'Te amo para sempre': sem participar de funeral, viúva de Navalny presta homenagem em redes sociais
Yulia Navalnaya, que tem feito discursos duros contra o governo de Vladimir Putin, evitou o tom político no texto, publicado enquanto o ativista era sepultado em Moscou
No dia em que o ativista russo Alexei Navalny foi sepultado em um cemitério de Moscou, duas semanas depois de morrer em uma prisão de segurança máxima no Ártico, a viúva dele, Yulia Navalnaya, prestou uma homenagem em redes sociais, sem adotar o mesmo tom duro contra o Kremlin, visto desde a confirmação da morte do líder opositor. Vivendo na Alemanha, ela corre o risco de ser presa caso retorne à Rússia.
"Lyosha (apelido carinhoso para Alexei), obrigada por 26 anos de absoluta felicidade. Sim, mesmo os últimos três dias de felicidade. Obrigada por seu amor, por sempre me apoiar, por me fazer rir mesmo da prisão, pelo fato de que você sempre pensou em mim. Não sei como viver sem você, mas tentarei sempre tentar me fazer feliz por você, e orgulhosa de mim. Não sei se conseguirei, mas tentarei", escreveu Yulia. "Com certeza nos encontraremos um dia. Eu tenho tantas histórias não contadas para você, e tenho tantas músicas salvas para você no meu telefone, estúpidas e engraçadas, em geral, para ser sincera, músicas terríveis, mas são sobre nós, e eu realmente queria deixar você ouvir para eles. E eu realmente queria ver você ouvi-los, rir e depois me abraçar. Te amo para sempre. Descanse em paz."
Anteriormente uma figura que não frequentava tanto as câmeras e entrevistas, Yulia Navalnaya passou a ser a principal voz em defesa do legado do marido apos sua morte, no dia 16 de fevereiro. Horas depois do anúncio oficial, mas ainda sem a confirmação de aliados e amigos, ela deu declarações durante a Conferência de Segurança de Munique, uma reunião reservada a especialistas em segurança, lideranças políticas e diplomatas de alto escalão:
— Pensei: será que deveria estar aqui diante de vocês ou voltar para meus filhos? Então pensei: o que Alexei teria feito em meu lugar? E tenho a certeza de que ele estaria aqui nesse palco — afirmou, diante de presidentes, primeiros-ministros e chanceleres. — Eu gostaria que Putin, todo seu pessoal, todo seu entorno, todo seu governo, seus amigos, saibam que serão punidos pelo que fizeram ao nosso país, à minha família e ao meu marido. Comparecerão diante da Justiça e esse dia chegará em breve.
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Com a demora das autoridades prisionais russas em liberar o corpo de Navalny, ela elevou o tom: em um vídeo, na semana passada, disse que o presidente Vladimir Putin "o torturou em vida, e contiua o torturando após sua morte" e que "fazia pouco dos restos mortais" do ativista.
— Nenhum cristão poderia fazer o que Putin está fazendo com o corpo de Alexei — disse. — O que você vai fazer com o corpo dele? O quão baixo você vai afundar para perturbar o homem que você assassinou? Sabíamos que a fé de Putin era falsa, mas agora vemos isso mais claramente do que antes.
Na quarta-feira, agora diante do Parlamento Europeu, ela disse que Alexei Navalny, que cumpria quase 20 anos de prisão por "extremismo", trazia consigo a esperança de uma Rússia livre e voltada para o futuro, e voltou a atacar Putin — o líder russo jamais menciona o nome de Navalny em público.
— Putin é capaz de qualquer coisa, e vocês não podem negociar com ele — disse aos parlamentares. — Se vocês realmente querem derrotar Putin, devem ser inovadores. Vocês não podem atingir Putin com outra resolução ou outros pacotes de sanções que são diferentes dos demais. Vocês não estão lidando com um político, mas com um mafioso sangrento.
Antes do funeral desta sexta-feira em Marino, um distrito de Moscou, ninguém sabia se Navalnaya estaria na cerimônia, como estiveram os pais do ativista. Nos bastidores, aliados do oposicionista temiam que ela fosse presa pelas autoridades, embora não haja nenhuma ordem de detenção emitida contra ela. No final, ela, que vive fora da Rússia, não apareceu, e evitou usar um tom político na mensagem publicada ao marido nas redes sociais. Recentemente, a rede RT, financiada pelo governo russo, sugeriu que ela seria presa caso pisasse no país, sem detalhar os motivos.
Além das palavras, um vídeo mostrou fotos dos dois, além de imagens discursos do ativista e de suas idas ao tribunal, sonorizado com a música "Hochesh'?" ("Você quer?"), da cantora Zemfira, uma das mais populares da Rússia — ela deixou o país depois do início da guerra, se tornando uma das mais vocais ativistas contra o Kremlin. Uma canção cujos primeiros versos são alguns dos mais conhecidos e tocantes do rock moderno russo.
"Por favor, não morra. Ou eu terei que ir logo depois de você. Você certamente vai para o paraíso. Mas não sei se irei logo depois de você."