"Veneno de sapo": o que é e quais os riscos da droga alucinógena apreendida em Goiás
Substância psicotrópica 5-MeO-DMT se liga a receptores serotonérgicos no sistema nervoso provocando o forte efeito de alucinação
O veneno do sapo Bufo alvarius, uma substância alucinógena considerada uma das mais potentes do mundo, foi apreendido no Brasil de forma inédita em Goiás e no Rio de Janeiro durante uma operação conjunta realizada pela Polícia Civil de ambos os estados. Foram aproximadamente 12 gramas detidos cujo uso estaria ligado a cerimônias espirituais de forma ilegal.
“A investigação aponta que a substância seria ministrada pelo líder espiritual em rituais em todo o Estado de Goiás pelo valor de R$ 300 por pessoa. A quantidade apreendida poderia ser fornecida para mais de 500 pessoas, o que demonstra o alto poder alucinógeno da substância. O líder espiritual lucraria cerca de R$ 150 mil com a atividade", diz nota da Polícia Civil de Goiás sobre a apreensão.
O que é o "veneno do sapo"?
O veneno do sapo Bufo alvarius, também conhecido como Sapo do Rio Colorado, é considerado uma droga ilegal por conter o psicotrópico 5-MeO-DMT, ou 5-Metoxi-N,N-Dimetiltriptamina, que faz parte da lista F2 de substâncias sujeitas ao controle especial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É a mesma lista em que se enquadram outras drogas, como o LSD, o MDMA (ecstasy) e a psilocibina.
Considerado um dos mais potentes alucinógenos do mundo, e muito utilizado em cerimônias espirituais, a substância é obtida por meio do animal que habita o Noroeste do México e o Sudoeste dos EUA, ou seja, que não é comum no Brasil.
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Segundo o comunicado da Polícia Civil de Goiás, o veneno do sapo “é extraído e, após passar por um processo de secagem, se cristaliza, e, ao ser inalado em pequenas quantidades, causa forte alucinação”. O efeito dura por aproximadamente uma hora.
Em um estudo publicado no ano passado na revista científica Journal of Neurochemistry, liderado por pesquisadores da Universidade Maastricht, na Holanda, cientistas descrevem a forma como o 5-MeO-DMT interage no organismo.
Eles explicam que a substância se liga a dois receptores serotoninérgicos, o 5-HT1A e o 5-HT2A, no Sistema Nervoso Central (SNC). A serotonina é um neurotransmissor muito ligado ao humor e à sensação de bem-estar, por isso a sua ativação proporciona os efeitos alucinógenos.
Os cientistas escrevem que “os efeitos subjetivos após a administração de 5-MeO-DMT incluem distorções na percepção auditiva e temporal, amplificação de estados emocionais e sentimentos de dissolução do ego que geralmente são de curta duração, dependendo da via de administração”.
O potencial tem levado o veneno, assim como outras substâncias psicoativas, como a psilocibina, a ser estudado para o tratamento de transtornos de saúde mental, como a depressão e a ansiedade.
Porém, embora trabalhos iniciais mostrem resultados promissores, ainda não há estudos conclusivos sobre o uso clínico da substância. Além disso, seu consumo, e venda, permanecem ilegais em países como Estados Unidos e Brasil por trazer uma série de riscos ao usuário.
"É uma experiência tão intensa que, na maioria das vezes, fazer isso em uma festa não é seguro. Não é uma droga recreativa. Se as pessoas receberem uma dose muito alta, elas podem "desaparecer" e se desassociar de sua mente e corpo" disse Alan K. Davis, psicólogo clínico e professor assistente na Unidade de Pesquisa Psicodélica da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, ao portal AddictionCenter.
Além disso, a nota da Polícia Civil destaca que doses excessivas podem provocar ataques de pânico, paranóia, problemas respiratórios e cardiovasculares, como uma parada cardiorrespiratória, convulsões e até mesmo a morte.
“Sintomas que, inclusive, foram relatados por testemunhas ouvidas pela Denarc (Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos) que já fizeram uso da substância”, complementa o comunicado.
Como foi a apreensão do "veneno do sapo" no Brasil?
A Polícia Civil de Goiás recebeu uma denúncia de que a droga seria utilizada em uma cerimônia espiritual na Vila Itatiaia, em Goiânia. No dia 18 de março, os policiais foram ao local e apreenderam aproximadamente 0,5 grama da substância.
Depois, mediante decisão judicial, a polícia apreendeu mais 5,5 gramas na residência do líder espiritual, em Pirenópolis, no dia 28 de março. A droga estava enterrada no quintal da casa.
Durante as buscas, a Polícia Civil também identificou que uma outra pessoa, na cidade do Rio de Janeiro, estaria em posse da substância.
“A informação foi repassada aos policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE/PCRJ), que conseguiram localizar em poder de um outro investigado uma outra porção da droga com aproximadamente 5,5 gramas”.