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guerra no oriente médio

Sem conseguir voltar para Gaza, palestinos tentam sobreviver no Egito

Centenas de moradores apanhados fora do enclave pelo início da guerra entre Israel e o Hamas passam por dificuldades no país vizinho

Jovens palestinos se escondem atrás de barricada durante manifestação de apoio a Gaza na Cisjordânia ocupada Jovens palestinos se escondem atrás de barricada durante manifestação de apoio a Gaza na Cisjordânia ocupada  - Foto: HAZEM BADER / AFP

Cerca de 400 pessoas estão na lista criada pela psicóloga Amal Awni com nomes de quem veio de Gaza para o Egito antes de a guerra entre o Hamas e Israel começar, mas que agora não consegue voltar para casa. Muitas delas vieram para tratamentos médicos. Hoje, equilibram a luta para se manter na capital egípcia com vistos vencidos, dinheiro no fim e a preocupação com a família na zona sitiada. O mesmo aconteceu com Amal e quatro amigas que hoje vivem em um apartamento de dois quartos no centro do Cairo.

O grupo se dedicava a um projeto local de alfabetização e apoio psicológico a crianças e adultos expostos à violência. A iniciativa era financiada por palestinos. As cinco vieram no dia 27 de setembro participar de um treinamento no Cairo, menos de duas semanas antes do ataque do dia 7 de outubro.

Só com visto e transporte, cada uma gastou o equivalente a quase R$ 400 para chegar até a capital egípcia em uma exaustiva viagem de carro.

"Saímos às 5h da manhã e chegamos às 3h da manhã do dia seguinte" contou Etab Kemal, que hoje vive no mesmo local que Amal, no Cairo. "Estávamos hospedadas no mesmo prédio, no apartamento de um egípcio. Quando a guerra estourou, ele aumentou o aluguel e não conseguimos pagar o valor. A gente se mudou, então, para este, que pertence a um sudanês".

Elas estão conseguindo pagar o aluguel de cerca de R$ 1.600 e arcar com outras despesas para sobreviver graças a doações que recebem. Ao serem perguntadas sobre o que mais precisavam, Amal foi direta ao dizer que, para ela e as quatro amigas, nada no momento, mas demonstrou o tempo todo preocupação em conseguir meios de ajudar as centenas de palestinos que, como elas, acabaram sendo forçados a viver fora de Gaza.

Naquela tarde nublada, o telefone dela tocou duas vezes durante a entrevista. Ela se mostrava empenhada com o assunto tratado nas ligações: o problema de saúde de palestinos que não conseguem voltar para casa. Um dos casos que ela tenta ajudar é o de uma paciente de neuro-oftalmologia que precisa passar por mais uma cirurgia e de medicamentos para 3 meses de tratamento, despesas que somam cerca de R$ 1.500. Ela vem enviando mensagens a várias pessoas em busca de ajuda.

Amal contou que trabalhava com causas humanitárias há 8 anos, em Gaza. Ela pode priorizar a ajuda ao próximo, mas não deixa de lado as questões pessoais que também lhe têm causado angústia. Naquele mesmo dia, ela tinha conseguido falar com a irmã e o marido, com quem se casou em setembro. A vontade de ajudar os que ainda estão em Gaza parece inabalável.

 Eles estão bem, mas sofrem com a escassez de alimentos, água e dinheiro para o que precisam — contou.

A casa nova em que ela e o marido moravam foi bombardeada. Ele sobreviveu, ficou apenas ferido.

"Quero trazer meu marido para o Egito logo, mas é caro e muito difícil. Não tenho como voltar para Gaza, minha casa foi destruída. Para onde eu iria?" indagou, acrescentando que a casa da irmã também foi bombardeada e que um sobrinho de 5 anos ficou ferido.

Sem contato com o enclave
Sentada em uma poltrona na sala, Etab contou que não conseguia contato com a família nem com amigos fazia quase uma semana.

"Estamos tentando ficar bem para ajudar nossas famílias" disse.

Nenhuma delas recebeu ainda a notícia de que perdeu algum familiar neste conflito que já matou cerca de 20 mil pessoas em Gaza.

Human Rights Watch: ONG acusa Israel de usar fome como arma de guerra na Faixa de Gaza

"Apenas um dos meus irmãos se feriu" conta Heba Salew, que tem 16 irmãos.

Ela descreve a casa da família como espaçosa, em um terreno grande, e conta que atualmente o local abriga cerca de 200 pessoas, já que muitos deslocados foram recebidos pelos pais dela. Heba também parece mais preocupada em ajudá-los do que com seu próprio sustento no Cairo.

Essas palestinas criaram uma iniciativa que chamaram de Sumood, que quer dizer “resiliência” em árabe. Foi no Instagram que a ativista e empreendedora dos Estados Unidos que se apresenta apenas como Dahlia conheceu a iniciativa de Amal. Ela também faz uma campanha para arrecadar dinheiro para ajudar os palestinos deslocados.

"Cada um tem uma necessidade específica. É importante ir até lá e identificar quais são. Não se trata apenas de dinheiro... apoio psicológico também, além de necessidades básicas" disse a ativista que revelou estar vindo para o Cairo dentro de uma semana para trazer doações.

Ataques não param
Depois de atacar as regiões norte e central de Gaza, Israel segue intensificando os bombardeios ao sul, aumentando a pressão para que o Egito receba todos os palestinos do enclave no Sinai, do outro lado da fronteira, o que o Cairo já disse que não aceitará. Algo que as jovens palestinas parecem não abandonar é a esperança de um dia poderem voltar para o lugar de onde vieram.

"Não queremos que Gaza seja a nossa terra? Então porque deveríamos deixá-la?" questionou Etab.

Horas antes da entrevista, uma manifestação no centro da capital egípcia ocupou as escadas do emblemático prédio do Sindicato dos Jornalistas. Além do fim do conflito entre Israel e Hamas, o grupo se posicionou contra a expulsão dos palestinos do seu próprio território.

"Eu acho que o Egito não pode aceitar instalar palestinos no Sinai. O povo egípcio rejeita isso e os palestinos também. Isso significaria um fim para sempre das questões da Palestina" resumiu a jornalista Nour Elhoda Zaki, que participou do evento pró-Palestina e também tenta ajudar o grupo que não consegue deixar o Egito no momento.

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