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Pesquisa

SUS, ciência e universidades se valorizam na pandemia, sugere pesquisa

Reitoria da Universidade Federal de PernambucoReitoria da Universidade Federal de Pernambuco - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

A pandemia de Covid-19 fez com que disparasse o número de brasileiros que valorizam o SUS (Sistema Único de Saúde), a ciência, as universidades públicas e os hospitais universitários.

De acordo com pesquisa recente do centro de estudos Sou_Ciência (Sociedade, Universidade e Ciência), antes da chegada do coronavírus, 40% dos brasileiros atribuíam importância altíssima ao SUS. Agora, essa cifra passou para 62%.

Ao mesmo tempo, o percentual dos que dão importância baixa ou baixíssima ao Sistema Único de Saúde caiu de 14% para 9%.
O estudo confirma a percepção de gestores e profissionais da saúde, que já vinham apontando para uma redescoberta do SUS.

O Sou_Ciência, centro de estudos sediado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), entrevistou 1.268 pessoas, respeitando recortes demográficos baseados na Pnad de 2018 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) e no Censo de 2010, ambos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A pesquisa, feita em parceria com o Instituto Idea Big Data, mostrou também uma valorização da ciência, cuja importância era vista como altíssima por 47%, antes da pandemia, e que passou para 70% agora.

O percentual dos que dão importância baixa ou baixíssima para a ciência despencou de 12% para 5%.

A valorização da ciência ocorre mesmo entre os que consideram ótimo ou bom o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), embora o presidente tenha dado inúmeras demonstrações de desapreço pelo método científico.

Segundo Pedro Fiori Arantes, professor de história da arte da Unifesp e um dos coordenadores do Sou_Ciência, o próximo passo da pesquisa é entender melhor esse fenômeno chamado por ele de perfis cruzados. "São os bolsonaristas a favor da ciência e da universidade pública e, do outro lado, temos críticos ao governo que não são favoráveis à ciência e a universidade", afirma.

Para o Arantes, uma possível explicação preliminar para os perfis cruzados seria o fato de os apoiadores do presidente terem maior renda e escolaridade do que a média da população.

Os pesquisadores também coletaram dados relacionados à vacinação contra a Covid-19. Do total de respostas, somente 5,5% disseram que não tomaram nenhuma dose e não pretendem fazê-lo. O resultado é semelhante a pesquisa Datafolha que mostrou adesão recorde às vacinas.

O papel das universidades públicas e dos hospitais universitários foi outro eixo da pesquisa. Nesse caso, o percentual dos que atribuem importância altíssima passou de 42% para 59%.

O Sou_Ciência também questionou os entrevistados sobre a ampliação do número de universidades e institutos federais no país. Pouco mais da metade (52%) disse ser favorável à retomada da expansão da educação superior pública e gratuita e de aumentar esse tipo de investimento. Uma fatia minoritária (8%) defendeu privatizar as universidades e/ou cobrar mensalidade, além de reduzir o investimento no setor.

Para Soraya Smaili, ex-reitora da Unifesp e uma das coordenadoras do Sou_Ciência, o aumento da confiança no SUS, nas universidades públicas e na ciência brasileira estão interligados. Segundo ela, o Brasil conta com 40 hospitais universitários que compõem uma rede decisiva de atendimento durante a pandemia e que causou grande impacto em como as pessoas enxergam a saúde pública.

"As nossas universidades tiveram um papel fundamental na promoção da saúde, na realização de exames para diagnósticos, na produção de pesquisas clínicas para novos tratamentos e também na obtenção das vacinas contra a Covid-19", diz.

A política de cotas raciais foi outro ponto abordado na pesquisa. Pouco menos da metade dos entrevistados (44%) disse ser a favor da continuidade dessa política pública, enquanto 19% defendem seu cancelamento.

Outro ponto que os pesquisadores investigaram foi o meio utilizado quando os entrevistados buscam informação confiável sobre pandemia, prevenção, tratamento e vacinas. Televisão aberta (44%), mídias sociais (39%) e revistas e jornais (35%) foram as mais indicadas em pergunta com múltiplas respostas possíveis.

Pedro Fiori Arantes afirma que esse dado mostra que, mesmo com as redes sociais, a mídia tradicional ainda é vista como a mais segura e confiável para grande parcela da população.

Comunicações oficiais do governo federal (27%) e das instâncias estaduais e municipais (31%) aparecem um pouco atrás. Pronunciamentos oficiais de Bolsonaro foram apontados como fontes confiáveis de informação por 9% dos entrevistados.

Sites de institutos de pesquisas e universidades foram indicados por 32%.

"Essa informação é promissora, no sentido de que a população está disposta a ouvir e procurar informações nas universidades, mas existe uma desigualdade enorme [no acesso a esses canais] entre pessoas de maior renda e instrução e aquelas de renda baixa e com menor instrução", afirma Arantes, que vê o grande desafio da ciência brasileira conseguir ser mais acessível para maior parcela da população.

"É importante que as universidades e os cientistas tenham canais instituídos, de ampla divulgação e mais reconhecidos", afirma Arantes.

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