Sem match: Exército dos EUA usa Tinder do Líbano para alertar Irã e aliados contra possíveis ataques
Mensagem em árabe, que promete proteção a parceiros e afirma que os EUA estão 'preparados'
Um aviso dos EUA em árabe alertando para as consequências de ações contra o país e seus aliados, bem como a promessa de que "protegerá seus parceiros diante das ameaças do regime iraniano e seus representantes", tampouco que venha acompanhado de imagens de aviões de guerra americanos e da mensagem que o Comando Central americano está "totalmente preparado" para empregar os caças F-16 e A-10 "na região" pode não surpreender tanto.
Afinal, o Oriente Médio está mergulhado em tensão após o ataque do Hezbollah a Israel (que afirma ter frustrado a operação com um ataque preventivo) e a prometida represália iraniana ao Estado judeu, a quem atribui a morte de uma das lideranças do Hamas em Teerã. Não fosse, claro, o aplicativo em que foi veiculado: o Tinder.
O anúncio fora do tom na plataforma, até então destina a encontros amorosos, foi encontrado pelo jornalista freelancer Séamus Malekafzali, baseado no Líbano, ponto das tensões mais recentes na região, enquanto usava o aplicativo na última quinta-feira.
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O repórter contou ao jornal americano Washington Post que, ao deslizar para a direita (comando que mostra interesse em um perfil ou concorda com um anúncio), ele foi redirecionado para uma publicação do Comando Central dos EUA no X, na qual eles descreviam em árabe a presença de aeronaves de ataque na região.
As capturas de tela do anúncio foram publicadas no seu perfil no X e viralizaram.
A mensagem pertencia ao Centcom, confirmou uma autoridade americana familiarizada com o assunto ao WP em condição de anonimato, e faz parte de uma campanha mais ampla no que é descrito como operações psicológicas ou operações de suporte de informações militares, com o objetivo de combater o que o governo americano entende como narrativa enganosa de adversários estrangeiro e influenciar as opiniões dos públicos nesses países.
Mas sua presença no Tinder levantou novas questões sobre essas operações, e especialistas ouvidos pelo jornal consideraram o anúncio um pouco forçado.
Afinal, a mensagem é eficaz?
O Comando Central se recusou a comentar quando foi procurado pelo WP, argumentando que não discute operações de informação. O Pentágono também não fez comentários.
Uma fonte da Defesa sob condição de anonimato disse ao Post que "em termos gerais e como uma questão de política, o Departamento de Defesa realiza operações de informações militares em apoio às nossas prioridades de segurança nacional.
Essas atividades devem ser realizadas em conformidade com a lei dos EUA e com a política do Departamento de Defesa, e estamos comprometidos em aplicar essas salvaguardas".
Já um oficial de operações psicológicas do Exército americano zombou do esforço, afirmando que, "de cara, duvido que seja muito eficaz".
— Qual é a mensagem que eles acham que vai repercutir aqui? — questionou a fonte, também em anonimato, afirmando que "isso é apenas um 'não mexa comigo' mais direto".
Mas, para Gittipong "Eddie" Paruchabut, um oficial de operações psicológicas do Exército aposentado e atualmente membro sênior não residente do laboratório de ideias Atlantic Council, poderá surtir o efeito desejado se "fizer parte de uma campanha de longo prazo que apoie uma política contínua, e não uma compra de anúncio isolada". Afirmou que o Tinder não foi uma aposta muito boa, uma vez que "o militante médio provavelmente está entre um subconjunto muito pequeno de usuários" do aplicativo.
O ideal, continuou Paruchabut, seria procurar identificar locais ou plataformas utilizadas pelo público-alvo que, nesse caso, afirmou, poderiam ser "homens em idade militar" talvez em um grupo no Facebook ou no Telegram.
O oficial aposentado explicou que geralmente o Centcom usa terceirizados para criar e disseminar a mensagem para um público específico, lançando mão de várias ferramentas para identificar seu público-alvo.
O Tinder removeu a publicação, com o seu porta-voz, Philip Fry, argumentando que o anúncio "violava nossas políticas" sobre mensagens violentas e de cunho político. Na visão de Paruchabut, o aviso no aplicativo de namoro "é um erro não intencional ou preguiça"
— Para contra-atacar os adversários no espaço de informações, precisamos de mais profissionais de influência treinados e precisamos responsabilizar seus líderes quando eles erram — observou.