Sistema de saúde em Gaza está "à beira do colapso total", denuncia a ONU
Desde o início da guerra, Israel realizou pelo menos 136 ataques contra 27 hospitais e outras 12 instalações médicas no enclave palestino, nos quais 500 profissionais de saúde morreram
Um relatório das Nações Unidas publicado nesta terça-feira revelou que ataques israelenses a hospitais e seus arredores na Faixa de Gaza deixaram o sistema de saúde no território palestino "à beira do colapso total".
Desde o início da guerra, em de outubro de 2023, até 30 de junho passado, Israel realizou pelo menos 136 ataques contra 27 hospitais e outras 12 instalações médicas, nos quais 500 profissionais de saúde morreram, cometendo possíveis crimes de guerra e contra a Humanidade, alertou o Escritório da ONU para os Direitos Humanos.
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Para o gabinete dos direitos humanos das Nações Unidas, os hospitais no território palestino tornaram-se "armadilhas mortais" e isso tem "um efeito catastrófico no acesso dos palestinos à saúde e aos cuidados médicos".
"O padrão israelense de ataques mortais nos hospitais de Gaza e perto deles, e os combates associados, levaram o sistema de saúde à beira do colapso total", segundo o comunicado da entidade.
A guerra em Gaza eclodiu em 7 de outubro do ano passado, quando o grupo terrorista islamista palestino Hamas atacou Israel, deixando 1.208 mortos, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em números oficiais israelenses. ]A campanha de retaliação israelense custou mais de 45.500 vidas em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas. A ONU considera os números confiáveis.
O relatório da ONU pediu investigações confiáveis sobre os acontecimentos relatados e insistiu que elas devem ser independentes dadas as "limitações" do sistema judicial de Israel em relação à conduta das suas forças armadas. Também pediu que "todo o pessoal médico detido arbitrariamente seja libertado imediatamente".
Insistiu que Israel, "como potência ocupante, deve garantir e facilitar o acesso da população palestina a cuidados de saúde adequados, e que os futuros esforços de recuperação e reconstrução priorizem a restauração da capacidade médica, destruída nos últimos 14 meses de intenso conflito".
"Armadilha mortal"
O relatório destacou que o pessoal médico e os hospitais são especificamente protegidos pelo direito humanitário internacional, desde que não cometam ou sejam utilizados para cometer atos prejudiciais ao inimigo fora de sua função humanitária.
Também apontou que as repetidas alegações de Israel de que hospitais em Gaza estavam sendo usados de forma inadequada para fins militares por grupos palestinos eram "vagas".
"Informações insuficientes foram disponibilizadas publicamente para fundamentar essas alegações, que permaneceram vagas e amplas, e, em alguns casos, parecem contraditadas por informações disponíveis publicamente", afirmou o relatório.
O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, disse que os hospitais em Gaza se tornaram uma "armadilha mortal".
"Como se os bombardeios incessantes e a situação humanitária desesperadora em Gaza não fossem suficientes, o único santuário onde os palestinos deveriam se sentir seguros tornou-se, na verdade, uma armadilha mortal", disse ele. "A proteção dos hospitais durante a guerra é fundamental e deve ser respeitada por todas as partes, em todos os momentos."
O relatório concluiu com um apelo por investigações confiáveis sobre os incidentes detalhados e disse que elas devem ser independentes, dadas as "limitações" do sistema de justiça de Israel em relação à conduta de suas forças armadas.
"É essencial que haja investigações independentes, completas e transparentes de todos esses incidentes, e plena responsabilização por todas as violações do direito humanitário internacional e dos direitos humanos que ocorreram", disse Turk. "Todos os trabalhadores médicos arbitrariamente detidos devem ser libertados imediatamente."