Seminus e com olhos vendados: imagens mostram prisão de dezenas de palestinos por Israel em Gaza
Imagens foram compartilhadas por vice-prefeito de Jerusalém, e agências internacionais sugerem que foram veiculadas em redes de TV israelense
Sob a guarda de soldados israelenses, dezenas de homens palestinos aparecem seminus, com os olhos vendados e de joelhos, de acordo com imagens e vídeos que circulam amplamente em redes sociais desde a quinta-feira, incluindo pelo vice-prefeito de Jerusalém, Arieh King. Pouco mais à frente, é possível ver uma bandeira de Israel fincada. Agências e jornais internacionais afirmam que conteúdo similar foi veiculado em redes de televisão israelense, atraindo críticas.
Sem citar fontes, a mídia israelense descreveu as imagens como a rendição de alguns membros do grupo fundamentalista islâmico Hamas. Um jornalista perguntou ao porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, sobre as imagens durante uma coletiva na quinta, segundo a rede de TV CNN, dizendo: "Vimos imagens de muitos detentos, terroristas do Hamas, que as Forças Armadas prenderam durante sua invasão terrestre."
Sem se referir diretamente aos clipes, Hagari respondeu que, ao combater o Hamas, “aqueles que ficam na área gradualmente saem".
— Durante esse conflito, aqueles que ficam na área gradualmente saem de túneis e alguns de casas — disse. — Investigamos e verificamos quem está vinculado ao Hamas e quem não, detemos e interrogamos todos. Continuaremos desmantelando cada um desses redutos até o fim.
Ao compartilhar as imagens, o vice-prefeito de Jerusalém cita uma passagem de um livro sagrado e questiona seus seguidores em uma publicação no X (antigo Twitter): “Centenas de amalequitas, muçulmanos e nazistas, qual vocês acham que deveria ser o julgamento deles?”
As circunstâncias e a data das imagens não estão claras, e nem todas as identidades foram confirmadas. Algumas foram reveladas aos poucos por familiares e colegas, segundo a CNN. Entre os detidos estaria o repórter Diaa al-Kahlout, correspondente no enclave do The New Arab. Ele foi identificado pelo meio de comunicação em uma publicação na rede social X (antigo Twitter), na quinta-feira.
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“Forças israelenses detêm o correspondente do serviço árabe da The New Arabic em Gaza, Dia al-Kahlout, em Beit Lahia. Kahlout teria sido um dos dezenas de homens presos em massa, despidos e levados pelas forças israelenses”, afirmou o jornal, com sede em Londres.
Ramy Abdu, presidente do Observatório Euro-Mediterrâneo dos Direitos Humanos, uma ONG com sede em Genebra, também afirmou por meio do X que reconheceu o jornalista, bem como o diretor de uma escola e um funcionário da Agência da ONU para a Palestina (UNRWA).
Segundo uma publicação do observatório, a prisão ocorreu nas escolas Khalifa Bin Zayed e New Aleppo, ambas afiliadas à agência da ONU para a Palestina (UNRWA). Idosos também teriam sido levados.
Segundo o The New Arabic, al-Kahlout teria sido preso com seus irmãos e outros parentes, além de civis em Beit Lahia, no norte do enclave palestino. Uma análise das imagens feita pela AFP Factcheck e da CNN também sugere que algumas foram filmadas nesse local, embora seja difícil localizar com precisão.
No artigo, publicado na versão em inglês, o The New Arabic afirma que seu jornalista faz parte das "dezenas de habitantes de Gaza detidos pelo Exército israelense em Gaza e obrigados a se despir". Em seguida, eles teriam sido também "revistados e humilhados antes de serem levados para um local desconhecido", de acordo com testemunhas oculares, acrescentou o site.
As imagens
Em vídeos e fotos que circulam nas redes sociais é possível ver homens ajoelhados e de cabeça baixa em um terreno arenoso e sem construções em volta. Já em outras imagens, um grupo menor aparece sentado no meio de uma cidade, enquanto outros registros mostram homens sendo deslocados em caminhões militares. Os palestinos estão usando apenas roupas íntimas.
Um clipe mostra o braço de um soldado em primeiro plano, sugerindo que foi filmado por um membro do Exército. Em outro, um grupo de homens com os olhos vendados é visto sentado com as mãos amarradas nas costas enquanto soldados israelenses os observam. A AFP não conseguiu verificar onde os homens eram mantidos.
As redes de TV israelenses, sem indicar fonte, sugerem que as imagens mostram o momento da rendição de terroristas do Hamas, afirmou a CNN. O porta-voz do governo israelense, Eylon Levy, informou à BBC nesta sexta-feira que todos os homens detidos estavam em idade militar e foram “encontrados em áreas que os civis deveriam ter deixado há semanas”.
As prisões, de acordo com Levy, aconteceram no campo de refugiados de Jabalia e no bairro de Shejaiya, ambos no norte da Faixa de Gaza, descritos por ele como “redutos e centros de gravidade do Hamas”. Os homens, afirmou à BBC, seriam interrogados a fim de “descobrir quem de fato é terrorista do Hamas e quem não é”.
Segundo a CNN, pelo menos alguns dos homens detidos são civis sem nenhuma filiação a grupos militantes e terroristas. De acordo com a rede britânica BBC, alguns já foram libertados.