'Super-sobreviventes': por que algumas pessoas sobrevivem a um câncer agressivo?
Estudo internacional vai analisar dados de pacientes para encontrar a resposta e desenvolver novos e melhores tratamentos
Um amplo estudo internacional busca responder uma pergunta que intriga diversos cientistas que estudam os tumores: por que algumas pessoas com tipos agressivos de câncer contrariam as estimativas e conseguem sobreviver por mais tempo? O trabalho é liderado pela empresa francesa Cure51, que analisará amostras de mais de mil pacientes oncológicos que compõem os 3% conhecidos como “super-sobreviventes”.
De acordo com a Cure51, o objetivo é identificar os fatores biológicos que explicam a “sobrevivência excepcional” entre esses indivíduos e, posteriormente, descobrir novos alvos terapêuticos que possam levar a melhores tratamentos, com maiores perspectivas de cura.
Para isso, o foco do estudo é em três tipos de câncer agressivos: câncer de pulmão de pequenas células em estágio avançado, glioblastoma de câncer cerebral e adenocarcinoma ductal pancreático metastático.
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— Não esperamos que as pessoas com esses tipos de câncer vivam além de dois ou três anos, mas cerca de 3 a 5% delas vivem. Sempre ficamos intrigados com o fato de essas pessoas estarem vivas. Há algo no tumor ou na genética delas que realmente facilita o combate a esse câncer? — disse o oncologista consultor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, Thankamma Ajithkumar, ao jornal britânico The Guardian.
A instituição é uma das oito do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS) que receberam o sinal verde para se juntar ao estudo Rosalind, como é chamada a pesquisa, nesta segunda-feira. O trabalho, que já teve início em outras partes da Europa, reúne especialistas de dezenas de centros internacionais.
Para integrar as informações coletadas em cada local, a Cure51 desenvolveu um centro de dados que analisa as características biológicas dos “super-sobreviventes”, como o DNA dos tumores, as proteínas circulantes na corrente sanguínea e outros biomarcadores moleculares que forneçam pistas sobre o porquê de eles terem essa habilidade.
“Na Cure51, estamos fazendo engenharia reversa para a cura do câncer. Aproveitando a tecnologia, os dados e a nossa equipe dedicada de biólogos computacionais, pretendemos descobrir a biologia oculta dos sobreviventes milagrosos para desenvolver terapias que possam um dia tornar o câncer uma doença controlável para todos”, explica Simon Istolainen, diretor de estratégia e rede científica e cofundador da empresa, em comunicado.
Para a gerente de engajamento científico da Cancer Research UK, Hattie Brooks, a iniciativa é importante: “Entender por que os tratamentos podem afetar de forma diferente as pessoas com o mesmo tipo de câncer é importante se quisermos desenvolver formas mais eficazes de combatê-lo”.
O estudo ainda está em estágio inicial de recrutamento dos “super-sobreviventes” para, depois, coletar e analisar seus dados. Ainda assim, Hattie afirma que a perspectiva a longo prazo é que os resultados levem a um cenário de melhores alternativas para um grupo de pacientes que hoje sofre com a falta de terapias eficazes:
“Isso pode permitir que os médicos desenvolvam novas terapias com maior probabilidade de funcionar para pessoas com esses tipos de câncer mais difíceis de tratar, que atualmente têm menos opções. Estudos como esse são especialmente bem-vindos em cânceres nos quais menos pessoas estão sobrevivendo por pelo menos 10 anos”, continua em nota.
Segundo a Sociedade Nacional de Câncer Cerebral dos Estados Unidos, por exemplo, a sobrevida de pacientes com glioblastoma é de apenas oito meses após o diagnóstico. Já para o câncer de pulmão de pequenas células em estágio avançado, a Sociedade Canadense do Câncer diz que o indivíduo geralmente vive de 7 a 11 meses após descobrir a doença.
Em relação ao adenocarcinoma ductal pancreático metastático, a sobrevida dura, em média, de 8 a 11 meses, de acordo com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH).