Logo Folha de Pernambuco

Eleições na Rússia

Rússia veta candidatura de jornalista opositora na eleição de 2024 por "erros na documentação"

Vitória do presidente Vladimir Putin, que está no poder desde 1999, é considerada certa no pleito e ele deve obter um novo mandato de seis anos

Jornalista e ex-vereadora Yekaterina Duntsova,Jornalista e ex-vereadora Yekaterina Duntsova, - Foto: Arden Arkman/AFP

A Comissão Eleitoral da Rússia vetou neste sábado a candidatura à eleição presidencial da jornalista e ex-vereadora Yekaterina Duntsova, uma ativista da democracia que defende o fim da ofensiva na Ucrânia.

A comissão alegou "erros na documentação" apresentadas para o registro da candidatura, informou a imprensa russa.

A presidente da comissão, Ella Pamfilova, declarou que o organismo decidiu por unanimidade impedir a candidatura da mulher de 40 anos às eleições de março.

A vitória do presidente Vladimir Putin, que está no poder desde 1999, é considerada certa no pleito e ele deve obter um novo mandato de seis anos.

"Você é uma mulher jovem e tem a vida pela frente", disse Pamfilova à candidata.

Duntsova criticou a decisão, que chamou de "triste". No Telegram, ela anunciou a intenção de apresentar um recurso de apelação à Suprema Corte da Rússia. "Não acabou", disse.

Na prática, no entanto, o processo tem pouca possibilidade de prosperar, pois qualquer candidatura que represente uma oposição direta à política do Kremlin não tem chance de receber autorização.

Duntsova também pediu aos dirigentes do pequeno partido liberal Yabloko que apoiem sua candidatura.

"Não podemos ficar de braços cruzados. Esta é a última oportunidade legal para que os cidadãos expressem sua divergência com a política das atuais autoridades", afirmou no Telegram. "Os russos precisam escolher". "Milhares de vidas dependem de sua decisão", destacou.

Pamfilova informou que 29 pessoas apresentaram documentação para registrar candidaturas à Presidência, que tem a votação marcada para março de 2024.

Jornalista de 40 anos, Duntsova já criticou as políticas do governo para a comunidade LGBTQIAP+ na Rússia, sinalizou que quer o fim da guerra na Ucrânia e diz que pretende libertar presos políticos em seu primeiro dia de mandato.

Envenenados, queimados e defenestrados: Relembre o destino de oligarcas e militares de Putin em 2023

O líder russo, que comanda o país desde 2000, anunciou sua candidatura para a eleição presidencial de março em 8 de dezembro. Se for reeleito, uma opção provável em um sistema político em que a oposição é quase inexistente, ele poderá permanecer no Kremlin até 2030.

As eleições ocorrem após dois anos de ofensiva na Ucrânia, o que desencadeou uma série de sanções ocidentais contra a Rússia. Putin, de 71 anos, disse que fará da "soberania" um dos principais objetivos de seu quinto mandato no Kremlin.

Todos os oponentes políticos de Putin estão presos ou exilados e Moscou proibiu críticas à sua campanha na Ucrânia.

Histórico das eleições russas
O atual presidente venceu as eleições de 2000 e 2004 sem correr riscos — em 2008 ele foi impedido por lei de concorrer, e foi "representado" por Dmitry Medvedev. Segundo analistas, apesar de ocupar o cargo de primeiro-ministro nesse mandato, era Putin quem dava as cartas em questões estratégicas.

Em 2012, Putin foi eleito mais uma vez, mas agora em meio à maior série de protestos desde os anos 1990, centrados no combate à corrupção e na necessidade de realizar eleições limpas na Rússia. Centenas de pessoas foram presas, incluindo seu principal opositor Alexei Navalny — desaparecido há mais de duas semanas —, e aquele momento pareceu ser um ponto de virada para Vladimir Putin no trato à oposição doméstica.

Na eleição seguinte, em 2018, Navalny manifestou a intenção de concorrer, mas foi vetado com base na lei da ficha limpa local. Naquele ano, Putin foi eleito com 77.53% dos votos, no primeiro turno.

Veja também

Newsletter