Subordinado de Musk no Doge prestou serviços on-line a grupo ligado a crimes cibernéticos
Apelidado de 'Big Balls', Edward Coristine, de 19 anos, também foi demitido de um estágio em uma empresa de segurança digital acusado de ter vazado dados privados para a concorrência
Em meio à força-tarefa sob comando do bilionário Elon Musk, nomeado pelo presidente americano, Donald Trump, sob o pretexto de revisar os gastos da administração federal em Washington, um integrante chamou atenção do público pelo apelido — e pelo histórico polêmico.
Edward Coristine, de 19 anos, ganhou projeção nas redes sociais e em programas humorísticos americanos pela alcunha escolhida de "Big Balls" ("bolas grandes", em tradução literal). Reportagens investigativas recentes, porém, apontam que o jovem teria mantido elos suspeitos com uma rede de atividades criminosas e com práticas antiéticas desde a adolescência, levantando questionamentos sobre sua qualificação para acessar dados sensíveis a partir de servidores do governo.
Uma investigação publicada nesta quarta-feira pela agência de notícias Reuters aponta que Coristine forneceu serviços de rede e segurança digital a um grupo acusado de realizar crimes cibernéticos, o "EGodly".
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O grupo reivindicou autoria de crimes como roubo de criptomoedas, sequestro de números de telefone e invasão de contas de e-mail — incluindo de autoridades policiais na América Latina e no Leste Europeu, sem especificar quais exatamente. Em um caso conhecido que quebrou a fronteira virtual, o EGodly vazou dados pessoais de um agente do FBI que acreditava fazer parte de uma investigação sobre suas atividades, incluindo seu número de telefone, fotos de sua casa e outros detalhes privados.
Ainda de acordo com a investigação da Reuters, que revisou registros corporativos e digitais e ouviu pessoas ligadas a Coristine, o pupilo de Musk comandou uma empresa chamada DiamondCDN, que forneceu os serviços ao grupo criminoso — que chegou a agradecer publicamente à empresa em uma mensagem no Telegram.
"Estendemos nossa gratidão aos nossos valiosos parceiros DiamondCDN por generosamente nos fornecerem seus incríveis sistemas de proteção DDoS e cache, que nos permitem hospedar e proteger nosso site com segurança", disse a mensagem publicada em fevereiro de 2023.
Essa não é a primeira denúncia que abre questionamentos sobre a reputação de Coristine, que agora tem acesso a alguns dos maiores bancos de dados públicos americanos, com informações pessoais de milhões de cidadãos. Em fevereiro, a Bloomberg noticiou que o jovem foi demitido da empresa de segurança digital onde estagiava no Arizona, a Path Network, após uma investigação interna apontar que ele vazou informações privadas para a concorrência, em 2022.
Em uma publicação feita sob um pseudônimo no Discord, no daquele ano, o jovem disse que acessou todas as máquinas da empresa, mas que não explorou as informações que ali constavam em benefício próprio. Ele alegou também não ter ferido nenhuma obrigação contratual neste caso.
Fontes de segurança ligadas a investigação de crimes cibernéticos ouvidas pela Bloomberg disseram que Coristine, sob os usuários de nomes "Rivage" e "JoeyCrafter", entrou no radar das autoridades em meio a uma investigação sobre um suposto hacker. Coristine, disseram os agentes, trocou mensagens com o alvo da investigação por meio de chats on-line, e inclusive pediu informações sobre um tipo de ferramenta usado em ataques cibernéticos.
"[Estou] Procurando por L7 funcional, poderoso e confiável", escreveu o usuário "JoeyCrafter", que as fontes dizem ser Coristine, referindo-se a um tipo de ataque cibernético que derruba sites com tráfego de internet avassalador. Não está claro se ele adquiriu ou fez uso do método.
Coristine, que também estagiou na Neuralink de Musk de acordo com uma biografia online armazenada em cache, faz parte de um grupo central de funcionários do Doge que estão reunindo conjuntos de dados sobre pessoal, contratos e programas do governo, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Em reuniões na Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês) e na Administração de Serviços Gerais, por exemplo, Coristine e outros colegas discutiram como podem usar esses dados para potencialmente substituir funcionários do governo por inteligência artificial e treinar chatbots para fazer o trabalho.
Em uma publicação na rede social X no mês passado, Musk fez um gesto de aprovação ao jovem funcionário escolhido para a tarefa. "Big Balls é incrível", escreveu. (Com Bloomberg)