Secretário de Estado americano não falou em tirar Maduro do poder na Venezuela
Pompeo se reuniu com Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores do Brasil, como parte de uma agenda de visitas a quatro países da América do Sul
Um profissional contratado pela embaixada dos EUA no Brasil cometeu um erro durante a tradução simultânea da entrevista coletiva concedida pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, na última sexta-feira (18), em Boa Vista, em Roraima.
Pompeo se reuniu com Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores do Brasil, como parte de uma agenda de visitas a quatro países da América do Sul.
A Folha de S.Paulo, assim como outros veículos, reproduziu o erro a partir da tradução feita pelo profissional, segundo o qual o secretário teria dito que tiraria do poder o ditador Nicolás Maduro. Pompeo fez duras críticas ao líder venezuelano, mas não disse a frase "Vamos tirá-lo [Maduro] de lá".
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Textos da Folha que citavam a suposta afirmação foram corrigidos.
Durante a entrevista coletiva, Pompeo foi questionado por um jornalista se Maduro cairia "em algum momento no futuro próximo". Um trecho da resposta foi então incorretamente traduzido para o português como "o nosso mundo está consistente. E a gente vai tirar essa pessoa e vai colocar no lugar certo".
A tradução correta, a partir da transcrição publicada no site do Departamento de Estado americano e do áudio gravado pelo repórter do jornal que acompanhou a entrevista coletiva, é: "Nossa vontade é coerente, nosso trabalho será incansável e chegaremos ao lugar certo". No original, em inglês, a frase de Pompeo foi: "Our will is consistent, our work will be tireless, and we will get to the right place".
A Folha também checou o áudio com a tradução feita pelo profissional contratado pela embaixada americana e confirmou o erro na adaptação da fala do secretário para o português.
Durante a entrevista, Pompeo e Ernesto anunciaram ainda que Brasil e EUA não vão mudar de estratégia e continuam apoiando o autodeclarado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, líder que tem perdido relevância na oposição ao regime socialista.
Para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a visita de Pompeo é um sinal de que seu governo está alinhado com o de Donald Trump "em busca de um bem comum".
A presença do americano, entretanto, despertou reações contrárias de outros políticos brasileiros. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou a visita como uma "afronta às tradições de autonomia e altivez" da política externa brasileira.
O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva também expressou indignação com a visita. Para Lula, a atitude do chanceler brasileiro "foi um desrespeito frontal à soberania do Brasil" por "dar palco a descabidas declarações belicistas sobre a Venezuela".
Nesta segunda-feira (21), a Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) aprovou um convite a Ernesto para que ele preste esclarecimentos aos senadores sobre a visita de Pompeo. Até a tarde desta segunda, o Itamaraty não respondeu à Folha se o ministro irá ou não ao colegiado.