Talibã vai proibir mulheres de praticar esportes no Afeganistão
A informação foi dada por um dos chefes da comissão cultural do grupo fundamentalista
Em mais um sinal de suas promessas de moderação são para ocidental ver, o Talibã disse nesta quarta (8) que mulheres não poderão praticar esportes "nos quais elas sejam expostas".
A informação foi dada por um dos chefes da comissão cultural do grupo fundamentalista, que retomou o poder no Afeganistão no dia 15 de agosto e acaba de formar um governo provisório, em entrevista a rede australiana SBS.
"Eu não acho que mulheres poderão jogar críquete porque não há necessidade para isso", disse Ahmadullah Wasiq.
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"No críquete, elas podem enfrentar uma situação em que seu rosto e corpo não estará coberto, e o Islã não permite que mulheres sejam vistas assim. O Emirado [como o grupo chama seu governo] não permite mulheres a jogar críquete ou quaisquer esportes nos quais elas sejam expostas", completou.
A entrevista versava sobre críquete, que é bastante popular no país –o próprio Talibã permitiu na sexta (3) a realização de um jogo, algo que não fazia quando governava o país com mão de ferro de 1996 a 2001, até ser expulso do poder pela invasão americana encerrada no dia 30 de setembro.
Não houve nenhum decreto formal sobre isso, mas o comentário vai em linha com o anúncio do novo governo afegão, feito pelo Talibã na terça (7): radicais de velha guarda ocupam boa parte dos cargos, sem nenhuma presença feminina.
O Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício, a temida polícia política dos anos do Talibã 1.0, foi recriado. Não está claro com quais poderes, em especial num momento em que cresce a suspeita externa sobre o discurso dos extremistas de que agora seria tudo diferente e que haveria mais liberdade.
Tudo dentro de um escopo da sharia, a lei islâmica que o Talibã segue de forma literal, como se vivesse na Idade Média.
O fato de que sua face relativamente mais cosmopolita, o mulá Abdul Ghani Baradar, não ficou com a chefia principal do governo do líder supremo Hibatullah Akhundzada, sugere que o grupo enfim não mudou tanto.
Nos anos talibãs, quando o abrigo dado a Osama bin Laden durante a preparação do 11 de Setembro causou a derrubada do grupo pelas mãos ocidentais, mulheres eram relegadas a papéis domésticos –não podiam estudar e raramente tinham atendimento médico.
Agora, o Talibã liberou o estudo, desde que separado de homens. Desde quinta (2), há protestos pontuais de mulheres em Cabul e outras cidades, a maioria sendo dispersado com mais ou menos violência.
O ministro do Interior do novo governo, responsável pela segurança interna, é um terrorista com um prêmio de US$ 10 milhões na cabeça posto pelos EUA, Sirajuddin Haqqani.
Os EUA, que vêm sendo fustigados pelos rivais China e Rússia devido tanto à ocupação quanto pela retirada desastrada do país asiático, seguem tentando encontrar uma resposta coerente à questão acerca de seu relacionamento com o Talibã.
A área militar do governo já disse que poderá cooperar contra inimigos comuns, como o grupo terrorista Estado Islâmico. Nesta quarta, o secretário de Estado, Antony Blinken, chegou à Alemanha para debater com seu colega Heiko Maas o tema.
Ambos querem que as decisões sobre Afeganistão saiam de um colegiado de 20 países com interesses na região, dentro da esfera ocidental. Do lado de lá, China, Rússia, Irã e outros países farão uma reunião nos dias 16 e 17 para debater sua resposta –Pequim lidera o movimento de aceitação dos talibãs.
Ainda assim, ante os movimentos iniciais do grupo no poder, a chancelaria chinesa reiterou nesta quarta que o Talibã precisaria "ouvir mais", numa sinalização de que seu apoio é condicional –quanto mais um eventual reconhecimento diplomático.
A União Europeia foi na mesma linha, embora ambos mantenham a esperança de que a necessidade por fundos para governar possa moderar os fundamentalistas na prática.
Sem inimigos internos relevantes depois da virtual subjugação do vale rebelde do Panjshir, o Talibã pode até namorar a ideia de se fechar, mas isso parece de fato muito difícil.
Em Abu Dhabi, o ex-presidente afegão Ashraf Ghani pediu desculpas também nesta quarta por ter fugido de Cabul quando as tropas talibãs cercaram a cidade.
"É com profundo pesar que meu próprio capítulo terminou com uma tragédia similar a de meus antecessores, sem garantir a estabilidade ou a prosperidade do Afeganistão. Peço desculpas", disse.