RACISMO

Saiba o que é "racismo científico", praticado por ginecologista no RJ contra mulher negra

Helena Malzac Franco é ré no Tribunal de Justiça do Rio após afirmar em consulta que "a negra tem um cheiro mais forte"

A ginecologista Helena Malzac A ginecologista Helena Malzac  - Foto: Reprodução

O termo "racismo científico" repercutiu após o caso envolvendo a médica ginecologista Helena Malzac Franco, que atende no Rio de Janeiro, vir à tona. A profissional responde na Justiça pelo crime de racismo por ter dito durante uma consulta que o odor na genitália da paciente negra era devido a sua “cor e pelo”.

No atendimento, ao ser questionada pela acompanhante da paciente se o cheiro acontecia apenas com pessoas negras, ela confirmou: “É muito comum. Não é 90%, mas a gente coloca uns 70%. Tem a ver com a melanina também”.

A consulta foi gravada pela fundadora e diretora-executiva do Instituto Identidades do Brasil, Luana Génot, que levou a afilhada de 19 anos para ser atendida pela profissional. O caso foi revelado no último domingo pelo “Fantástico”, da TV Globo.

Também chamado de racismo biológico, o racismo científico é um conjunto de teses desenvolvidas no século XVII que consistem na noção, adotada por pessoas racistas, de que existe uma raça superior e outra inferior; tudo baseado em "evidências empíricas". Algo como o reproduzido pela médica Helena Lanzac.

— A médica imputou uma condição que não é verdadeira, sem nenhum tipo de embasamento. Foi uma afirmação preconceituosa e houve generalização das mulheres negras. O racismo científico se vale de uma argumentação cientifica, que deve ser neutra e imparcial. No entanto, a pessoa cria uma informação preconceituosa e a dissemina através da neutralidade, autoridade e verossimilhança que um médico deve ter. A partir desses elementos, ela justifica o racismo. É histórica a existência de profissionais se valendo de expressões que, no fundo, são puro preconceito travestido de falsa ciência — explica Fabiano Machado da Rosa, advogado especialista em Compliance Antidiscriminatório.
 

A explicação, para o advogado, está além do comportamento da profissional de saúde — que disse ter 44 anos de profissão. Ela se insere em um contexto maior, do ambiente de trabalho e da sociedade. De acordo com o especialista, a falta de diversidade de médicos favorece um cenário de falta de empatia com pessoas negras.

— Falta diversidade entre médicos e enfermeiros. Isso acaba gerando uma falta de empatia desses profissionais, porque é um meio extremamente elitista. Existe um número baixíssimo de negros exercendo a medicina no Brasil. Esse é um problema da desigualdade social no país. Por outro lado, os hospitais precisam se reciclar e adotar uma nova visão de inclusão, respeito e acolhimento — afirma Fabiano Machado da Rosa. — Existem estudos nos Estados Unidos que mostram que [alguns hospitais] oferecem outros tipos de tratamento para mulheres negras na hora do parto porque afirmam, sem base nenhuma, que elas são mais fortes, aguentam a dor.

Entenda o caso
O Ministério Público do Rio denunciou Helena Malzac pelo crime de racismo por entender que a médica se referiu ao conjunto de mulheres negras. Ela se tornou ré e, em 31 de maio, foi interrogada na ação em que responde no Tribunal de Justiça do Rio. Durante a audiência, a ginecologista disse ter estudado sobre o tema na faculdade e que pesquisou sobre o assunto.

— Disse que as pessoas de cor têm um cheiro mais forte, pela minha experiência de 44 anos como ginecologista. Atendendo a todos os tipos de mulheres, a negra tem um cheiro mais forte. Tanto que essas firmas de desodorante, o desodorante para negro é diferente — afirmou Helena ao ser interrogada.

Especialistas ouvidos pelo “Fantástico”, no entanto, rechaçam a médica. Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Heitor de Sá Gonçalves explica que negros podem ter uma quantidade maior de glândulas apócrinas, que produzem mais secreção; no entanto, esta é inodora. Além disso, não existe relação entre a melanina e o odor corporal.

— Então, o que vai fazer essa secreção ter odor? Não tem nada a ver com a cor da pele. É a flora bacteriana, que é específica de cada indivíduo — disse.

No processo, Helena Malzac se defende dizendo que seu pai é negro e que “em momento algum ocorreu a intenção de ofender ou de discriminar alguém pela cor da pele.”

"O objetivo do comentário da ré foi estrito e visando exclusivamente tratar o mau cheiro com forte odor na região das virilhas"., diz trecho da defesa.

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