Subsecretária da ONU diz que IA é risco em ano de eleições no mundo: "Momento de grande ansiedade"
Em São Paulo para evento G20, Melissa Fleming afirmou que organização tem feito apelo para que big techs criem barreiras de segurança em ferramentas de inteligência artificial
Em evento do G20, em São Paulo, a subsecretária-geral das Nações Unidas para comunicação global, Melissa Fleming, alertou que a disseminação criada por ferramentas de inteligência artificial são um risco adicional em um ano de eleições em mais de 60 países no mundo, incluindo Índia, EUA e Brasil. A ascensão da IA, de acordo com ela, acontece em um cenário em que ainda não existem barreiras de segurança o suficiente para que os eleitores possam identificar o que é real ou não.
Fleming veio ao Brasil para participar de evento paralelo do G20 sobre integridade da informação e combate à desinformação, como parte do Grupo de Trabalho de Economia Digital. Essa é a primeira vez que o tema é endereçado dentro do G20. O encontro conta com a presença de representantes de organismos internacionais, como a Unesco e a OCDE, e também de executivos de big techs, como Google e a OpenAI.
"Estamos conclamando os criadores dessas tecnologias de IA para que criem barreiras de segurança", afirmou a subsecretária da ONU. "Estamos preocupados com isso em várias dimensões. Isso se torna mais ainda mais importante com as eleições e com muitas pessoas indo às urnas sem estarem ainda armadas com a capacidade de identificarem o que é real e o que não é".
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Em discurso na abertura do encontro, a subsecretária da ONU acrescentou que a organização tem tratado do tema com países membros e reuniões de alto nível e que trata-se de um "desafio conjunto" de sociedade civil e governos. Ela afirmou, ainda, que as plataformas estão sendo encorajadas a colocarem marcas e identificarem conteúdos gerados por IA, além de criarem mecanismos para a rápida retirada de deepfakes do ar.
Uma preocupação adicional das Nações Unidas, segundo ela, é a possibilidade da IA generativa, que cria conteúdo, ajudar na criação de organizações de mídia falsa que são alimentadas por conteúdo sintético. Ela acrescentou que a tentativa de manipular eleitores por meio da informação não é um "fenômeno novo", mas que tem se tornado mais sofisticado e preocupante em "todos os cantos do mundo".
"Agora os agentes de informações podem contar com plataformas de criação de IA que podem gerar deepfakes em áudio e vídeo sem deixar rastros. Elas são muito convincentes e tornam mais difícil para jornalistas e checadores de fatos identificá-los", afirmou Fleming, em coletiva de imprensa.
"Momento temoroso"
Além do Brasil, vão às urnas este ano eleitores de países em todos os continentes. Enquanto o mundo acompanha com mais atenção a possível volta ao poder de Donald Trump, nos Estados Unidos, eleitores no Taiwan, Indonésia, Reino Unido, México, África do Sul, Argélia, Mali, República Dominicana e Uruguai, entre outros, irão eleger novos representantes. A estimativa da Bloomberg é que os processos eleitorais afetarão 41% da população global.
No discurso de abertura, a subsecretária acrescentou que as eleições que acontecem este ano são importantes para todas as democracias do mundo e podem "moldar o nosso futuro". Segundo ela, trata-se um momento de "ansiedade" para a organização, que já tem mapeado os efeitos que a desinformação gera para a própria ONU.
"Nós temos eleições no próximo ano que realmente serão importantíssimas para todas as democracias do mundo e que de fato vão moldar o nosso futuro. Tudo isso está acontecendo com a adoção de IA generativa e chats que têm moldado informações, com consequências que ninguém jamais imaginou. É um momento de grande ansiedade. Eu posso dizer que é um momento temeroso".
Na presidência do G20 e do BRICS, e como estado anfitrião da COP 30, que acontece no ano que vem, em Belém, o Brasil espera ter um papel de protagonismo ao endereçar o tema no âmbito internacional. No encontro em São Paulo, o país tem articulado a criação de uma iniciativa global para promover a integridade da informação voltada para as mudanças climáticas em parceria com a ONU e a Unesco e outras organizações internacionais.
No primeiro dia do evento, que acontece terça e quarta-feira, instituições de pesquisa brasileiras, incluindo CAPES, IPEA e CNPq, formalizaram a criação de uma aliança contra a desinformação, com a formação de uma Rede de Pesquisa Científica para investigar o tema.