CPI DA COVID

Senadores da CPI querem convocar intermediário que negociou Coronavac com Pazuello

A imunização foi oferecida formalmente ao governo por quase o triplo do preço negociado pelo Instituto Butantan

Ex-ministro da Saúde, Eduardo PazuelloEx-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Os senadores do grupo majoritário da CPI da Covid afirmam que vão convocar para depor no colegiado o empresário John, que aparece em vídeo negociando diretamente com o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello a venda da vacina Coronavac.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (17) mostrou que Pazuello prometeu a um grupo de intermediadores comprar 30 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac. A imunização foi oferecida formalmente ao governo por quase o triplo do preço negociado pelo Instituto Butantan.



A negociação, em uma reunião fora da agenda oficial dentro do ministério em 11 de março, teve o seu desfecho registrado em um vídeo em que o general da ativa do Exército aparece ao lado de quatro pessoas que representariam a World Brands, uma empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior.

A gravação, obtida pelo jornal Folha de S.Paulo e já de posse da CPI Covid no Senado, foi realizada no gabinete do então secretário-executivo da pasta, o coronel da reserva Elcio Franco. Nela, Pazuello relata o que seria o resumo do encontro.
"Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento já assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população", diz o então ministro, segundo quem a compra seria feita diretamente com o governo chinês.

Os senadores reagiram à reportagem nesta sexta-feira, afirmando que ela abre um novo flanco nas investigações. Por isso prometem convocar o empresário John para dar explicações, assim que terminar o recesso parlamentar.

A CPI, assim como todo o Congresso Nacional, vai parar suas atividades por suas semanas a partir da próxima segunda-feira.

"Estamos diante de uma hidra, que a gente corta uma cabeça e aparece uma outra", afirmou o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Randolfe acrescenta que a comissão vai aproveitar esse período de recesso para averiguar a atuação de John. O senador pelo Amapá também acrescenta que a reunião registrada em vídeo aconteceu no gabinete do ex-escretário-executivo do Ministério da Saúde coronel Elcio Franco, cujo nome apareceu em outras investigações ligadas à compra de vacina da comissão.

O senador Humberto Costa (PT-PE) lembrou a contradição do ex-ministro Pazuello, que declarou em depoimento à CPI que em nenhum momento negociou diretamente a compra de vacinas.

"Acho que é uma profunda contradição. Ele vai ter que se expressar diante dessa contradição quando voltar a CPI, provavelmente em agosto ou setembro. Demonstra mais uma vez que ele mentiu", afirmou.

"Dependendo de quem fosse a empresa, ele poderia sim sentar-se à mesa e negociar. E o que chama a atenção é que geralmente são empresas intermediárias e não aquelas que são produtoras de vacinas, levantando aí um véu de desconfiança sobre as intenções últimas de um tipo de negociação como essa", completou Costa.

Também nesta sexta-feira, o Ministério da Saúde divulgou nota na qual tenta separar os negócios da antiga gestão na pasta e a atual, do ministro Marcelo Queiroga.

"O Ministério da Saúde informa que a atual gestão da pasta não tem conhecimento de memorando de entendimentos para aquisição de doses da Coronavac", informou o texto.

O atual secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, disse que não sabia da negociação citada no vídeo. "Tomei conhecimento pela imprensa."

O vídeo divulgado pela Folha de S.Paulo chamou a atenção da CPI por se tratar de mais uma negociação que envolve intermediários e não feita diretamente com os laboratórios desenvolvedores das imunizações.

A comissão também investiga o papel da Precisa Medicamentos, que atua representando no Brasil a Bharat Biotech, que fechou contrato para a venda de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin.

As suspeitas em relação à Covaxin surgiram após a revelação pela Folha de S.Paulo do depoimento do servidor da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, no qual aponta uma pressão "atípica" para agilizar a liberação da importação da imunização.

A Folha de S.Paulo também revelou a denúncia do policial Luiz Paulo Dominghetti, que afirma ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, para avançar a negociação de 400 milhões de doses da Astrazeneca.

Essa negociação também seria feita por meio de uma intermediária, a Davati Medical Supply, apesar da Fiocruz manter contrato de transferência tecnológica da vacina da Astrazeneca. 

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