'Sem testes de Covid, queremos comer!', gritam jovens de Pequim em protesto
Manifestantes reuniram-se nas margens do rio Liangma, ao final de um dia marcado por outras marchas semelhantes
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Centenas de moradores de Pequim enfrentaram o frio deste domingo (27) à noite e responderam ao chamado ao protesto que se espalhou pelas redes sociais, em uma concentração silenciosa pelas vítimas de um incêndio e também contra as políticas anti-Covid do governo.
Cansados das restrições sanitárias, os manifestantes reuniram-se nas margens do rio Liangma, ao final de um dia marcado por outras marchas semelhantes realizadas em vários pontos do país.
“Sem testes de Covid, queremos comer!”, gritavam os manifestantes, alguns acenando folhas brancas, em alusão à censura, e outros acendendo velas num altar improvisado, sobre o qual foram colocados flores.
Uma folha de papel dizia: "pelas vítimas que morreram no incêndio em Urumqi em 24 de novembro".
O incêndio, ocorrido na capital da província de Xinjiang (noroeste), deixou dez mortos e acentuou o descontentamento popular que tem crescido nos últimos meses contra a rigorosa política de "Covid zero" imposta pelas autoridades.
Os autores de inúmeras publicações que circulam nas redes sociais culparam as medidas adotadas contra a Covid-19 de agravar a tragédia, uma vez que os esforços de resgate foram dificultados por viaturas que estavam estacionadas há semanas devido ao confinamento no beco onde está localizado o prédio incendiado.
"Somos todos moradores de Xinjiang!", gritavam alguns manifestantes em Pequim, segundo uma jornalista da AFP presente no local.
"Vamos, povo da China! Viva ao povo!", gritavam.
Em pequenos grupos, alguns cantavam e outros esperavam em silêncio, apesar do frio, gravando o protesto com seus celulares.
"Não vamos esquecer"
A concentração, da qual participaram principalmente jovens, transcorreu sem problemas, apesar das dezenas de viaturas policiais posicionadas nas proximidades.
Alguns agentes se infiltraram na multidão para filmar os participantes, reunidos às margens do rio Liangma, que corta um dos bairros mais populosos da capital chinesa.
Entre discursos, ouviram-se gritos como "Liberdade de arte" ou "Liberdade para escrever".
Do outro lado do rio, alguém levantou a voz e disse: "É graças a vocês que Pequim pode se orgulhar!", enquanto vários motoristas que passavam perto da concentração buzinaram em apoio.
“Não se esqueçam dos que morreram no acidente de ônibus em Guizhou, não se esqueçam da liberdade!”, lançou um manifestante, aludindo à tragédia que aconteceu em setembro, quando um ônibus que transportava pessoas para um centro de quarentena sofreu um acidente que deixou 27 mortos.
"Lembrem-se da grávida de Xi'an que morreu, daqueles que não têm acesso a cuidados médicos em Xangai", gritou outro participante, citando outros dramas relacionados com as medidas rígidas envolvidas na estratégia de "Covid zero", em vigor há mais de dois anos e meio.
"Não vamos esquecer!", respondeu a multidão em coro.
Pouco antes das 22h30, a polícia tentou dispersar os manifestantes, mas alguns resistiram. Uma hora depois, muitos ainda estavam lá, determinados a ficar e protestar.