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Coronavírus

Sente cheiros diferentes após ter Covid? Entenda o que é parosmia

Pacientes relatam alteração nos cheiros após quadro de infecção pelo coronavírus. Especialista explica as causas e como tratar

Mulher segura e cheira uma rosaMulher segura e cheira uma rosa - Foto: Nicholas Githiri/Pexels

Um dos sintomas mais característicos das primeiras ondas da Covid-19 foi a parosmia, que ocorre quando os pacientes enfrentam uma mudança na percepção normal dos odores. O quadro pode ser identificado, por exemplo, quando o cheiro de algo familiar muda ou quando o que normalmente era agradável para o nariz passa a ser incômodo ou insuportável

De acordo com o otorrinolaringologista e professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Thiago Bezerra, o distúrbio pode ser explicado como essa distorção do cheiro sentido

A parosmia é uma distorção de um cheiro que existe. Tenho pessoas que sente o cheiro de um perfume, mas o córtex delas decodifica como cheiro de podre, por exemplo”, explica.

Segundo o médico, existem dois mecanismos que associam a disfunção à Covid-19: a ação da ACE-2, uma proteína da superfície de diversas células do corpo, como o epitélio do sistema respiratório; e o ataque feito pelo Sars-CoV-2 a esse tecido.

“Basicamente, é como se a gente tivesse uma agressão que acontece na região do epitélio olfatório e na célula que vem reparar ele”, detalha Thiago Bezerra. Em resumo, esse distúrbio ocorre devido a danos nos nervos olfativos que levam sinais ao cérebro para identificar os cheiros.

O distúrbio, claro, não é algo novo, mas ganhou notoriedade maior por ser um sintoma associado à Covid-19, especialmente após a recuperação dos demais sintomas da doença.

Antes da pandemia, Thiago participaria de um estudo multicêntrico no Hospital das Clínicas da UFPE, no Recife, no qual seriam investigados pacientes que perderam o olfato após um quadro viral. O surgimento do coronavírus gerou uma demanda muito alta para a pesquisa, que precisou ser suspensa por causa da pandemia.

O epitélio olfativo tem a capacidade de se regenerar e, por isso, esses distúrbios são quase sempre reversíveis. Dados de estudos científicos apontam que a alteração costuma aparecer em um a dois meses após a infecção pela Covid e podem persistir por até oito meses ou mais.

Menta pode ser usada para treinamento olfativo (Foto: Pexels)

Tratamento
O primeiro passo para o tratamento da parosmia, aponta Thiago, consiste no diagnóstico. “Você precisa ter certeza do diagnóstico, que pode ter coincidido com a Covid. Tem que ter muito cuidado. O segundo passo é: confirmou que é Covid, ver que grau tem”, acrescenta.

Os pacientes podem passar por testes em consultório para serem estimulados com vários odores de crescente intensidade, que vão dar uma pontuação de grau de perda ou alteração de olfato. “Fiz diagnóstico, classifiquei o grau de perda, defino o tratamento”, resume o otorrinolaringologista.

O especialista compara a necessidade de tratamento como para quem faz fisioterapia após sofrer uma fratura, que deve ser precoce para melhorar as chances de estímulo e reabilitação.

“Infelizmente, mesmo agora, quase dois anos após o início da pandemia, a gente ainda tem algumas incertezas sobre a resposta dos pacientes ao tratamento. Quanto mais tempo demoro para fazer um tratamento potencialmente efetivo, menor a chance de recuperação”, cita Thiago Bezerra.

É preciso ter cuidado redobrado com o diagnóstico porque o quadro pode ser causado também por outras doenças e não apenas a Covid-19, como tumores que acometem a região olfatória, pacientes com doenças degenerativas e alteração após outros quadros virais e de resfriado.

Produtos como cravo, eucalipto, menta e rosa podem ser usados para estimular o olfato. “A gente sempre se preocupa muito com essa questão dos pacientes estarem se automedicando sem buscar um tratamento diferencial. Geralmente,  não é nada, foi a Covid, mas quando não é, o paciente acaba atrasando o diagnóstico”, pondera Thiago Bezerra.

“Sinto alguns cheiros e sabores diferentes”
O motorista Rafael Assis, de 46 anos, teve Covid em abril de 2020. Ele conta que perdeu olfato e paladar e chegou a passar sete meses sem sentir cheiros e sabores. “Foi horrível e angustiante, pois não tinha certeza de que voltaria a sentir”, disse.

Rafael fez consulta com um otorrinolaringologista e recebeu orientações para usar os produtos como cravo, canela e vinagre para estimular o olfato. “Acredito que hoje tenho uns 70% ou 80% do meu olfato e do meu paladar, uma vez que sinto alguns cheiros e sabores diferentes”, explica o motorista.

“Tem coisa que eu sentia o cheiro antes e hoje o cheiro é diferente. Alguns temperos, eu sei que aquele tempero não tem aquele cheiro, não tem aquele sabor. Alguns perfumes, o cheiro é muito parecido, me remete à memória olfativa, mas eu sinto que não é o mesmo de alguns perfumes. Algumas comidas também”, acrescenta Rafael.

Ele cita ainda, por exemplo, que nunca sentia cheiro de melancia, mas atualmente a fruta tem um cheiro muito adocicado. O mesmo ocorre com perfumes, que ele sente como cadáver em decomposição.

Teste de Covid-19 para identificar o vírus causador da doença (Foto: Pexels)

“Sinto como se fosse um cheiro de enxofre”
O militar Amilcar Gouveia, de 26 anos, teve Covid em novembro de 2020. Os sintomas dele começaram com febre, dor de cabeça e dores no corpo. No terceiro ou quarto dia, ele percebeu a perda de olfato e paladar

“Passei mais de um mês com essa sensação de não sentir cheiro algum e tudo o que eu comia não tinha gosto de nada. Aos poucos, foi voltando o paladar e o olfato, só que o meu olfato voltou muito fraco”, detalha o militar. 

“Com o tempo, fui percebendo que o olfato eu estava sentindo apenas alguns tipos de cheiros, não eram todos”, acrescenta.

Amilcar começou a perceber cerca de dois meses depois que não sentia mais cheiros ruins, apenas os bons. Até hoje, ele diz não sentir os piores odores. 

Sinto como se fosse um cheiro de enxofre se for muito forte o mau odor. Procurei um especialista e até hoje não voltou”, fala. Ele chegou a fazer exercícios de respiração e cheirar potes de cheiros naturais, mas não conseguiu encontrar resultados e segue convivendo com o problema.
 

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