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ESTUDO

Principais vítimas de rituais de sacrifício no império Maia eram meninos de até 6 anos

Pesquisadores analisaram genoma de crânios de 64 crianças e bebês (de um total de 103) recuperados de uma câmara subterrânea em Chichén Itzá, México

Altar descoberto na Guatemala um pouco da cultura maiaAltar descoberto na Guatemala um pouco da cultura maia - Foto: Johan Ordonez/ AFP

Um estudo divulgado nesta quarta-feira na revista Nature revelou que as crianças vítimas de sacrifícios durante auge do império Maia em Chichén Itzá, no coração da Península de Yucatán, no México, eram cuidadosamente selecionadas: todas eram meninos de 3 a 6 anos de idade, muitos deles parentes próximos, incluindo dois pares de gêmeos idênticos, mortos entre o século VII e meados do século XII.

A descoberta veio da análise de pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha, do genoma de crânios de 64 crianças e bebês (de um total de 103) recuperados de uma câmara subterrânea no local, chamada chultún.

Os esqueletos foram encontrados na década de 1960, durante uma escavação para a construção de uma pista de pouso para um aeroporto — trabalho que teve de ser interrompido posteriormente devido à descoberta.

Etapas do estudo
A equipe primeiro usou o DNA para determinar o sexo das crianças como parte do sequenciamento de rotina. Os esqueletos daqueles com menos de uma certa idade não oferecem muitas informações sobre o sexo biológico, por isso esse aspecto das crianças era um mistério.

"As idades e dietas semelhantes das crianças do sexo masculino, a sua estreita relação genética e o fato de terem sido enterrados no mesmo local durante mais de 200 anos apontam para o chultún como um local de sepultamento pós-sacrificial", diz uma das autoras do estudo, a arqueóloga Oana Del Castillo-Chávez, do Instituto Nacional de Antropologia e História de Yucatán, em Mérida, no México.

Não se sabe por que esses meninos foram escolhidos para o sacrifício, explica o imunogeneticista e autor do estudo, Rodrigo Barquera, do Instituto Max Planck. Mas, ele acrescenta, é possível que irmãos, ou parentes próximos, tenham sido selecionados para refletir as provações dos "Heróis Gêmeos", figuras-chave da cosmologia maia que passaram por ciclos de sacrifício e renascimento.

— Os rituais dos tempos antigos tendem a ser específicos — disse Barquera ao Live Science. — Este estudo indica que, para algumas cerimônias religiosas, era importante que apenas crianças do sexo masculino fossem selecionadas para o sacrifício.

Metódo de sacrifício
Segundo o autor, não ficou completamente claro como foi a morte das crianças, embora não apresentassem sinais de trauma, sugerindo que não foram jogados na câmara. Uma das hipóteses é que todos tenham sido envenenados.

O motivo dos sacrifícios também é incerto, mas é possível que tenham sido usados como apelo aos deuses pela produtividade das colheitas.

— Morte e sacrifício para eles significam algo completamente diferente do que significam para nós. Para eles, foi uma grande honra fazer parte disso — disse Barquera.

Os primeiros arqueólogos que estudaram os maias sugeriam que a cultura tinha o costume de sacrificar jovens virgens. Essa teoria foi contestada nas últimas décadas com a descoberta de que a maioria das pessoas sacrificadas eram crianças.

— Isso obviamente contrariou o argumento de que a maioria era de mulheres jovens virgens sendo jogadas no local sagrado — disse ao New York Times Jamie Awe, arqueólogo da Universidade do Norte do Arizona, em Flagstaff, que não esteve envolvido no estudo. — A obsessão pelas virgens nos círculos arqueológicos surgiu provavelmente de uma combinação de ideias coloniais e dados limitados.

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