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INTERNACIONAL

Substituto de candidato assassinado vota com escolta e colete à prova de balas no Equador

Segurança no país foi reforçada para evitar ataques, como os vistos nas últimas semanas; disputa deve ser definida no segundo turno

Candidato Christian Zurita, do EquadorCandidato Christian Zurita, do Equador - Foto: Galo Paguay / AFP

Em uma imagem que traduziu o clima de tensão que envolve as eleições no Equador, o candidato à Presidência Christian Zurita, que substituiu Fernando Villavicencio, assassinado no começo do mês, foi votar usando um colete à prova de balas, e acompanhado por escolta armada.

— São momentos difíceis e obscuros para o país. Vamos defender com determinação o que significa seguir em frente (para o Equador) — disse Zurita a jornalistas, depois de depositar seu voto em uma seção de Quito.

Zurita, um jornalista investigativo e que era um grande amigo de Villavicencio, foi confirmado como o substituto na chapa no domingo passado, e tenta levar adiante a mesma plataforma que o candidato assassinado defendia, fortemente focada na luta anticorrupção. Segundo as pesquisas, ele não está entre os cotados para um eventual segundo turno.

Com o país em estado de exceção desde o dia 10 de agosto, horas depois do assassinato de Villavicencio, as seções eleitorais se tornaram os locais mais vigiados do país. Em Guayaquil, policiais e militares inspecionaram mochilas e usaram detectores de metais dos eleitores, e apenas as pessoas que iriam votar podiam permanecer nos locais de votação. Vendedores ambulantes também foram alocados em áreas pré-determinadas, e várias ruas foram bloqueadas.

De acordo com a polícia equatoriana, 430 pessoas que tinham mandados de prisão foram presas, e foram apreendidas 29 armas de fogo e 36 armas brancas, como facas. Também foram presas 90 pessoas que descumpriram a lei seca, em vigor desde sexta-feira.

No começo da tarde, observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmaram que a votação acontece dentro da normalidade, mas notaram os problemas relatados por equatorianos que votam no exterior. A votação acontece apenas pela internet, sem pontos físicos em embaixadas e consulados. Inicialmente, o Conselho Nacional Eleitoral afirmou que o sistema operava sem problemas, mas ao longo do dia mudou a versão, e reconheceu "dificuldades", especialmente na Europa, Ásia e Oceania. Contudo, o órgão destacou que as questões já foram resolvidas, mas sem detalhar o que deu errado.

A votação deste domingo foi convocada em maio, depois que o presidente Guillermo Lasso invocou a chamada “morte cruzada”, uma medida constitucional extrema e jamais usada até então. Ela destitui o presidente e o Legislativo e determina novas eleições para o cumprimento do restante dos mandatos, que vão até o ano que vem. Com isso, conseguiu evitar sua iminente destituição do cargo através de um impeachment.

Segundo as pesquisas, Luisa González, do Renovação Cidadã e próxima do ex-presidente Rafael Correa, lidera, mas sem um percentual que lhe permita vencer logo no primeiro turno — no Equador, isso acontece quando um candidato consegue mais de 40% dos votos e uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado.

Por isso, a grande questão hoje não é se haverá um segundo turno, mas sim quem estará na nova votação, prevista para o dia 15 de outubro. E nem mesmo a presença de González na votação decisiva está garantida, dizem analistas.

Além de González e de Zurita, estão na disputa o líder indigena Yaku Pérez, candidato nas eleições de 2021, o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner e o nome que vem despontando com força na reta final da campanha, o ex-paraquedista, ex-franco-atirador e milionário Jan Topic, apelidado de “Rambo” por conta de suas propostas duras para a criminalidade.

— Em primeiro lugar: a segurança — gritou Topic ao votar em Guayaquil.

Crise de segurança

Hoje, a violência é considerada um dos grandes problemas do Equador, ao lado da pobreza, que atinge 27% da população. O país não é um produtor ou grande consumidor de drogas, mas vem sendo usado cada vez mais por organizações criminosas internacionais como um ponto de passagem para o transporte de entorpecentes para os Estados Unidos, Europa e Ásia. Neste contexto, o número de homicídios disparou, e disputas entre as quadrilhas, especialmente em presídios, produziram alguns massacres nos últimos anos.

— O problema mais grave é a insegurança. Há muita delinquência, assassinatos, desaparecimentos, estamos assustados — disse à AFP Eva Hurtado, que aguardava sua vez de votar em uma seção de Quito.

A expectativa é de que os resultados só comecem a ser divulgados por volta das 21h locais, 23h em Brasília, mas os números podem levar um pouco mais para sair, especialmente para evitar problemas como os da eleição de 2021. Na ocasião, os primeiros resultados mostravam Yaku Pérez à frente de Guillermo Lasso na briga por uma vaga no segundo turno, a ser disputado com Andrés Arauz, apoiado por Rafael Correa.

Ao final da contagem, Lasso terminou em segundo e foi para a nova votação, que o levaria à Presidência. Yaku Pérez, por sua vez, apontou para uma suposta fraude eleitoral, com o objetivo de tirá-lo do segundo turno. Por semanas, o líder indígena mobilizou multidões para pressionar por uma recontagem, como ocorreu nas eleições de 2017, vencidas por Lenín Moreno. Contudo, a Justiça Eleitoral confirmou o segundo turno entre Lasso e Araúz, deixando Pérez de fora.

Para especialistas, o Conselho Nacional Eleitoral deve divulgar os números apenas quando uma tendência concreta estiver definida, justamente para reduzir a possibilidade de questionamentos, ainda mais em um ambiente carregado como o da votação de domingo. Na prática, isso pode significar uma demora além da esperada.

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