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BUSCA POR MORADIA

Sobe para 300 o número de famílias que ocupam condomínio residencial em Jaboatão dos Guararapes

Local foi interditado, em 2009

Ocupação começou ainda na madrugada da última segunda-feira (25)Ocupação começou ainda na madrugada da última segunda-feira (25) - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Subiu para 300 o número de famílias que ocupam o condomínio residencial Vila do Mar, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR).

As pessoas chegaram para ocupar o local por volta das 5h da última segunda-feira (24), lideradas pelo Movimento de Luta por Teto, Terra e Trabalho (MLTT). O conjunto foi interditado em 2009 por risco de desabamento. O movimento é composto por pessoas em situação de vulnerabilidade.

A ação acontece pouco menos de um mês após o desabamento de parte do Conjunto Beira-Mar, em Paulista, também na RMR. A tragédia deixou um saldo de 14 mortos e sete feridos.

De acordo com o presidente do MLTT, Davi Lira, mesmo com a interdição de 2009, os prédios oferecem condições para moradia, uma vez que, ainda segundo ele, as instalações não apresentariam rachaduras e a equipe do MLTT tentou contato com autoridades.

"A gente chegou a ligar duas vezes para o Governo do Estado e a Prefeitura [de Jaboatão]. O Governo do Estado vai mandar representantes da CEHAB [Companhia Estadual de Habitação e Obras], hoje, pela parte da tarde, já a Prefeitura não abriu espaço para diálogo e soluções, só fez o contrário, lançando notas pedindo para as famílias se retirarem, mas elas vão para onde, se já vieram de área de risco?", interroga.

O laudo feito pela Prefeitura precisa ser reavaliado, porque não tem detalhes e nem um estudo, de fato, do que foi feito. A gente está contestando esse laudo. Não é válido o que a Prefeitura está fazendo.

O movimento tem nome de local afetado por chuvas, em 2022
A ocupação recebeu o nome de Jardim Monteverde, fazendo alusão ao local mais afetado pelas torrenciais chuvas que caíram sobre Pernambuco, no ano passado, deixando dezenas de mortos e um verdadeiro cenário de guerra.

No local, existem pessoas que moravam no Monteverde e que perderam absolutamente tudo com as tempestades, a exemplo de Rosimere Maria, de 41 anos. Ela tem seis filhos, é mãe solteira e sobrevive com R$ 600 que recebe do Bolsa Família. A ocupante contou à reportagem da Folha de Pernambuco o drama que vive após a tragédia.

"Estas horas que a gente chegou aqui têm sido de limpeza do terreno para poder ocupar, porque está tudo muito sujo. Desde ontem a gente está se organizando e fazendo grupos para limpar os blocos e poder ocupar. Eu perdi a minha casa com o deslizamento de barreira, no Jardim Monteverde. A Prefeitura [de Jaboatão] esteve lá para nos inscrever no Auxílio Moradia, mas até hoje ninguém deu resultado. Apenas pegaram o nome e nada. Eu conheci o movimento [O MLTT] e estou atrás de algo que seja meu, porque hoje eu moro na casa dos outros, de favor, com os meus seis filhos. A gente não quer nada de ninguém. Não viemos aqui para invadir nada de ninguém. Está desocupado, a gente ocupa", explicou.

Moradora de Cajueiro Seco, Simara Alves também está nessa ocupação do Vila do Mar. Ela mora de aluguel, usa o dinheiro que ganha com reciclagem para sustentar os quatro filhos e acredita numa resposta positiva desse movimento.

"Eu pago R$ 300 de aluguel. Eu cato reciclagem. Consigo tirar de R$ 30 a R$ 50, é difícil de tirar esse dinheiro por mês para pagar e comprar alimento. Os meus filhos estudam. Às vezes, eles querem alguma coisa para comer, mas eu não tenho para dar", relata.

Veja as imagens da ocupação

 
O que diz a Prefeitura de Jaboatão?
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, que afirmou, por meio de nota, que mandou uma equipe, na tarde de ontem, ao condomínio para tratar da necessidade de desocupação do local por motivos estruturais, mas não teve autorização para entrar.
 
Confira a nota na íntegra:
 
"Uma comitiva da Prefeitura do Jaboatão, liderada pela Defesa Civil, esteve no Condomínio Vila do Mar, em Piedade, no início da noite desta segunda-feira (24), a fim de conversar com a liderança do movimento que ocupou o edifício, reforçar os riscos da edificação e sensibilizar o grupo sobre a necessidade de desocupação. A equipe da Prefeitura não teve autorização para acessar o condomínio e entregou, pela grade, a documentação referente ao processo judicial que envolve o imóvel e todos os laudos que indicam os riscos. A prefeitura salientou junto ao grupo que compreende a carência de habitação, mas alertou o movimento que a reivindicação por moradia digna não pode colocar em risco a segurança das pessoas."

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