Soldados israelenses interrogaram e despiram pacientes durante incursão militar ao Hospital al-Shifa
Relatos de jornalistas no local descrevem como foi a operação das tropas de Israel no maior hospital da Faixa de Gaza, alvo de ataques nos últimos dias
Antes de se retirarem após cerca de 12 horas de invasão ao maior hospital de Gaza, soldados das tropas israelenses interrogaram e revistaram pacientes no pátio do complexo, enquanto outros palestinos ficaram despidos até a roupa íntima, contaram jornalistas no local.
"Todos os homens com 16 anos ou mais, levantem as mãos", gritou um militar israelense em árabe com sotaque por meio de um megafone para aqueles que buscavam abrigo no Hospital al-Shifa, palco de intensos combates urbanos nos últimos dias, sob alegações de Israel de que o Hamas mantém um centro operacional no subsolo do complexo. "Saiam do prédio em direção ao pátio e se rendam", ordenou o soldado, de acordo com o repórter da AFP que visitou o hospital cercado há vários dias para entrevistas e ficou preso devido aos combates do lado de fora.
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Em seguida, o jornalista relatou que cerca de mil palestinos do sexo masculino, com as mãos levantadas, foram conduzidos para o vasto pátio do hospital, alguns deles revistados por soldados israelenses em busca de armas ou explosivos. Horas depois, ao menos 200 deles permaneceram apenas de roupa íntima, obrigados a ficar ao lado de tanques usados na incursão militar nas instalações médicas.
Enquanto as forças israelenses percorriam os corredores, centenas de homens jovens emergiram de diferentes alas, incluindo da seção de maternidade, que foi atingida em um ataque alguns dias atrás, disse o correspondente.
Os soldados, ele conta, disparavam tiros de aviso ao se movimentarem de sala em sala em busca de membros do Hamas, e, segundo relatos, também estavam revistando mulheres e crianças, algumas das quais estavam chorando. Outras tiveram de passar por um posto equipado com uma câmera de reconhecimento.
O repórter da agência de notícias palestina Wafa, Khader al-Za'anoun, relatou em mensagem de texto para a CNN americana que as forças israelenses "invadiram o hospital com um grande número de soldados e veículos militares, incluindo tanques, veículos blindados, transportadores de tropas e escavadeiras" e estavam impedindo qualquer pessoa de sair.
De acordo com Muhammad Zaqout, alto funcionário da Saúde em Gaza, soldados israelenses entraram primeiro em um departamento de cirurgia antes de assumirem o controle dos departamentos de radiologia e cardiologia, que abrigam unidades de terapia intensiva — embora o Exército de Israel tenha anunciado anteriormente que estava mirando o Hamas "em uma área específica" das instalações.
Até a tarde de quarta-feira, pouco antes do Exército se retirar, os soldados ainda se moviam entre os departamentos do hospital, interrogando pessoas feridas e seus acompanhantes, contou o repórter da AFP. Alguns distribuíam água potável para pessoas deslocadas que buscaram abrigo no hospital durante semanas de guerra.
Os relatos dos interrogatórios correspondem ao que um alto funcionário israelense, falando sob condição de anonimato, disse ao New York Times, acrescentando que armas foram encontradas, embora tenha se recusado a fornecer evidências ou mais detalhes da operação.
Autoridades palestinas, chefes de agências das Nações Unidas e alguns líderes regionais do Oriente Médio condenaram o ataque ao al-Shifa, alertando que colocava em risco a vida dos mais vulneráveis de Gaza.
O Hamas, em seu ataque em 7 de outubro, o pior na História de Israel, matou cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e capturou cerca de 240 reféns, segundo autoridades israelenses. Em Gaza, mais de 11.300 pessoas, também em sua maioria civis, foram mortas em uma intensa campanha de bombardeios e invasão terrestre israelense desde então, segundo autoridades de saúde no território administrado pelo Hamas. (Com AFP e NYT.)