Logo Folha de Pernambuco

PROJETO POLÊMICO

"Surfe" em ônibus: texto de projeto sofre alterações e retira multa para infrator

Alegando que motoristas poderiam ser penalizados pela lei, grupos da categoria protestaram esta semana

Protesto de rodoviários contra PL que proíbe "surfe" em coletivosProtesto de rodoviários contra PL que proíbe "surfe" em coletivos - Foto: Leonam Souza/Folha de Pernambuco

O texto do projeto de lei que pretende proibir as práticas de "surfe" e "amorcegamento" nos ônibus da Região Metropolitana do Recife (RMR) passou por alterações após protestos de rodoviários. 

Um dos pontos mudados é o que citava, no texto anterior, que os ônibus deveriam ter a circulação vedada enquanto houvesse pessoas praticando o "surfe" e o "amorcegamento". O motorista não poderia seguir viagem enquanto o infrator não se retirasse das partes externas do veículo.

Esse tópico foi um dos que motivou as manifestações dos rodoviários, na segunda-feira (4), no Recife, e na terça-feira (5), em Olinda. A reportagem questionou à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) se o projeto precisará novamente passar pelas comissões da casa e aguarda resposta. 

O novo texto também retirou a parte que previa multa ao infrator, anteriormente de 10 a 100 vezes o valor da tarifa aplicável ao transporte, consideradas as circunstâncias da infração.

O texto anterior citava que:

Constatada a existência de usuário descumprindo o disposto nesta Lei, caberá ao motorista, fiscal ou qualquer outro responsável pelo transporte:

I- solicitar imediatamente ao usuário que interrompa a prática; e
II - caso o usuário não a interrompa, solicitar a intervenção da força policial.

Agora, o novo texto diz que:

Os responsáveis pelos veículos deverão adotar as seguintes providências caso constatem a existência de usuário descumprindo o disposto nesta Lei:

I - convidar o usuário a se retirar do veículo; e
II - caso o usuário não se retire do veículo, solicitar a intervenção policial.

Reunião com o deputado
Membros da Associação de Benefícios Independente dos Rodoviários de Pernambuco (Abirpe) se reuniram com o autor do projeto, o deputado estadual Pastor Júnior Tércio (PP), na terça-feira, para repassar as queixas da categoria.

Essa questão da parada do coletivo diante da infração foi um dos pontos abordados pelo grupo, que faz oposição à atual gestão do Sindicato dos Rodoviários e fechou o TI PE-15 por três horas na terça-feira.

O deputado Pastor Júnior Tércio ressaltou que a parada deve ser feita na presença de autoridade policial e que a multa, também rechaçada pela categoria, não seria aplicada ao profissional, mas à empresa.

"A nossa lei, ela é uma lei que fala dos princípios, é uma lei genérica. Lá no finalzinho, diz que ela será regulamentada pelo Governo do Estado. Mesmo que a lei esteja bem clara que a multa é para a empresa, nós vamos nos comprometer junto com o Governo do Estado de deixar isso bem claro. A multa será da empresa", detalhou o parlamentar. 

O artigo 4º do novo texto do projeto também alterou a questão da multa, antes dada ao infrator e à empresa. O documento agora cita que, numa primeira infração, seria dada uma advertência aos "estabelecimentos que descumprirem o disposto". Em caso de recorrência, a penalidade passaria a ser uma multa fixada entre R$ 1 mil e R$ 100 mil, "de acordo com a natureza e proporção da ocorrência". Valores seriam corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nesse novo texto, o termo "infrator" foi retirado.

Prática do Prática do "surfe" coloca em risco a segurança de quem faz e dos demais passageiros | Foto: WhatsApp/Reprodução

Outras alterações
Na nova redação da lei, também está detalhado que a proibição compreende, além dos coletivos da RMR, outros veículos destinados ao transporte rodoviário, como demais ônibus, vans e autolotações; veículos de transporte aquaviário, como barcos, ferry boats e similares; e ao transporte ferroviário, como trens, metrôs ou VLTs. 

Em 25 de outubro, um homem caiu nos trilhos do Metrô do Recife enquanto praticava o "surfe" ferroviário e precisou ser levado para o Hospital da Restauração.  

O texto agora cita que é "obrigatória a fixação de avisos proibitivos nos locais abrangidos". O cartaz indicado deve ter "indicação do número e data" da lei, possuir "letras legíveis", ter "fácil visualização" e contendo a expressão "É proibido (sic) a prática de surfe e 'morcegamento', sob pena de multa".

Segundo o site da Alepe, o texto foi enviado ao Poder Executivo na tarde de terça-feira.

Sanção ou veto
Questionada sobre o tema, a governadora Raquel Lyra (PSDB) afirmou aguardar parecer da Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco (PGE-PE) para sanção ou veto — o projeto depende dessa decisão da chefe do Executivo estadual para virar lei ou ser rejeitado.

"É claro que é muito importante impedir o que a gente chama de 'surfe' em cima dos ônibus. De fato, não sei como foi dada a questão de responsabilização. Prefiro que o parecer da procuradoria possa vir", argumentou a governadora.

A PGE-PE afirmou que tem um prazo de 15 dias para enviar parecer referente ao projeto de Lei nº 1.366, aprovado em segundo turno na Alepe, na última quarta-feira (30). 

"A solicitação para encaminhamento de parecer foi recebida pela PGE-PE nesta terça-feira (5)", afirmou o órgão, em nota enviada à reportagem.

Antes da aprovação em segundo turno na Alepe, o projeto havia recebido pareceres favoráveis nas cinco comissões pela qual passou: Assuntos Municipais; Administração Pública; Desenvolvimento Econômico e Turismo; Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular; e Segurança Pública e Defesa Social.

Rodoviários divergem
Presidente da Abirpe, Roberto Carlos Torres, que esteve na reunião com o Pastor Júnior Tércio, agradeceu ao parlamentar pelos esclarecimentos.

"Eu quero agradecer ao deputado por nos receber e ouvir a voz do trabalhador referente a essa situação. Com a gente na rua, existe essa preocupação da categoria, mas com o senhor se comprometendo que vai deixar bem claro que o trabalhador não será responsabilizado nem com a questão da multa, nem existir a obrigatoriedade sem a presença do policiamento. Rodoviário não é policial", pontuou. 

Já o Sindicato dos Rodoviários, em publicação no Instagram, criticou a oposição. "Amigos de empresários passaram de vez dos limites. Mudaram de ideia e se aliaram ao deputado autor do PL". A categoria não emitiu posicionamento após a mudança.

O sindicato reclama de possíveis punições aos motoristas diante do "costume" das empresas de "cobrar avarias indevidas". "Sem o veto a essa lei, nada garante que as empresas também repassem a multa ao trabalhador", diz comunicado. 

Os grupos estão em campanha da eleição sindical, marcada para 5 de dezembro.

Veja também

CNE aprova diretriz para educação de autista; veja o que muda e por que proposta teve polêmica
AUTISMO

CNE aprova diretriz para educação de autista; veja o que muda e por que proposta teve polêmica

PF prende estudante suspeito de abuso sexual de criança e maus-tratos a animais
Operação

PF prende estudante suspeito de abuso sexual de criança e maus-tratos a animais

Newsletter