RIO DE JANEIRO

Saiba passo a passo como foi desmanchado o carro usado para matar a vereadora Marielle Franco

Delação de Élcio de Queiroz, que dirigiu o carro na emboscada à parlamentar e ao motorista Anderson Gomes, relata que Edilson Barbosa dos Santos foi o responsável por descartar o veículo

Ex-policial militar Élcio de Queiroz fez delação premiadaEx-policial militar Élcio de Queiroz fez delação premiada - Foto: Reprodução MP

Com a prisão de Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha, apontado como o dono do ferro-velho que desmanchou o Cobalt prata, usado na emboscada à vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, a Polícia Federal e o Ministério Público esperam elucidar mais uma lacuna deixada pela Polícia Civil do Rio sobre o caso. Baseados na delação de Élcio de Queiroz, réu no duplo homicídio, agentes da Polícia Federal e do Ministério Público, conseguiram um mandado de prisão contra Edilson, que foi detido nesta quarta-feira, próximo a sua casa, no distrito de Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias.

Após a execução da vereadora e de Anderson, Élcio e o ex-sargento da PM Ronnie Lessa — motorista e atirador —precisavam se livrar do carro usado no crime imediatamente. Ambos foram para o Méier, na Zona Norte, esconder o Cobalt na casa do irmão de Lessa. O ex-sargento, por sua vez, pediu ajuda ao seu amigo, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, que conhecia Edilson, dono de um ferro-velho no Morro da Pedreira, na Pavuna, na Zona Norte.

Na delação feita à Polícia Federal, em junho do ano passado, Élcio de Queiroz diz que o sumiço do carro usado no crime foi feito por Orelha, a pedido de Lessa. Queiroz cita a preocupação de Lessa no desmanche completo do carro usado para matar a vereadora: "Não pode vender peça" teria dito a Orelha.

Os históricos de chamadas de Lessa e do ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, outro réu no caso, obtidos pela Delegacia de Homicídios em 2018, mostram que, nos dias após o assassinato, 14 de março de 2018, ambos fizeram ligações para Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha. No dia seguinte ao crime, entre 15h31 e 19h21, Suel ligou sete vezes para Orelha. Lessa ligou para Orelha às 8h50 do dia 16, mesmo horário que Queiroz aponta como o da entrega do veículo para desmanche. Mesmo de posse dos históricos de chamadas, a DH não procurou identificar para quem os dois suspeitos ligaram.

 

Élcio contou à polícia que no dia 16 de março ele foi dirigindo o Cobalt prata em direção a Rocha Miranda, na Zona Norte, para entregar o veículo a Orelha. Durante todo o percurso, ele foi acompanhado por Ronnie Lessa em outro veículo. O trajeto feito pelos dois foi beirando a linha do trem até chegar a Avenida dos Italianos, onde Queiroz e Lessa teriam encontrado Orelha, próximo a uma pracinha do bairro. O local, inclusive, fica perto da área onde o ex-bombeiro e o ex-sargento da PM têm uma rede ilegal de internet e TV a cabo. Ambos quebraram a placa do carro em diversos pedaços, jogando-os na linha do trem que tinha no caminho.

Neste dia, segundo Élcio, Orelha entrou no Cobalt e Lessa explicou que precisava de um fazer um favor. Na tentativa de se justificar, ele teria dito que o carro estava saindo na mídia e que não tinha nada a ver com ele e que aquele carro era parecido com o que saiu na mídia. E, para evitar problemas, precisaria se livrar dele.

Orelha então teria ficado apavorado e dito a Lessa que não queria saber de nada. "Não precisa me contar nada não. O Suel já falou comigo" teria dito em resposta ao pedido de Lessa, segundo Élcio.

A delação premiada feita pelo ex-PM Élcio de Queiroz à Polícia Federal ajudou a esclarecer alguns pontos até então obscuros da dinâmica dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, e ainda expõe lacunas da investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ).

Veja também

Presidente do Irã diz que pode retomar contato com os EUA, se país voltar ao acordo nuclear
IRÃ

Presidente do Irã diz que pode retomar contato com os EUA, se país voltar ao acordo nuclear

Os Mercedes: família salvadorenha sofre com gangues e governo
gangues

Os Mercedes: família salvadorenha sofre com gangues e governo

Newsletter