Casco de fibra de carbono do submersível Titan tinha sinais de falhas, diz engenheiro
Declarações são de depoimento de Don Kramer, um engenheiro do National Transportation Safety Board (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, em português), agência federal dos EUA que investiga acidentes em transportes civis
O casco de fibra de carbono do Titan, submersível experimental que implodiu a caminho dos destroços do Titanic, tinha imperfeições que datam do processo de fabricação. Além disso, o casco se comportou de maneira diferente após um estrondo alto ser ouvido em um dos mergulhos no ano anterior à tragédia, em 15 de julho de 2022. O submersível implodiu em junho de 2023.
As declarações são de depoimento de Don Kramer, um engenheiro do National Transportation Safety Board (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, em português), agência federal dos EUA que investiga acidentes em transportes civis. Ele prestou depoimento à Guarda Costeira na quarta-feira, 25, onde disse ainda que havia rugas, porosidade e vazios na fibra de carbono usada no casco de pressão do Titan.
Dois tipos diferentes de sensores no submersível registraram o "evento acústico alto", segundo o relato de testemunhas prestados após o mergulho de julho de 2022. Peças do casco recuperadas após a tragédia mostraram uma delaminação substancial das camadas de fibra de carbono, que foram unidas para criar o casco do submersível experimental, afirmou Kramer.
Stockton Rush, cofundador da OceanGate, estava entre as cinco pessoas que morreram quando o submersível implodiu.
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As declarações de Don Kramer foram seguidas pelo depoimento de William Kohnen, um experiente especialista em embarcações desse tipo e integrante chave da Marine Technology Society. Kohnen, que surgiu como um crítico da OceanGate após a implosão, descreveu o desastre como evitável.
Ainda na quarta-feira, Kohnen contestou a ideia de que o Titan não poderia ter sido completamente testado antes do uso devido à sua natureza experimental. Ele também disse que as operações da OceanGate levantaram preocupações entre muitas pessoas na indústria. "Não acho que muitas pessoas tenham dito não a Stockton", disse. Ele descreveu Rush como não receptivo ao escrutínio externo.
As audiências públicas da Guarda Costeira começaram no início deste mês e integram uma investigação especializada sobre o motivo da implosão do submersível. Parte do depoimento concentrou-se na construção de fibra de carbono do submersível, que era incomum. Outro depoente falou sobre a natureza problemática da empresa.
Outra testemunha da quarta-feira, Bart Kemper, da Kemper Engineering Services em Baton Rouge, na Louisiana, falou sobre sua análise do desenvolvimento do submersível OceanGate. Ele expressou preocupação particular sobre a janela do submarino. "Isso é consistente com algo que está no caminho da falha", disse Kemper.
Oficiais da Guarda Costeira citaram no início da audiência que o submersível não tinha passado por uma revisão independente, como é de praxe. Associado a isso, o design incomum do Titan fomentou críticas da comunidade de exploração submarina.
No início da audiência, o ex-diretor de operações da OceanGate, David Lochridge, disse que frequentemente entrava em conflito com Rush e sentia que a empresa estava comprometida apenas com ganhar dinheiro. Lochridge e outras testemunhas anteriores pintaram um quadro de que a empresa estava impaciente para colocar sua embarcação de design não convencional na água.
O acidente desencadeou um debate mundial sobre o futuro da exploração submarina privada. A audiência deve continuar até a próxima sexta-feira, 27, e incluir várias outras testemunhas, algumas das quais estavam intimamente ligadas à OceanGate.
Guillermo Sohnlein, que ajudou a fundar a OceanGate com Rush, disse ao painel da Guarda Costeira na segunda-feira, 23, que esperava um interesse renovado na exploração, incluindo das águas mais profundas do oceano, único lado "positivo" do desastre, segundo disse. Ele acabou deixando a empresa antes do desastre do Titan.
A OceanGate, com sede no estado de Washington, suspendeu suas operações após a implosão. A empresa atualmente não tem funcionários em tempo integral, mas foi representada por um advogado durante a audiência. No último mergulho do submersível em 18 de junho de 2023, a tripulação perdeu contato após uma troca de textos sobre a profundidade e o peso do Titan enquanto descia.
O navio de apoio Polar Prince então enviou mensagens repetidas perguntando se o Titan ainda podia ver o navio em seu display de bordo. Uma das últimas mensagens da tripulação do Titan para o Polar Prince antes da implosão do submersível afirmava "tudo bem aqui", de acordo com uma recriação visual apresentada anteriormente na audiência.
Quando o submersível foi dado como desaparecido, os socorristas enviaram navios, aviões e outros equipamentos para uma área cerca de 700 quilômetros ao sul de St. John's, Newfoundland. Os destroços do Titan foram posteriormente encontrados no fundo do oceano, a cerca de 300 metros da proa do Titanic, segundo oficiais da Guarda Costeira. Ninguém a bordo sobreviveu.