Atentado

Suspeito de esfaquear Salman Rushdie se declara inocente de tentativa de homicídio

Juiz determina que suspeito continue detido, sem direito a fiança, e ele deverá comparecer perante o tribunal em 7 de setembro

Hadi Matar já havia se declarado inocente durante uma audiência processualHadi Matar já havia se declarado inocente durante uma audiência processual - Foto: Andela Weiss / AFP

O suspeito de esfaquear o escritor britânico Salman Rushdie se declarou inocente nesta quinta-feira (18) das acusações de tentativa de homicídio e agressão, em uma audiência em um tribunal no norte do estado de Nova York.

Hadi Matar, de 24 anos, reiterou, por meio de seu advogado, sua declaração de inocência das acusações que enfrenta por supostamente invadir o palco de um evento literário na sexta-feira (12), na cidade de Chautauqua e esfaquear Rushdie várias vezes no pescoço e no abdômen. 

Preso logo em seguida, o suspeito já havia se declarado inocente durante uma audiência processual no sábado. O juiz ordenou mantê-lo detido sem direito a fiança e ele deverá comparecer perante o tribunal em 7 de setembro.

Com a cabeça baixa, Matar vestia um uniforme prisional com listras pretas e brancas na audiência, que atraiu um grande número de jornalistas.  

Depois do ataque na sexta, Rushdie foi transportado por via aérea até um hospital próximo para uma cirurgia de urgência. Seu estado segue grave, mas ele mostrou sinais de melhora e foi retirado do respirador.

Ele pode pegar até 25 anos de prisão por tentativa de homicídio e até sete anos por agressão. O juiz decidiu mantê-lo preso, sem possibilidade de fiança.

Na audiência anterior, os promotores chamaram o ataque de premeditado.

O advogado de Matar, Nathaniel Barone, enfatizou nesta quinta-feira que seu cliente tem direito a um "julgamento justo" e respeito pela "presunção de inocência".


"Surpreso"

Matar não disse se teve como motivação o decreto religioso ('fatwa') emitido em 1989 pelo então líder supremo iraniano, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que convocou os muçulmanos a matar Rushdie alegando que a obra "Os Versos Satânicos" blasfemava o Alcorão e o profeta Maomé.

Ao New York Post, Matar expressou seu "respeito" pelo falecido Khomeini e sua desprezo por Rushdie.

"Não gosto da pessoa. Não acho que seja uma boa pessoa", declarou ao jornal ao falar de Rushdie. "É alguém que atacou o Islã, atacou suas crenças, seus sistemas de crenças", completou Matar, que considerou o escritor um "hipócrita" após assistir a alguns de seus vídeos no YouTube.

A mãe de Matar disse que seu filho voltou "mudado" e mais religioso de uma viagem de 2018 ao país de sua família, o Líbano, de acordo com declarações ao site Daily Mail na segunda-feira.

Em uma entrevista publicada na quarta-feira pelo New York Post, que afirma tê-lo contatado na prisão, Matar disse estar "surpreso" por Rushdie ter sobrevivido.

Após o ataque, o escritor de 75 anos foi levado de helicóptero para um hospital próximo para uma cirurgia de emergência. Seu estado continua grave, mas Rushdie mostrou sinais de melhora e já não respira com ajuda de aparelhos.


Proteção policial

Rushdie, nascido em 1947 na Índia em uma família de intelectuais muçulmanos não praticantes e enviado ao Reino Unido para estudar quando jovem, provocou raiva em parte do mundo muçulmano com a publicação em 1988 de "Os Versos Satânicos".

Após a fatwa de 1989 ordenada pelo aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica, Rushdie viveu por anos sob proteção policial. O decreto nunca foi retirado e vários tradutores do escritor foram atacados.

Rushdie se mudou para Nova York há duas décadas e se tornou um cidadão americano em 2016. Apesar da contínua ameaça contra sua vida, o escritor era cada vez mais visto em público, muitas vezes sem uma operação de segurança visível.

Em entrevista à revista alemã Stern dias antes do ataque, o escritor descreveu como sua vida voltou a ter algum grau de normalidade depois de se mudar do Reino Unido.

Na segunda-feira, após dias de silêncio, o Irã negou "categoricamente" qualquer participação no ataque, e culpou o próprio escritor pelo ocorrido, acusando-o de "insultar" o Islã em sua obra.

"Neste ataque, somente Rushdie e seus apoiadores merecem ser culpabilizados ou até condenados", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Naser Kanani.

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, descreveu a postura do Irã como "desprezível".

A polícia e os promotores deram poucas informações sobre os antecedentes de Matar ou a motivação para o ataque.

Matar tem previsto comparecer novamente ao tribunal em 7 de setembro.

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