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UCRÂNIA

Secretário-geral da ONU alerta para risco de guerra na Ucrânia se espalhar

Em sua fala, Guterres lembrou para os cientistas que vigiam o chamado Relógio do Juízo Final, a humanidade nunca esteve tão perto do fim

Guerra na UcrâniaGuerra na Ucrânia - Foto: Anatolii Stepanov / AFP

À medida que aumentam os "risvos de escalada" na Ucrânia, o mundo se dirige "com os olhos bem abertos" para uma "guerra mais ampla", alertou, nesta segunda-feira (6), o secretário-geral da ONU, António Guterres, em um discurso sombrio no qual apresentou suas prioridades para 2023.

Guerra na Ucrânia, crise climática, pobreza extrema... "Começamos 2023 de olho em uma convergência de desafios nunca vista em nossas vidas", disse António Guterres a uma Assembleia Geral das Nações Unidas, que fez um minuto de silêncio pelas vítimas do terremoto que devastou Turquia e Síria.

Em sua fala, Guterres lembrou que para os cientistas que vigiam o chamado Relógio do Juízo Final, a humanidade nunca esteve tão perto do fim. "Precisamos acordar e começar a trabalhar", implorou, enumerando os temas urgentes de 2023. No topo da lista, a guerra na Ucrânia.

 

"As perspectivas de paz não param de diminuir. Os riscos de uma escalada e de mais uma carnificina não param de aumentar", disse.

"Temo que o mundo esteja caminhando, sonâmbulo, para uma guerra mais ampla. Temo o que está fazendo com os olhos bem abertos", afirmou, antes de mencionar outras ameaças para a paz, do conflito israelense-palestino ao Afeganistão, Mianmar, Sahel e Haiti.
 

Bombardeio na Ucrânia

"Se todos os países cumprissem as obrigações que emanam da Carta (das Nações Unidas), o direito à paz estaria garantido", insistiu.

Em termos mais gerais, Guterres denunciou a falta de uma "visão estratégica" e "o viés" imediatista dos dirigentes políticos e econômicos que, afirmou, "não só é profundamente irresponsável, (mas) imoral".

"Migalhas" para os pobres 
Guterres também destacou a necessidade de se pensar nas gerações futuras, relembrando seu apelo por uma "transformação radical" da arquitetura financeira mundial.

"Existe algo fundamentalmente perverso no nosso sistema econômico e financeiro", continuou, ressaltando a responsabilidade pelo aumento da pobreza e da fome, da desigualdade entre ricos e pobres ou do peso da dívida dos países em desenvolvimento.

"Sem as reformas fundamentais, os países e indivíduos mais ricos continuarão acumulando riquezas e deixando apenas migalhas às comunidades e países do sul", disse.
 

Guerra na Ucrânia

Cuba, que preside o G77+China, grupo integrado por 134 países em desenvolvimento, pediu, neste sentido, uma "ação urgente e significativa" para corrigir os enormes desequilíbrios "que empurram os países em desenvolvimento para a beira do abismo", avivados pela pandemia de covid-19, a alta dos preços dos alimentos e o abismo tecnológico.

Em setembro de 2022, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento concluiu que o mundo havia regredido em cinco anos em termos de desenvolvimento humano (saúde, educação, padrão de vida).

"As metas de desenvolvimento estão desaparecendo no espelho retrovisor", lamentou, em referência aos 17 objetivos estabelecidos em 2015 para eliminar a pobreza, garantir a segurança alimentar para todos ou o acesso a energias limpas a preços acessíveis até 2030.

"Temos a oportunidade de salvá-los", disse o secretário-geral da ONU, que está organizando uma cúpula em Nova York em setembro para avaliar as metas de desenvolvimento.

Guterres também pediu ao G20 que adote medidas de apoio aos países emergentes e suas responsabilidades na luta contra o aquecimento global.

A ambição climática também será o tema central de outra cúpula em setembro em Nova York, para a qual foram convidados altos dirigentes mundiais, "com condições".

"Mostrem-nos ações aceleradas para esta década e novos planos ambiciosos de neutralidade de carbono, ou, por favor, não venham!", disse ele, também enviando uma mensagem especial aos produtores de petróleo: "se não são capazes de estabelecer um caminho plausível para zerar as emissões líquidas de energia (...), não deveriam estar no negócio".

"Precisamos de uma revolução nas energias renováveis, não de um ressurgimento autodestrutivo dos combustíveis fósseis", assegurou.

Da mesma forma, considerou que os direitos das mulheres sofrem um "revés intenso" no Afeganistão, embora não só neste país. "Metade da humanidade enfrenta as violações de direitos humanos mais estendidas de nosso tempo", finalizou.

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