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França e Brasil

Sem Bolsonaro, Macron pode voltar a olhar para a América Latina

A França considera o Brasil um "parceiro inevitável na América Latina"

O presidente francês Emmanuel Macron (C) participa de uma mesa redonda sobre proteção infantil no Palácio do Eliseu como parte do Fórum da Paz de Paris, em Paris, em 10 de novembro de 2022O presidente francês Emmanuel Macron (C) participa de uma mesa redonda sobre proteção infantil no Palácio do Eliseu como parte do Fórum da Paz de Paris, em Paris, em 10 de novembro de 2022 - Foto: Ludovic Marin / POOL via AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, viajou para a América Latina apenas uma vez, para o G20 da Argentina em 2018, mas a vitória de Lula e seus esforços de mediação na Venezuela agora podem permitir que olhe para a região.

"Macron não deve desperdiçar esta oportunidade. Acho que deve ir à posse de Lula em 1º de janeiro e levar a França de volta à América Latina", disse à AFP o cientista político Gaspard Estrada.

O presidente francês viajou para Buenos Aires em 2018 para uma reunião multilateral do G20. "Por causa da pandemia, o presidente não teve a oportunidade de ir bilateralmente" a nenhum país latino-americano, defendeu a Presidência francesa na terça-feira.

A União Europeia (UE) é o terceiro parceiro comercial da América Latina, atrás dos Estados Unidos e da China, com 176 bilhões de euros em negócios em 2020 (quase 179 bilhões de dólares no câmbio atual), segundo a Fundação UE-ALC.

Em um contexto de "grande mudança política", como no Brasil, Chile e Colômbia, "a França, que estava muito afastada da América Latina, está se aproximando", disse à AFP a deputada do partido governista Éléonore Caroit, eleita pelos franceses na região.

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na principal economia e potência regional abre caminho para essa aproximação com uma região que compartilha com a UE uma visão de combate às mudanças climáticas e ao multilateralismo.

Os gigantescos incêndios na Amazônia em 2019, de fato, romperam as relações de Jair Bolsonaro com a Europa, a ponto de não haver retorno com o líder francês, cuja esposa Brigitte Macron foi insultada pelo presidente por seu físico.

Brasil, "um parceiro inevitável"

"Esperava com muita impaciência esse momento para podermos relançar uma parceria estratégica à altura da nossa história e dos desafios que temos pela frente", disse Macron a Lula em seu primeiro telefonema após a vitória do petista.

A França considera o Brasil um "parceiro inevitável na América Latina", com o qual também partilha a sua maior fronteira terrestre na região, afirmou na terça-feira a secretária de Estado para a Europa, Laurence Boone, antecipando um novo roteiro "nos próximos meses".

França e Brasil lançaram uma associação estratégica em 2006, com o conservador Jacques Chirac e Lula no poder, respectivamente, que "começou a declinar" em 2016 durante a presidência de Michel Temer até atingir níveis mínimos com Bolsonaro, explicou Gaspard Estrada.

O especialista do Observatório Político da América Latina e do Caribe (Opalc), da prestigiosa universidade Sciences Po, assegurou que as discussões de ambas as potências, com uma rica relação bilateral, "têm impacto em nível global".

Mas a posição do Brasil sobre a guerra na Ucrânia pode ser um obstáculo. "Macron gostaria que tomasse uma posição mais explícita sobre a condenação da guerra" como "sanções", mas o Brasil precisa de fertilizantes russos para sua agricultura, afirmou.

A atual edição do Fórum de Paris sobre a Paz mostra esse interesse renovado da França. Nesta quinta-feira, o centrista Macron recebeu seus pares de esquerda da Colômbia, Gustavo Petro, e da Argentina, Alberto Fernández, no Palácio do Eliseu.

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