Sem conseguir sair do Egito, palestino sonha em voltar para Gaza para reencontrar família
Mahmoud Alsaqqa, funcionário da Oxfam, aguarda sinal verde para atravessar em segurança a fronteira de Rafah, enquanto Israel não cessa ataques
À medida que o número de deslocados internos da Faixa de Gaza chega a quase 340 mil e as Nações Unidas discutem a proposta do governo brasileiro de se criar um corredor humanitário ligando o território palestino ao Egito, para retirar a população da zona de conflito e entregar suprimentos aos que ficarem, Mahmoud Alsaqqa só deseja fazer o caminho contrário e abraçar sua mulher e filhos.
Funcionário da organização internacional Oxfam em Gaza, Alsaqqa está há quatro dias sem conseguir deixar o Egito, devido à escalada do conflito armado entre Israel e o Hamas. Ele aguarda sinal verde para atravessar em segurança a fronteira de Rafah em direção ao território palestino, enquanto as forças israelenses não cessam os ataques.
— Não é fácil ser separado de seus filhos e familiares. É uma experiência realmente angustiante e dolorosa — comentou em depoimento por áudio compartilhado com O GLOBO. — Tudo o que sei é que minha esposa e meus três filhos estão se deslocando de um lado para outro em busca de um lugar seguro, que não existe na Faixa de Gaza neste momento.
O Egito afirmou nesta quinta-feira que a fronteira em Rafah não está fechada, mas que a infraestrutura do lado palestino foi destruída, o que impede a livre circulação de pessoas.
"A fronteira de Rafah, entre Gaza e Egito, está aberta e em operação, e não foi fechada em nenhum momento desde a crise atual, mas infraestrutura do lado palestino foi destruída após sucessivos bombardeios israelenses, impedindo que o trânsito ocorra normalmente", declarou a diplomacia egípcia em comunicado.
Israel vem bombardeando de maneira incessante a região desde o ataque terrorista do grupo armado palestino Hamas no sábado, como parte do anunciado "cerco total" a Gaza — já denunciado pela ONU como uma violação do direito humanitário internacional.
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Para cumprir a promessa do ministro da Defesa, Yoav Gallant, de deixar Gaza "sem eletricidade, sem comida, sem água e sem gás", as Forças de Defesa de Israel (IDF) intensificaram os bombardeios contra a zona portuária e outras posições distribuídas ao longo do território palestino.
— Todas as pessoas, locais e edifícios se tornaram alvos dos israelenses [em Gaza] — disse Alsaqqa. — A incapacidade de segurar meus filhos nos braços e acalmá-los é realmente de partir o coração.
Ainda segundo ele, “bombas, projéteis e foguetes estão por toda parte, destruindo a infraestrutura e os edifícios e provocando centenas de mortes”, a maioria de “mulheres e crianças, além de um número incontável de feriados".
— Estamos vivendo uma crise humanitária [em Gaza] — afirmou.
De acordo com autoridades palestinas, a Faixa de Gaza ficou completamente sem energia elétrica na quarta-feira, após a usina que atende as mais de 2 milhões de pessoas que moram na região parar de funcionar por falta de combustível.