Setembro Amarelo: escuta atenta e acolhimento sem julgamentos são essenciais
Em setembro, mês de prevenção ao suicídio, a saúde mental é falada de forma mais recorrente nas mídias sociais
Acolhimento sem julgamentos. Escuta atenta. Encaminhamento profissional. No Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, a saúde mental é falada de forma mais recorrente nas mídias sociais. Muitas pessoas, também, resolvem abrir os seus bate-papos para aqueles que desejam desabafar e falar sobre os seus sentimentos. Apesar de boa intencionada, essa pode ser uma atitude perigosa e que agrava a situação de quem está passando por um sofrimento psíquico.
De acordo com o professor e pesquisador de comunicação e saúde, Jefte Amorim, as redes sociais não são necessariamente boas ou ruins, porém, o uso que cada pessoa atribui a elas é que determina esse fator.
“Hoje qualquer pessoa com conexão à internet pode vasculhar informações e a um ponto muito positivo de algumas comunidades on-line que foram criadas, porque algumas pessoas em sofrimento psíquico que se sentem isoladas do mundo vêem que não são as únicas a passarem por determinado problema. Por outro lado, também é possível encontrar nessas comunidades grupos de pessoas sem responsabilidade socioemocional que fazem comentários detratores ou comentários destrutivos, maliciosos ou o cyberbullying e acabam intensificando o sofrimento psíquico”, destacou.
Redes sociais e o acolhimento
A psicóloga e conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-PE), Anamaria Faria Carneiro, afirma que para acolher alguém que está passando por processo de sofrimento, o olhar e o ouvir são importantes sentidos. Porém, nas redes sociais, através de pessoas desconhecidas, as intervenções são feitas de uma forma mais superficial.
“Cria uma sensação de que eu abri a DM, então já fiz a minha parte, ou fiz aquilo que todo mundo está indicando, mas na verdade você não está fazendo, nesse momento, nada de forma cientificamente comprovada. O tratamento e o cuidado em saúde mental ele é muito estigmatizado, então parece que você coloca inúmeras barreiras para fazer esse cuidado, então faz tudo muitas vezes on-line, mas as redes sociais são muito visuais e têm pouco aprofundamento”, afirmou a psicóloga.
Por outro lado, o exercício de se colocar disponível para ouvir, independente da formação, no sentido de construção de uma disponibilidade, pode ser interessante, mesmo através das redes, é o que afirma a psicóloga Marina Austregésilo.
“Esse exercício pode sim ser interessante, pode ser acolhedor, se estiver atento a esse exercício da escuta. Às vezes a gente não tem um passo a passo para o que fazer, mas o que não fazer pode ficar um pouco mais claro. É necessário se abrir para escutar, só para escutar. Não é escutar procurando dar uma resposta, não é solucionar o problema, é escutar, é um caminho que pode sim ser percorrido por qualquer um a qualquer momento desde que se perceba disponível para essa função” pontuou.
No limiar entre o benéfico e o prejudicial
Forma de entretenimento, porém, também uma possibilidade de sofrimento psíquico. As redes sociais podem ser aliadas e ao mesmo tempo prejudiciais para a saúde mental da população. De acordo com a psicóloga Josefina Campos, o ambiente das mídias sociais apresenta um falso retrato da realidade.
“Você apresenta uma vida que não é a real, a do cotidiano, mas aquela vida que você gostaria de ter muitas vezes. Isso traz para quem está em contato com as redes um nível de sofrimento, porque começa a ter aquela vida virtual como uma referência que é bem dissociada da vida cotidiana. Essa necessidade passa a ser uma busca incessante para se obter aquela vida, que é inalcançável, uma vida de fantasia e isso causa ansiedade, sentimentos depreciativos com a sua própria vida, e desconexão com a realidade”, disse.
Para a psicóloga Fabiana Guimarães, no momento que alguém está passando por uma realidade de sofrimento, a busca por entretenimento é mais evidente, principalmente através das plataformas de mídias sociais.
“Esse entretenimento vai gerar uma satisfação ou um prazer que não é real, ou é momentâneo. Naquele momento, ele se diverte e se distrai momentaneamente, e se distancia do que é de sofrimento que está na realidade dele. E quando a gente entra num processo terapêutico, a gente fortalece o indivíduo para que ele tenha condições de lidar com as dificuldades e com o sofrimento do dia a dia”, afirmou.
Rede de tratamento
Aliada a psicologia, a psiquiatria também faz parte do processo de auxílio ao desenvolvimento psicológico do indivíduo. Por anos, o papel do psiquiatra foi estigmatizado e visto com preconceitos. Porém, também é um importante caminho que pode ser percorrido no tratamento daqueles que sofrem de algum problema psicológico ou emocional.
“A partir do momento que a gente consegue identificar, ou pelo menos desconfiar que existe alguma patologia, que algo não está bem, é necessário procurar um serviço médico, no caso dos transtornos mentais, a psiquiatria. É necessário desmistificar que o psiquiatra é médico de doido, e desmistificar os preconceitos com a psiquiatria. Os transtornos mentais não escolhem cor, raça, sexo, nem classe social, é uma doença como qualquer outra”, disse a psiquiatra e conselheira do Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe), Milena França.
Com uma equipe de aproximadamente 15 profissionais, o Gerar Arteterapia e Bem Estar, localizado no bairro do Poço da Panela, na Zona Norte do Recife, oferece uma série de práticas integrativas, como Psicologia, Ioga, Reiki, Hipnoterapia, Aromaterapia, Terapia Floral e Meditação. As práticas são aliadas no processo terapêutico. As psicólogas Patrícia Mello, Fabiana Guimarães e Josefina Campos são gestoras do local e contam que as práticas têm como objetivo contemplar o indivíduo na sua necessidade.
“Em 2004, o Gerar teve início com profissionais de Arteterapia e Psicologia. A partir de um determinado tempo foram se agregando outras práticas integrativas. São atividades desenvolvidas aqui no Gerar e com essa mesma perspectiva, de auxiliar as pessoas nesse processo de integração, de autocompreensão, de fortalecimento da individualidade para lidar com questões sociais, emocionais, questões conflituosas”, explicou Patrícia.
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Setembro Amarelo
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), realiza uma série de atividades em todo o país no chamado Setembro Amarelo. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece durante todo o ano. Em 2022, o lema da campanha é “A vida é a melhor escolha!”.
Segundo dados da última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, no Brasil, são registrados mais de 14 mil casos de suicídios por ano. No mundo, esse número chega a 700 mil, sem contar os casos subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 01 milhão de casos.