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"Sou diplomata e nada pode me acontecer": frase era usada por cônsul com frequência para intimidar

Em depoimento, testemunha ressalta comportamento intempestivo e arrogante de Uwe Herbert Hahn, acusado de matar o marido

Walter Henri Maximillen Biot e o cônsul da Alemanha Uwe Herbert Hahn eram casados há 23 anosWalter Henri Maximillen Biot e o cônsul da Alemanha Uwe Herbert Hahn eram casados há 23 anos - Foto: Reprodução

O espanhol ameaçado pelo cônsul alemão Uwe Herbert Hahn pelo depoimento prestado sobre a relação do belga Walter Henri Maximillen Biot, morto em 6 de agosto, com o marido, relatou à polícia uma rotina de agressões e indícios de um relacionamento abusivo entre o casal. Ele classificou a postura de Uwe, que se tornou pelo homicídio de Biot, como "extremamente arrogante". E revelou que não era raro ouvi-lo vociferar: "eu sou diplomata e nada pode me acontecer". A opinião sobre o perfil agressivo foi reforçada na terça-feira, após receber mensagens de ameaças enviadas por aplicativo da Alemanha, para onde Uwe voltou.

Proprietário de uma barraca de praia, o espanhol ficou amigo de Walter Biot um mês após chegar ao Rio, em outubro de 2019. Ele conta que, desde então, tinham uma relação próxima, de amigos, sem qualquer tipo de relacionamento sexual ou amoroso, principalmente durante a pandemia. Uwe, aparentemente, não via a relação com bons olhos e fazia questão de não manter contato com o comerciante.

Um programa comum dos amigos era caminhar na Lagoa, o que acontecia durante a semana, de segunda a quinta, quanto Uwe não estava em casa. Nos fins de semana e às sextas, quando o cônsul terminava o expediente mais cedo, o passeio não acontecia. Segundo o espanhol, Uwe não deixava que ele saísse.

Desde que casou com o Uwe, Walter deixou de trabalhar e ficou responsável pelas tarefas do lar. Como passava mais tempo em casa, tinha amigos na região, o que também não era bem visto por Uwe. De acordo com a testemunha, o cônsul tratava essas pessoas com desprezo, assim como fazia questão de menosprezar o companheiro.

Ainda segundo essa testemunha, Uwe era usuário costumaz de cocaína e de cristal, e quem ficava encarregado de comprar as drogas era Walter, que era consumidor esporádico de entorpecentes. O casal também fazia uso frequente de álcool. As brigas entre os dois eram constantes, assim como as humilhações. A testemunha disse ainda que o belga tinha vergonha dos vizinhos devido aos "barracos" que aconteciam no apartamento em Ipanema e que já tinha visto uma porta e uma janela quebradas num desses episódios, assim como potes de comida de vidro quebrados pelo chão.

Cerca de um ano atrás, Walter decidiu se separar e retornou para a Bélgica. Após três meses, voltou para o Brasil e reatou o casamento. Nesse período, o belga recebeu dois terços de uma herança de 600 mil euros. Com independência financeira, teria mudado de postura, passou a sair mais com os amigos e realizar atividades por conta própria. Uwe não gostou desse comportamento, as brigas ficaram mais intensas e o consumo de álcool e drogas mais frenético.

A testemunha relatou que nunca presenciou as agressões, mas que recentemente Walter Biot estava mais recluso e era pouco visto por amigos e vizinhos. Preocupado, o espanhol teria ido até o prédio e interfonado para o amigo, que confessou que não estava bem e aparentava ter ingerido bebida alcoólica. A partir daí, o contato passou a ser feito apenas por mensagens, e Walter não atendia mais as ligações.

O espanhol afirmou ainda que foi ele quem comunicou a morte ao irmão de Walter, Pascal, já que, na versão de Uwe, o belga teria sofrido uma queda e estaria sendo socorrido. Foi quando Pascal lhe confidenciou uma mensagem da vítima dizendo ter sido agredida por Uwe em 17 de julho, e que teve vontade de dar queixa, mas não o fez.

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