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Saudades da Folia

Sem Carnaval, ladeiras de Olinda ficam quase vazias; equipes reforçam fiscalização

Poucas pessoas foram à cidade-patrimônio neste domingo que seria de festa de Momo

Ladeiras vaziam marcam o não Carnaval de OlindaLadeiras vaziam marcam o não Carnaval de Olinda - Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Pelo segundo ano consecutivo, as ladeiras de Olinda deixaram de receber a alegria do Carnaval. A multidão, os blocos, e as cores saíram de cena e deram espaço para a calmaria, o silêncio e o desejo da festividade retornar o mais breve possível.

Com o intuito de conter o avanço da Covid-19 em Pernambuco, o Governo do Estado decidiu proibir as festas carnavalescas. Até o dia 1º de março, estão proibidas festas públicas e privadas, bailes, shows e desfiles de blocos e troças. 

No Sítio Histórico, em locais conhecidos pelos foliões como os Quatro Cantos, o Alto da Sé, a Ladeira da Misericórdia e a Praça João Alfredo, o espírito carnavalesco não se apagou. 

Para evitar aglomerações e festas clandestinas, as equipes de fiscalização da Guarda Municipal Civil de Olinda e da Polícia Militar de Pernambuco circulavam pelos principais pontos de folia. 

A fotógrafa Rebecca Torquato, moradora do Recife, foi acostumada desde pequena a frequentar as ladeiras de Olinda. Este ano, mesmo não havendo Carnaval, ela não deixou de se fantasiar de bailarina e comemorar de um jeito próprio.

"Mesmo com a proibição, é impossível não viver o Carnaval. A gente não vai poder estar todo mundo junto, mas vamos viver pelo menos a essência. Se a gente não pode brincar, damos pelo menos uma olhadinha para relembrar o passado, passar pelas ruas, tirar algumas fotos", disse.

Sensação de tristeza, mas por um bem maior. É assim que a fotógrafa define os dias sem a festividade. “Eu nunca imaginei que as ruas estariam vazias, é triste, é penoso, mas é necessário. As ladeiras daqui tem uma energia, que mesmo sem ninguém, você sente, se arrepia. Aqui nos Quatro Cantos era um fervor”, acrescentou. 

Apesar de gostar muito do Carnaval, a artista plástica Ledinalva Oliveira Steiner, mora há 65 anos na rua Prudente de Morais, um dos principais pontos de folia. Ela achou maravilhoso não ter a festividade de momo este ano por conta da Covid-19

“A gente tem que cuidar da saúde e depois do Carnaval. Esses dois anos são necessários para tudo voltar ao normal. Quando tem Carnaval, eu adoro. Vou para a rua, danço meu frevinho e entro. Vamos cuidar da saúde e curtir depois com certeza”, destacou. 

No Alto da Sé, alguns turistas circulavam para conhecer a cidade. Artesãos, comerciantes e tapioqueiras vendiam os seus produtos para quem estava passando pelo local. Mesmo sem Carnaval, o espírito carnavalesco não deixa a cidade em nenhum instante e é sentido através das cores, das culturas e das memórias

O artista de rua Gilberto Nascimento Ferreira, conhecido como Diabo Lin, mora no bairro do Amparo. Ele é palhaço, mágico, anda na corda, em perna de pau e engole até fogo. Para o artista, o importante é divertir as pessoas não importa o lugar. Desde criança, a família dele sempre o fantasiava para a época. 

Este ano, o domingo de Carnaval começou triste para o artista sem a magia tomando conta da cidade. “Eu fico triste porque muitos dependem de trabalhar e ganhar o pão de cada dia com o Carnaval. Eu acordei meio triste, mas sabendo que Deus faz tudo certo. Quando tiver o próximo Carnaval, eu quero que aqui esteja lotado”, pontuou. 

O diretor comercial Fabricio Vimercati e sua família vieram do interior do Espírito Santo para conhecer as expressões culturais que permeiam Olinda. Para ele, é visível que está faltando algo nesse período. 

“Estou aqui com a minha família que está super interessada em conhecer os bonecos e as caricaturas que fazem parte da cultura e do Carnaval daqui. A chuva que está garoando dá esse sentimento de perda, que está faltando algo. Eu tenho certeza que para as pessoas que são daqui deve ser mais importante ainda do que para a gente, porque vivem isso frequentemente desde a infância. Dá pra ver pelo clima na cidade, as pessoas estão com caras não tão festiva do que estariam”, disse. 

Criado em 1993, o bloco “Lavou Tá Novo Zerado e o Guia de Olinda” sai pelas ruas de Olinda toda segunda-feira de Carnaval. A agremiação foi criada por José Carlos Urbano Dornelas, que é morador da cidade, artista plástico e guia turístico. Para o artista, a sensação é de perda por mais um ano sem o bloco sair pelas ruas. “Eu estou sentindo um vazio muito grande. É uma sensação de perda”, ressaltou. 

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