Segundo menor vertebrado do mundo vive no Brasil; conheça o sapo-pulga
Apelido vem de propensão do animal a saltar distâncias cerca de 30 vezes maiores que seu comprimento
Com 6,95 minúsculos milímetros de comprimento, essa criatura caberia na ponta do seu dedo. É menor do que várias espécies de formigas. Embora pareça um grilo, não é um inseto: é um sapo extremamente pequeno. O animal, descoberto há poucos meses, e é um dos menores vertebrados conhecidos na Terra.
“Estamos falando dos limites do tamanho da vida na Terra”, disse Luís Felipe Toledo, herpetólogo da Universidade Estadual de Campinas.
Ele e seus colegas descreveram o sapo em um estudo publicado em outubro no periódico PeerJ, nomeando-o Brachycephalus dacnis em homenagem ao projeto de conservação Dacnis por meio do qual ele foi avistado. Toledo teve sua primeira pista sobre o minúsculo sapo quando um colega compartilhou várias gravações de áudio de espécies de sapos em miniatura que ele estava coletando na Mata Atlântica. Assim que ele ouviu, sabia que estava ouvindo algo novo.
“Ah, na verdade são duas espécies que você tem em mãos”, lembra Toledo.
A Mata Atlântica tem muitos sapos do gênero Brachycephalus, que também são conhecidos como sapos-de-sela. Sua propensão a saltar distâncias cerca de 30 vezes maiores que o comprimento do corpo levou ao apelido de “sapos-pulgas”.
Como os sapos Brachycephalus são tão pequenos, algumas espécies diferentes parecem muito semelhantes e não podem ser distinguidas apenas pela visão. No entanto, cientistas descobriram que seus chamados de acasalamento são distintos o suficiente para que as fêmeas sejam atraídas pelo macho correto de sua espécie, e até mesmo um ouvinte humano inexperiente pode ouvir as diferenças.
“Você sabe imediatamente que são sons diferentes”, disse Toledo, que descreveu o chamado de acasalamento do B. dacnis como mais curto, com menos notas, suave no volume e alegre no som. “As pessoas geralmente pensam que é um grilo, não um sapo.”
Leia também
• Falso QR Code, oferta de emprego no exterior: conheça golpes que podem hackear seu WhatsApp
• HMPV: conheça os sintomas da doença viral tem acometido crianças na China
• Garzón: conheça o povoado uruguaio que conquistou a arte internacional
Testes de DNA confirmaram que B. dacnis é geneticamente diferente de outras espécies do seu grupo. Isso faz com que seja a sétima espécie de sapo-pulga conhecida pela ciência, e a segunda menor espécie de vertebrado conhecida no planeta. Um espécime encontrado de outro sapo Brachycephalus é ligeiramente menor, com 6,5 milímetros.
Essas diferenças são quase imperceptíveis, de acordo com Toledo, e é apenas uma questão de quais espécimes foram registrados até agora — os cientistas podem em breve encontrar um espécime da nova espécie B. dacnis que seja tão pequeno quanto.
“Há um número incontável de sapos minúsculos desconhecidos por aí”, diz Mark Scherz, curador de herpetologia do Museu de História Natural da Dinamarca, que não estava envolvido neste estudo. Ele acrescentou que “essas espécies pequenas foram negligenciadas anteriormente, em virtude de quão difíceis podem ser de encontrar e coletar”.
Entenda: tubarão-leopardo é inseminado com esperma de animais selvagens em técnica inovadora contra extinção
Antes dessas descobertas, o recorde de menor vertebrado era detido pelo sapo Amau da Nova Guiné, com 7 milímetros de comprimento, e por um peixe gobião anão de água doce, com 7,9 milímetros. A equipe de Toledo também realizou tomografias computadorizadas especializadas de alta resolução no sapo para descobrir mais sobre o funcionamento interno de como um sapo ainda pode ser um sapo quando está tão miniaturizado.
Enquanto sapos geralmente têm quatro dedos nas mãos e cinco nos pés, B. dacnis, como outros sapos em miniatura, tem dois dedos nas mãos e três nos pés. Partes de seus ouvidos internos também estão faltando.
Várias espécies de Brachycephalus também têm ossos fundidos e ossificados no crânio, disse Célio Haddad, da Universidade Estadual Paulista, que não estava envolvido no estudo. Mas B. dacnis não tem: sua cabeça é feita como a de um sapo de tamanho normal.
“Não sabemos exatamente por que essa dualidade ocorre”, disse Haddad.
B. dacnis, como todos os sapos Brachycephalus, também não está sujeito ao tipo de metamorfose anfíbia comumente ensinada em aulas básicas de biologia. Ele põe apenas dois ovos a cada ciclo reprodutivo, que eclodem em sapos totalmente formados em vez de girinos. Embora a miniaturização torne esses sapos vulneráveis a pequenos predadores, como formigas e aranhas, a troca parece valer a pena de uma perspectiva evolutiva, disse Jodi Rowley, curadora de anfíbios e répteis do Museu Australiano, que não estava envolvida no estudo.
“A miniaturização permite que os sapos vivam em um mundo totalmente novo, no qual sapos maiores simplesmente não conseguem entrar”, disse Rowley, como uma espessa camada de folhas.
Além de fornecer abrigo contra predadores, esses espaços “estão cheios de comida muito pequena, da qual sapos maiores não conseguem tirar vantagem”. Considerando que a Mata Atlântica brasileira foi severamente desmatada, aprender mais sobre esses pequenos sapos ajuda na sua conservação.
“Grande parte da nossa biodiversidade, conhecida e desconhecida, é pequena e camuflada e, não surpreendentemente, muitas vezes passa despercebida”, disse Rowley.