Secretária afirma que negacionismo e baixa procura podem contribuir para mais desperdício de vacinas
Segundo o ministério, de 2021 a 2023 venceram 38.951.640 doses
Após a divulgação de que 39 milhões de vacinas contra Covid perderam a validade durante o governo de Jair Bolsonaro, agora o Ministério da Saúde trabalha para que não haja mais desperdícios. A secretária de Vigilância Sanitária da pasta, Ethel Maciel, afirma, contudo, que o negacionismo e campanhas ineficientes por parte da antiga gestão têm provocado uma procura aquém do esperado pelos imunizantes reservados ao público infantil. De acordo com ela, se esse cenário não for revertido, outros lotes poderão perder a validade.
Segundo o ministério, de 2021 a 2023 venceram 38.951.640 doses. O montante representa prejuízo de aproximadamente R$ 2 bilhões aos cofres públicos.
"O negaciosismo é a razão para as vacinas terem vencido. Tivemos até campanhas contra vacina e que desestimulavam a vacinação. Ainda existe um problema bastante sério na [vacinação] do público infantil devido a um intenso movimento de desinformação", afirma a secretária.
De acordo com a Saúde, a cobertura contra a Covid entre o público infantil chega a apenas 25% em alguns estados, e não passa de 50% em nenhum.
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Em dezembro, a pasta fechou com a Pfizer compra de 50 milhões de doses pediátricas da vacina contra a Covid-19, indicadas para crianças acima de 6 meses. A primeira remessa do acordo chegou ao país em janeiro, com 7,7 milhões de doses. No mesmo mês, o ministério distribuiu aos estados 740 mil doses da Coronavac infantil para a retomada da vacinação de 3 a 11 anos.
O Ministério da Saúde reforça que o controle do uso das doses em validade é feito com reforço na campanha de comunicação, expansão de locais para se vacinar e articulação com as secretarias estaduais e municipais. Não investir nas três estratégias, para Maciel, foi o principal erro dos gestores nos últimos anos de pandemia:
"Não é que foram compradas doses a mais, o problema é que não teve campanha publicitária de incentivo à vacinação e nem alinhamento com os estados e municípios. Temos nos reunido com eles de forma contínua porque são eles que realizam o trabalho na ponta".
Ainda segundo a secretária, o desperdício de imunizantes teria sido menor se o grupo técnico do período de transição tivesse recebido as informações sobre o estoque do Ministério da Saúde quando foi solicitado, a tempo de preparar uma campanha de vacinação já no início do ano com as unidades que venceram no final de fevereiro.
"Esse acesso não foi dado. Entre dezembro e janeiro, registramos um aumento de casos e poderíamos ter feito uma campanha para idosos", pondera. "Só conseguimos as informações na primeira semana de gestão, e aí já estava tarde até para distribuir aos estados".
Além de Covid, também há vacina fora da validade no estoque para doenças como febre amarela e tríplice viral. No entanto, em quantidade menor, aponta a secretária.
Do total, mais de 33 milhões de imunizantes já foram incinerados de janeiro até março. Nos próximos 90 dias, mais 5 milhões de doses vencem e outras 15 milhões terão seu prazo de validade expirado em 180 dias.