Rússia promete reduzir sua ofensiva em Kiev após negociações 'significativas' com Ucrânia
O chefe da delegação russa, Vladimir Medinksi, afirmou que as negociações foram "significativas"
A Rússia se comprometeu, nesta terça-feira (29), a reduzir a atividade militar em torno de Kiev após as negociações "significativas" em Istambul, onde os negociadores ucranianos pediram garantias internacionais para a segurança do país.
O negociador ucraniano, David Arakhamia, considerou inclusive que agora existem condições "suficientes" para uma cúpula entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o russo, Vladimir Putin.
Arakhamia pediu "um mecanismo de garantia internacional em que os países garantidores atuem de maneira análoga ao capítulo 5 da Otan", que estipula que um ataque contra um país membro da aliança é um ataque contra todo o pacto.
Após a reunião na Turquia, o vice-ministro da Defesa russo, Alexender Fomín, disse que "as negociações sobre um acordo de neutralidade e o status não nuclear da Ucrânia entram em uma dimensão prática".
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A Rússia, consequentemente, decidiu reduzir de forma "radical" sua atividade militar em torno de Kiev, a capital do país, e em Chernihiv (norte).
O chefe da delegação russa, Vladimir Medinksi, afirmou que as negociações foram "significativas".
Porém, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou hoje que os Estados Unidos duvidam da "seriedade" da Rússia nas negociações de paz.
"Não vi nada que sugira que esteja avançando efetivamente, porque não vimos sinais de uma seriedade real" por parte da Rússia, disse Blinken em coletiva de imprensa em Marrocos.
O governo britânico, por sua vez, deckariy que julgaria a atitude de Putin e seu governo "por suas ações, não por suas palavras".
Após os anúncios desta terça-feira, as bolsas europeias dispararam, com altas de mais de 3% em Berlim e Paris, e os preços do petróleo caíram 5%, enquanto o rublo aumentou 10% em relação ao dólar.
Sete mortos em ataque em Mykolaiv
Já faz mais de um mês que Putin ordenou a entrada de tanques na Ucrânia, com a esperança de paralisar ou derrubar o governo democrático de Kiev.
Os combates já obrigaram mais de 10 milhões de pessoas (cerca de um quarto da população) a abandonar suas casas e, segundo Zelensky, deixaram ao menos 20 mil mortos. Mas os anúncios de hoje geraram um pouco de esperança.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que discutiria nesta terça-feira os "últimos acontecimentos" com os líderes do Reino Unido, França, Alemanha e Itália.
Na Ucrânia, os combates continuam em muitas regiões. O governo anunciou que sete pessoas morreram por um bombardeio russo contra um prédio do governo regional em Mykolaiv, uma cidade portuária do sul.
A Ucrânia afirma ter recuperado território nos últimos dias, incluindo a cidade de Irpin, nos arredores de Kiev. Também retomou as evacuações de áreas do sul atacadas pelas forças russas.
Expulsão de "espiões russos"
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, iniciou as negociações de Istambul, no palácio de Dolmabahce, reconhecendo as "legítimas preocupações" de ambas as partes, mas pedindo-lhes que "parem com esta tragédia".
O oligarca russo e proprietário do Chelsea, Roman Abramovich, alvo de sanções ocidentais, também estava presente, como intermediário.
Desde o início do conflito, Putin exige a "desmilitarização e desnazificação da Ucrânia", assim como a imposição de um status de neutralidade para o país e o reconhecimento de que o Donbass (uma região separatista pró-russa do leste da Ucrânia) e a península da Crimeia (anexada pela Rússia em 2014) não fazem mais parte da Ucrânia.
Os países ocidentais impuseram duras sanções econômicas em resposta à invasão e várias multinacionais retiraram seus negócios da Rússia.
A Rússia respondeu afirmando que só aceitará o pagamento do gás que vende para a União Europeia (UE) em rublos, uma decisão classificada como "inaceitável" pelo G7 de economias avançadas.
"Ninguém entregará gás de graça. Não é possível. E só se pode pagar em rublos", insistiu Peskov nesta terça-feira.
A Rússia também declarou que iria expulsar dez diplomatas da Estônia, Letônia e Lituânia, em resposta à expulsão de diplomatas russos pelo conflito.
Mas a escalada de expulsões continuou nesta terça: a Bélgica anunciou que decidiu expulsar 21 diplomatas russos suspeitos de espionagem, a Holanda 17 e a Irlanda quatro.
"Crime contra a humanidade" em Mariupol
As forças ucranianas contra-atacam no norte e lutam para manter o controle da cidade portuária de Mariupol, no sul.
As forças russas cercaram essa cidade e a bombardeiam constante e indiscriminadamente, deixando aproximadamente 160 mil pessoas presas com pouca comida, água e medicamentos.
Ao menos 5 mil pessoas morreram até agora em Mariupol, segundo um alto funcionário ucraniano que estimou que o número real de vítimas poderia chegar a 10 mil.
Zelensky disse que o ataque russo representa um "crime contra a humanidade, que está acontecendo ao vivo diante dos olhos do mundo".
O ministério das Relações Exteriores ucraniano classificou a situação como "catastrófica", afirmando que o ataque russo por terra, mar e ar transformou em "poeira" uma cidade em que viviam 450 mil pessoas.
ONU visita instalações nucleares
As potências ocidentais afirmam ter provas de crimes de guerra cometidos na Ucrânia, investigados pelo Tribunal Penal Internacional.
A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, disse na segunda-feira que havia provas de que as forças russas usaram bombas de fragmentação proibidas em Odessa e Kherson, no sul.
Biden expressou sua "indignação moral" pelo desenvolvimento da guerra e, no último fim de semana, chegou a sugerir que Putin "não pode continuar no poder", mas depois negou que busque uma mudança de governo.
O conflito também gerou temores sobre a segurança nuclear depois que a Rússia tomou várias instalações, entre elas a antiga usina de Chernobyl, onde aconteceu o pior desastre nuclear do mundo, em 1986.
O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o argentino Rafael Grossi, visitou a Ucrânia nesta terça-feira (29) para falar da "segurança e proteção" das instalações nucleares do país.