'Só quero tirar meus filhos', diz mulher que gritava pelos nomes dos dois soterrados
Na manhã dessa sexta, mesmo machucada e com as marcas do soterramento pelo corpo, ela acompanhava vizinhos voluntários e bombeiros, que tentavam chegar ao local mais crítico
Em um dos pontos mais afetados pela chuva em Petrópolis, na Chácara Flora, sobreviventes da tragédia seguem à procura de parentes soterrados pela avalanche de lama e terra. O local é um dos de mais difícil acesso para os bombeiros, que ainda não conseguiram chegar no ponto principal de deslizamento, tamanha a quantidade de destroços pelas ruas e vielas do local.
Moradora há 40 anos da região, a dona de casa Jussara Aparecida Luiz teve a casa atingida pelo deslizamento e foi soterrada com sete parentes. Com auxílio de vizinhos, que cavaram com as próprias mãos a terra, ela foi retirada após duas horas sobre os escombros, assim como a mãe.
No entanto, dois filhos, a cunhada e dois sobrinhos não foram resgatados.— A minha casa foi toda soterrada, eu perdi dois filhos, minha mãe foi soterrada. O meu irmão e os vizinhos salvaram a gente. Ficamos quase duas horas soterradas. Os vizinhos tiraram a gente na mão. Tudo quanto é lixo estava em cima da gente — disse.
A moradora relatou os momentos de terror sob os escombros e contou sua reação: — Era só gritar. Gritava muito e parecia que ninguém ouvia meus gritos. Teve momentos em que sentia que ia ficar para sempre ali — completou.
Na manhã dessa sexta, mesmo machucada e com as marcas do soterramento pelo corpo, ela acompanhava vizinhos voluntários e bombeiros, que tentavam chegar ao local mais crítico. Diante do abismo que restou onde ficava sua casa, ela gritava o nome dos filhos, uma menina de 18 anos e um menino de 2.— Eu só quero tirar meus filhos dali. Meu coração de mãe está falando que é só tirar eles dali. Giulia! Antony! — gritava.
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Um dos vizinhos que ajudou no resgate também teve a casa destruída e perdeu parentes. Fabio Batista de Souza soube que a casa da mãe havia sido soterrada e foi escavar com as mãos. No meio da lama, ajudou Sara a sair dos escombros, mas não conseguiu salvar os familiares. — Eu vim ajudar e ficamos cavando noite, madrugada adentro e estamos virados. Infelizmente perdi minha mãe e meus sobrinhos — disse Fabio, que teve a casa também destruída e se alojou em um abrigo, sem saber como será o futuro.
— Vou para onde? Moro aqui há 20 anos. Não tenho lugar para ir — lamentou.No fim da manhã, homens do Exército subiram a parte alta da Chácara Floral para ajudar nos trabalhos de auxílio e resgate. Os militares estão neste momento verificando as condições do terreno, que está instável devido à chuva que se repetiu na tarde de quinta-feira e manhã desta sexta.