rio Dnieper "não foi nada fácil".

"As manobras [de retirada] dos soldados começarão muito rapidamente", declarou o militar. 

A Rússia abandona, assim, não apenas seu maior troféu de campanha, mas também a capital de uma das quatro zonas anexadas no final de setembro. 

Shoigu ordenou a suas tropas que se retirem da margem direita (ao oeste) do Dnieper, onde fica a cidade de Kherson. O objetivo é estabelecer uma linha defensiva na margem esquerda do rio, que representa um obstáculo natural mais fácil de proteger.

A região de Kherson também ganha importância estratégica, por fazer fronteira com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Perplexidade em Kiev
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, declarou à noite que seu país reagiu com "extrema cautela" ao anúncio russo.

"O inimigo não nos dá nenhum presente, não mostra nenhum 'gesto de boa vontade', devemos ganhar tudo", disse Zelensky em mensagem. "Assim, devemos mostrar extrema cautela, sem emoção, sem correr riscos inúteis, para libertar toda a nossa terra com o menor prejuízo possível".

O conselheiro da Presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak, disse que até o momento não havia visto "qualquer sinal de que a Rússia vá deixar Kherson sem lutar", acrescentando que parte das tropas de Moscou continua na cidade.

Um residente de Kiev, Sergii Filonchuk, não acredita que a Rússia vá simplesmente abandonar Kherson.

"Acho que (os russos) estão aprontando alguma coisa, talvez alguma armadilha. Não acho que eles vão desistir", disse o homem de 48 anos.

Iaroslav Shamroienko, taxista de 36 anos da capital, afirma que o anúncio russo mostra que a contraofensiva ucraniana "está se desenvolvendo bem". "Temos que expulsar os ocupantes de nossas terras", afirmou.

O general Surovikin justificou a retirada pelo desejo de proteger os soldados russos e acusou as forças ucranianas de bombardear civis. 

"Pensamos antes de tudo na vida de cada soldado russo", declarou, garantindo que o exército de Moscou "resiste com sucesso às tentativas de ataque" dos ucranianos.

Putin não comentou esta decisão até agora, mas alguns de seus colaboradores próximos sim, como o fundador do grupo paramilitar Wagner, Evgeni Prigojin,  para quem o general Surovikin teve que escolher "entre fazer um sacrifício absurdo ou salvar a vida do soldados".

A decisão "foi difícil, mas justa", considerou.

"Problemas reais"
Surovikin também anunciou que as autoridades de ocupação "retiraram" 115.000 pessoas da margem direita para a esquerda do Dnieper nas últimas semanas.

Para o presidente dos EUA, Joe Biden, a decisão de Moscou "mostra que a Rússia e o exército russo têm problemas reais" em sua campanha militar.

Os ocidentais continuam, por sua vez, afirmando seu apoio militar, logístico e financeiro a Kiev.

A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia (UE), propôs aos 27 países-membros do bloco a concessão de um pacote de 18 bilhões de euros (um valor semelhante em dólares) à Ucrânia para 2023, na forma de empréstimos. 

Zelensky agradeceu pela "solidariedade" europeia.

A possibilidade de os republicanos vencerem as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos gerou temores na Ucrânia sobre a futura posição de Washington, embora a Casa Branca tenha assegurado que o apoio era "incontestável". 

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, também considerou que o resultado das eleições americanas não prejudicará, de forma alguma, o apoio militar ocidental à Ucrânia. 

"Está absolutamente claro que há um forte apoio bipartidário nos Estados Unidos para continuar apoiando a Ucrânia, e isso não mudou", garantiu.

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