Servidores do Inep denunciam interferências políticas e censura a questões do Enem
Em entrevista ao 'Fantástico', a poucos dias do exame, parte do grupo que entregou os cargos detalha rotina de intimidação e acusa o presidente do órgão de despreparo
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Servidores públicos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) - que produz e coordena o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), entre outras atribuições - afirmam que o órgão sofre reiteradas interferências políticas, e que não são raros os casos de censura ao conteúdo das provas do Enem.
Em entrevista ao "Fantástico", parte dos 37 funcionários que entregaram seus cargos esta semana relatam ainda situações de intimidação e acuasam o presidente do Inep, Danilo Dupas, de despreparo.
As denúncias vêm à tona poucos dias antes do exame, que começa neste domingo (21).
"Grande erro é achar que você pode simplesmente pegar uma prova e sair riscando itens que você não gosta do conteúdo deles", diz um servidor, que contou ao "Fantástico" existir uma pressão "insuportável", principalmente sobre questões que envolvem contextos sociopolítico e socioeconômico do Brasil.
Na entrevista, os servidores contaram que no dia 2 de setembro, período em que a prova do Enem estava em fase final de elaboração, um policial federal passou por todo o esquema de segurança e entrou no espaço chamado "ambiente seguro" de criação do exame.
A prova do Enem, explicam, é elaborada todos os anos com 180 questões. As perguntas são retiradas do Banco Nacional de Itens, formado por milhares de questões redigidas por professores selecionados por edital. Uma equipe técnica do Inep escolhe as 180 questões com nível de dificuldade que consideram adequado a cada edição do exame. Esse processo de criação acontece em um espaço que eles chamam de "ambiente seguro".
"Eles têm níveis de segurança. Você tem que passar por um daqueles scanners de corpo. Qualquer objeto de metal que estiver com você vai ser detectado. E você não pode entrar com ele. As portas são altamente seguras. A montagem da prova, você faz em um nível de segurança, todo cercado de câmeras. Não tem nenhum ponto cego dentro desse ambiente", conta um servidor.
Só que no dia 2 de setembro esse policial federal, cuja identidade é desconhecida, entrou no "ambiente seguro", em uma ação que os servidores entenderam como intimidação.
"O Inep precisa explicar como essa pessoa foi parar lá dentro, quem autorizou a entrada, o que ele fez, que nível de controle a gente tem das informações que ele acessou lá", questiona um servidor.
Ao "Fantástico", os servidores também relataram censuras ao conteúdo do Enem. Existe um diretor designado para ler os itens da prova, cargo hoje ocupado por Anderson Oliveira, diretor de avaliação de educação básica.
Segundo os entrevistados, ele foi até o "ambiente seguro" e solicitou a retirada de várias questões, principalmente as que tratavam de conhecimentos do contexto sociopolítico e socioeconômico do Brasil. Questões que, para a equipe técnica do Inep, não demandavam nenhuma correção do ponto de vista pedagógico.
"Esse dirigente designado pelo presidente do Inep, Danilo Dupas, foi até o ambiente seguro, fez a leitura das questões que essa equipe técnica havia montado, essa primeira prova do Enem, e solicitou a exclusão de mais de duas dezenas de questões dessa primeira versão da prova", contou um servidor.
Os servidores fizeram então uma segunda versão da prova do Enem. Eles contam, porém, que ao excluir as questões censuradas, a prova baixava a nota máxima possível. Isso, segundo eles, enfraqueceria fortemente a capacidade da prova do Enem.
Foi então que os servidores se mobilizaram para fazer uma terceira versão do exame. Alguns itens voltaram.
"Essa prova, à custa da saúde mental de vários colegas servidores, consegue ainda atender aos seus objetivos", opina um dos servidores exonerados.